Turismo industrial: conceito voltado à troca de experiências

EDUCAÇÃO

Turismo industrial: conceito voltado à troca de experiências

Acadêmicos do Vale conhecem projetos e estruturas de grandes marcas de São Paulo. Visita guiada em indústrias surge como oportunidade de conhecimento e alternativa turística

Turismo industrial: conceito voltado à troca de experiências
Fruki prepara retomada de visitação. Antes da pandemia, empresa recebia em média 5 mil visitantes ao ano (Foto: Divulgação)
Vale do Taquari

A vocação nos negócios e em atrair visitantes abre novas oportunidades à região. Um segmento pouco difundido, o turismo industrial, ganha perspectivas a partir de modelos já consolidados em outras regiões do país. Durante roteiro no polo industrial de São Bernardo do Campo (SP), estudantes da Univates conheceram esta realidade e trazem as experiências aos empreendimentos locais.

A partir da vivência dos acadêmicos, a região amplia o debate sobre o potencial em mais um segmento do turismo. A diversidade industrial e os processos inovadores reforçam as condições do Vale despontar nesta área. Como desafio, a disponibilidade dos gestores dedicarem tempo e o interesse em compartilhar suas técnicas de produção.

Na percepção do professor Gabriel Braido, é uma alternativa importante para divulgar a região, gerar conhecimento e promover os negócios locais. No entanto, avalia que ainda faltam incentivos e o engajamento do setor produtivo. “No caso de São Bernardo do Campo, o governo municipal criou um programa onde organiza essa visitação às indústrias. É um projeto que surgiu em 2013 e proporcionou mais de 70 mil visitas”, detalha Braido.

Além da visitação às empresas, o propósito do turismo industrial é fazer com que outros segmentos do turismo sejam beneficiados, como é o caso da rede hoteleira e restaurantes. “O projeto em São Paulo começou por uma cidade, mas diante do sucesso avançou para toda uma região, que não tinha viés turístico e apenas de produção”, observa o coordenador do curso de Administração da Univates.

Braido destaca ainda, que o turismo industrial abre outras oportunidades. A modalidade tem relação direta com a imagem da marca e aproxima a empresa com o público consumidor. Além dos estudantes, há o interesse por empresários e representantes de entidades em conhecerem processos de produção, tecnologia e estrutura das indústrias.

Estudantes da Univates conheceram o polo industrial de São Bernardo (Foto: Divulgação)

Experiência da Fruki

A pandemia interrompeu um processo importante na Fruki, em Lajeado. A empresa recebia em média cinco mil visitantes por ano. Na maioria das vezes grupos de escolas da região e acadêmicos de diferentes universidades do RS.

“Queremos retomar esse projeto de forma gradativa. Hoje não temos como receber tantas pessoas por conta das restrições impostas pela covid”, destaca a CEO da indústria de bebidas, Aline Eggers Bagatini.
Ainda conforme Aline, o grande desafio é se estruturar para receber as visitas. “É necessário ter uma equipe preparada, treinada e com dedicação quase que exclusiva para visitantes, com conhecimento sobre os mais diversos temas e assuntos.”

Ela reitera também que ter roteiros definidos e adotar todos os cuidados precisam de uma atenção em especial com a segurança. “O Vale tem diversas empresas muito interessantes para se conhecer, com histórias lindas e processos muito estruturados”, reforça Aline.

Cultura regional

A vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Cintia Agostini, acredita que ainda é preciso consolidar a perspectiva do turismo regional antes de avançar para um segmento específico.

“Hoje se faz muito a visita técnica em determinada empresa, mas o conceito do turismo industrial é muito mais que isso.” Cintia percebe nos aspectos culturais, do empresário abrir a empresa para visitação, um dos maiores desafios.

Vai demorar para o Vale desenvolver esta modalidade, acredita. “As indústrias daqui não foram preparadas para essa abertura, diferente do que ocorre em São Paulo. A temática ainda precisa ser melhor debatida.”

ENTREVISTA | Gabriel Machado Braido, doutor em Administração

“A experiência em São Paulo fez perceber o potencial do Vale”

O coordenador do curso de Administração da Univates integrou comitiva que levou 21 estudantes para vivências de gestão em empresas em São Bernardo do Campo (SP). O grupo visitou as instalações da Mercedes-Benz Brasil e outras indústrias que integram o projeto de turismo industrial criado em 2013 pelo governo local.

A Hora – O que é o turismo industrial e como se aplica?
Gabriel Braido – É uma forma das empresas divulgarem seus produtos e serviços, gerar conhecimento e contribuir com o desenvolvimento de uma região. É uma modalidade onde as indústrias recebem grupos, seja de estudantes, ou pessoas interessadas em conhecer mais sobre determinado empreendimento.

– Como foi a experiência em São Bernardo do Campo (SP) e o que faz refletir sobre o Vale?
Braido – O programa criado mobiliza o município que não tem uma tradição no turismo. É uma cidade voltada à produção industrial. Lá tivemos a oportunidade de conhecer os processos de multinacionais, acompanhar de perto a montagem de veículos automatizados e os diferenciais da indústria 4.0. Isso tudo mostra o quanto nossa região tem potencial para o turismo industrial. Temos muito por mostrar ao mundo e gerar valor a partir destas oportunidades.

– A região está pronta para o turismo industrial?
Braido – É uma modalidade do turismo que não requer muita estrutura. Basta organizar essa rotina de visitas. Conhecemos indústrias que tinham um ambiente mais elaborado para os visitantes, mas outras mais simples. O que objetivo de quem vai conhecer esses locais é pela história e o que é feito ali. No fim, tem ainda quem encaminhe o visitante para um ambiente onde são comercializados produtos.

– Como o Vale pode avançar nesta modalidade turística?
Braido – Acredito que é fundamental o apoio do Poder Público. Em São Bernardo do Campo, o governo criou um setor específico que faz essa gestão e organiza as agendas para visitação nas indústrias. Algo que começou em apenas uma cidade já incentivou outros projetos.


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