O ambiente favorável às concessões, argumento usado pelo secretário de Parcerias, Leonardo Busatto, para justificar a continuidade do processo de transferência das rodovias do bloco 2 à iniciativa privada, causa discordância entre organizações regionais, em especial no setor produtivo.
Em Encantado, a promessa é de mobilização. Há duas estratégias em debate: o ingresso na Justiça para pedir a suspensão do pacote; até mesmo protestos com o bloqueio de rodovias. Desde o anúncio da publicação do edital de concorrência feito na manhã dessa terça-feira pelo governador Ranolfo Viera Jr., o sentimento de insatisfação com o formato cresce entre os líderes locais.
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Esse movimento parte de diferentes representações locais. Há integrantes das câmaras da Indústria e Comércio, Conselho de Desenvolvimento, empresários e dos governos municipais da microrregião do Alto Taquari.
O prefeito de Encantado, Jonas Calvi, também alerta para os riscos da concessão ser mantida. De acordo com ele, o município permanece com uma posição contrária e pretende buscar apoio dos agentes políticos das demais cidades pertencentes ao G-18. “Essa postura do Estado unificou ainda mais os prefeitos”, afirma.
A expectativa do Estado para o bloco 2, onde estão trechos regionais das ERSs 128, 129, 130 e 453, é lançar o edital entre esta ou a próxima semana.
Setor produtivo será prejudicado, diz Aci-E
O grupo de trabalho formado pela Associação Comercial e Industrial de Encantado (Aci-E) para estudar o pacote de concessões se reuniu ontem. “O governo do Estado não mudou em nada algo que favorecesse as nossas demandas. O setor produtivo de Encantado será muito prejudicado”, diz o presidente da entidade, Alex Herold.
Tanto o local da praça, na localidade de Palmas, o preço da tarifa (teto de R$ 9,72 naquele ponto e de R$ 9,20 em Cruzeiro do Sul) e o pouco retorno em obras na parte alta são três aspectos base para o posicionamento contrário das organizações locais.
“O fluxo de veículos não sustenta o plano de obras. Mostramos nossos estudos ao governo. Manter esse processo é totalmente inoportuno.” Para Herold, o modelo prejudica as empresas locais, tanto com aumento nos custos logísticos quanto à atração de novos investimentos.
Junto com isso, os projetos de investimento na microrregião trazem ainda mais descontentamento. “Municípios da parte central ficaram com o maior volume de obras”, argumenta.
“Nosso sentimento é de desânimo”
Presidente do Conselho de Administração da Dália Alimentos, Gilberto Piccinini, adverte sobre para os impactos das novas tarifas nos negócios. “Estamos faz 15 anos preocupados com pedágios. Fizemos tudo o que é possível, mostramos o cenário, tentamos mobilizar e não houve sensibilidade do governo.”
Com a decisão anunciada pelo Piratini, Piccinini acredita haver pouca margem para reversão. “Agora temos de cuidar dos nossos negócios, reforçar nossas posições por meio dos líderes e das entidades representativas. De fato, nosso sentimento é de desânimo”, resume.
Com relação aos custos à cooperativa, argumenta que a tabulação das despesas com pedágios na praça de Encantado passou a ser feita de maneira interna. Ainda assim, pelo indicativo do novo formado, haveria um aumento considerável.
“É um custo adicional que não teremos como repassar ao consumidor. Vamos avaliar esse cenário e se não houver condições de manter a sustentabilidade, podemos inclusive passar a investir fora do Rio Grande do Sul.”
Estado garante diálogo
O secretário de Parcerias, Leonardo Busatto, argumenta que refazer os estudos neste momento traria ainda mais aumentos às tarifas. “O estudo parte de valores já defasados. Se fizéssemos agora, o pedágio já passaria dos R$ 10. Isso traria uma redução no fluxo de veículos e dificuldade em cumprir as metas financeiras.”
De acordo com ele, tendo o resultado do leilão é possível se reunir com a empresa e fazer um rearranjo em termos de obras prioritárias e prazos. “A partir das informações do deságio, podemos renegociar os investimentos, inclusive com antecipação de obras”, destaca.
Cronograma para o leilão
- O edital deve ser publicado entre esta e a próxima semana;
- Pelos prazos legais, o leilão na Bolsa de Valores de São Paulo ocorreria entre o fim de agosto e início de setembro;
- Com o resultado, inicia-se o processo de homologação;
- Cumprido o trâmite, a assinatura do contrato seria no fim do ano;
- Isso possibilitaria que a vencedora assumisse os pedágios no primeiro trimestre de 2023.
Resumo da notícia
- Decisão do Estado em manter pacote dos pedágios causa reação;
- Na microrregião de Encantado, representantes empresariais, da comunidade e autoridades políticas organizam manifestações;
- Ingresso na Justiça para suspender o leilão e protestos nas rodovias são parte do debate no grupo;
- Entidades empresariais alertam para isolamento da parte alta e perda de competitividade às empresas locais.
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