As mutações no mundo do trabalho provocadas pela imersão tecnológica trazem novas exigências para empresas e profissionais. Tanto que a edição 2022 do Mapa do Trabalho Industrial aponta uma reversão na demanda por mão de obra. Conhecimento sobre análise de dados, gestão de pessoas, vendas e comunicação, ganham posições, deixando setores administrativos, financeiros e até a engenharia civil mais para trás.
A pesquisa feita pelo Observatório da Indústria do Trabalho Industrial considera dados nacionais e estaduais. No RS, até 2025 será preciso qualificar 758 mil pessoas em funções do setor produtivo. Destes, 149 mil com formação de base, para repor inativos e preencher novas vagas.
Para o gerente da unidade regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Jerry Hibner, há uma constante adaptação do setor, tanto na forma de trabalhar quando no planejamento e na interação com o mercado.
De acordo com ele, o trabalhador de hoje tem que ter um equilíbrio entre capacidade técnica e qualidades individuais. “Percebemos que a indústria espera um profissional com sólida formação e com competências comportamentais, busca contínua pelo aprendizado e capacidade de trabalhar em ambientes virtuais.”
O Mapa é elaborado a partir de cenários sobre o comportamento da economia, projetando o impacto sobre o mercado de trabalho e serve como parâmetro para o planejamento da oferta de cursos do Senai.
Alta rotatividade
“Temos carências desde a operação até as funções mais especializadas. O profissional qualificado está inflacionado no mercado. Para conseguir reforçar, por vezes é preciso tirar ele de outro trabalho”, diz a diretora da Gota Limpa, Camile Bertolini Di Giglio.
A indústria do segmento de higiene e limpeza gera 270 empregos diretos. Nas atividades básicas, os candidatos têm dificuldade em se adaptar ou querer fazer parte da empresa. “Parece que os gostos pessoais são maiores do que a vontade de fazer o que é preciso no trabalho. Há uma desconexão entre oportunidades oferecidas e o interesse das pessoas.”
Como resultado, há muita rotatividade. “Investimos tempo no treinamento das pessoas e por vezes elas ficam um mês ou até menos. Isso traz dificuldades para a empresa. No fim, não conseguimos atingir objetivos de produtividade.”
Rumo da mão de obra no Vale
Pesquisa “Rumo – O futuro da mão de obra na região”, contratada pelo Grupo A Hora, foi publicada no fim de abril e tem como objetivo conhecer as percepções sobre o novo mercado de trabalho e sobre o tipo de qualificação necessário para atender a demanda dos empresários locais.
Para a coordenadora dos cursos técnicos da Univates, Edi Fassini, a pesquisa Rumo é um marco na leitura do mercado regional, pois reúne dados numéricos e percepções do empresariado e dos estudantes.
“Isso merece análises coletivas das instituições formadoras de profissionais, de aceleradoras de inovação, de gestores públicos e inclusive dos entrevistados.”
Na avaliação dela, assim como quem orienta e forma profissionais precisa repensar currículos e formatos, também quem emprega precisa revisitar processos internos de comunicação. “As pessoas buscam trabalho que faça sentido, que apresente um propósito. A alma do negócio não pode ser segredo”, avalia.
ENTREVISTA | Edi Fassini, coordenadora dos cursos técnicos da Univates
“As pessoas precisam ser encorajadas para aprender”
A Hora – O que o Mapa do Trabalho Industrial mostra sobre o avanço tecnológico nas produções? No que esses dados contribuem para o trabalhador?
Edi Fassini – As empresas que não conseguem dar um salto de inovação estão sendo engolidas. Com a interconexão de diferentes setores, se potencializa o resultado da produção, com menos perdas, com maior correção de processos.
A mudança nos processos internos e a necessidade do uso de novas tecnologias demandam clara comunicação e oportunidades de formação das equipes. As pessoas precisam ser encorajadas para aprender.
Ler, se informar, estudar, fazer cursos, conversar com quem sabe um pouco mais, se aperfeiçoar. Ambidestria é mais importante do que especialização restrita. Para isso precisa ser disponível e aberto à aprendizagem diária.
Além do conhecimento específico, quais outras qualidades são importantes para o trabalhador?
Edi – Buscar sempre mais agilidade e desenvoltura no uso das tecnologias, que oferecem multi caminhos para chegar à solução das dificuldades. Quanto mais a gente mergulha nas tecnologias, mais insights se desenvolve. Na comunicação oral, o processo é parecido: quanto mais a gente se arrisca a falar, mostrar sua opinião, mais rapidamente a nossa comunicação se torna mais efetiva.
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