O embate entre representantes do Vale com o governo do Estado tem um novo capítulo neste fim de semana. Mobilizações nas praças de Encantado e de Cruzeiro do Sul prometem reunir pelo menos mil pessoas em cada um dos atos.
A contrariedade do setor produtivo, de representantes políticos e das comunidades vizinhas aos polos de pedágio não é suficiente para mudar a decisão do Estado. O secretário estadual de Parcerias, Leonardo Busatto, realça o entendimento de que o formato apresentado é o mais adequado para o momento.
Essa afirmação ocorreu em entrevista nessa sexta-feira à Rádio A Hora 102.9, durante o programa Frente e Verso. De acordo com ele, todos os procedimentos legais, de consulta pública e debate com os segmentos da sociedade foram cumpridos.
Visão diferente de alguns líderes locais. “O Estado foi muito habilidoso. Primeiro queria publicar o edital em setembro passado. Foram feitas as audiências, abriu-se a consulta pública. Reviu o plano e ficou em silêncio por três meses”, relembra o presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale (Codevat), Luciano Moresco.
Esse tempo esfriou a mobilização, acredita. “Para apresentar os resultados, em vez de chamar o setor produtivo, os conselhos, o governo buscou os prefeitos. Buscou apoio político e convenceu alguns dos gestores.”
Na visão de Moresco, essa estratégia do Estado foi de enaltecer as obras, os investimentos, sem analisar efeitos colaterais. “O governo gaúcho chamou os prefeitos pois tinha algo a oferecer para acalmá-los. Distribuiu promessas de recursos do Avançar e obteve sucesso.”
O vereador de Encantado, um dos organizadores da mobilização em Palmas, Cris Costa (PSDB) destaca a participação da comunidade. De acordo com ele, há pelo menos mil confirmados. Outro parlamentar da cidade envolvido nas manifestações e morador da localidade de Palmas, Joel Bottoni (PSDB), realça o sentimento dos vizinhos.
“Há uma frustração geral. As pessoas se sentiram desrespeitadas. São 23 anos de pedágio aqui, o que traz impactos na comunidade. Agora o Estado publica um novo plano para agradar duas ou três cidades. Há um medo geral que se repita os fracassos das outras concessões.”
Na outra praça da região, em Cruzeiro do Sul, a crítica principal é pelo fim das isenções. São cerca de 600 moradores das comunidades próximas, em especial de Boa Esperança. O vereador, Isidoro Weschenfelder (Progressistas), integra a organização do ato. “A população vai pagar muito caro por esse pedágio”, frisa. As manifestações estão marcadas de forma simultânea das 9h ao meio-dia.
Região contrapõe argumentos do Estado
A leitura de que houve um amplo debate, de que é o melhor momento à concessão e que as críticas estão contaminadas pelo ambiente político são rechaçadas pelo setor produtivo. A Associação Comercial e Industrial de Encantado (Aci-E) inclusive contratou especialistas em engenharia para avaliar os detalhes do plano dos pedágios.
“As declarações do Estado não nos surpreendem. Mas o secretário está equivocado por esse senso de oportunidade. Isso nos preocupa, pois mostra que o governo gaúcho não está atento ao que o Vale tem dito”, diz o presidente Álex Herold.
A estratégia do setor produtivo é auxiliar nas manifestações e também buscar a Justiça para a suspensão da concorrência. “Sabemos da importância da concessão para melhorias na infraestrutura. Mas não concordamos com esse modelo do Estado.”
Com relação ao apontamento político, Herold é enfático: “somos uma instituição apartidária e mantemos nossa posição. Estamos abertos para o diálogo, para negociar com o Estado. Nunca fomos ouvidos pelo governador.”
Para o presidente da Câmara da Indústria e Comércio da região (CIC-VT), Ivandro Rosa, o Estado havia se comprometido em excluir o Vale se não houvesse consenso. “O secretário admitiu que há muita contrariedade e mesmo assim descumpre o que afirmou, de que se a região optasse por aguardar, isso seria respeitado.”
Sem bloqueio, adverte a PRE
Comandante dos pelotões da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) na região, o tenente Márcio Fontoura da Silveira, adverte para a proibição do bloqueio da rodovia. “Vamos estar com reforço de efetivo nos protestos, para garantir a segurança tanto dos manifestantes quanto dos motoristas. Agora, não podemos permitir qualquer bloqueio no trânsito”. Em caso de descumprimento, os manifestantes flagrados podem ser autuados, adverte o oficial.
Ainda assim, a perspectiva é de atos sem ocorrências graves. Inclusive o sargento da PRE de Cruzeiro do Sul, Éderson Barbosa Soares, relembra que em outras manifestações sempre houve entendimento por parte da comunidade. “Temos como característica pessoas ordeiras e pacíficas. Houve protestos em outros momentos, sem nenhum problema. Vamos auxiliar da melhor forma, orientar as pessoas sobre o que é permitido e o que não é.”