Safra de pinhão repete baixa produtividade

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Safra de pinhão repete baixa produtividade

Emater confirma cenário de quebra na produção que se estende desde 2019. Escassez de chuva e extração precoce são apontados como fatores prejudiciais ao desenvolvimento das araucárias. Menor oferta eleva preço do pinhão a R$ 12 por quilo

Safra de pinhão repete baixa produtividade
Menor oferta do pinhão mantém preço elevado. Produto é vendido em tenda às margens da ERS-130, em Lajeado, por R$ 12 o quilo

Estiagem e falta de consciência ambiental comprometem mais uma safra de pinhão. A constatação é da Emater/RS-Ascar ao avaliar as condições das araucárias e projetar a produtividade das plantas. O volume extraído este ano deve se equiparar a 2021, com até 40% a menos comparado à média histórica da produção gaúcha de 800 toneladas. Desse total, o Vale é responsável por 10%.

A maior área de extração é nas cidades na região alta, a exemplo, de Arvorezinha, Ilópolis e Boqueirão do Leão. Por normativa de órgãos ambientais, durante os meses de abril, maio e junho é proibido o corte da espécie nativa. A colheita do pinhão também é regrada desde 1976 e torna prática ilegal a extração da semente antes de 15 de abril.

A legislação tem por objetivo manter o equilíbrio da espécie, além de garantir alimento para animais e aves. O pinhão comercializado fora do período indicado pelas autoridades ambientais, também oferece risco à saúde, por não seguir o prazo correto de maturação.

De acordo com o engenheiro florestal, Álvaro José Mallmann, a extração da semente sem o devido processo de cura, concentra mais umidade e alto índice de toxicidade por fungos. “Ingerir o pinhão ainda com o aspecto verde pode trazer reações ao organismo.” Mesmo permitida a venda somente a partir da segunda quinzena de abril, o produto já era encontrado em tendas desde março.

Considerado alimento típico dos gaúchos, o pinhão também faz parte das festividades, que se adaptaram ao período de maior disponibilidade da semente. “As tradicionais festas juninas são um exemplo desse aproveitamento e valorização de produtos locais.”

Com o consumo em alta e menor disponibilidade, o preço também permanece elevado. Pesquisas em mercados e ambulantes apontam para o valor médio de R$ 12 por quilo. No mesmo período em 2018, o custo ao consumidor era de R$ 4,30.

Efeitos da estiagem

A sequência de anos com escassez de chuva reflete nas condições das araucárias e capacidade de produção. Por ser uma planta para locais de altitude superior a 600 metros do nível do mar, a infiltração e dispersão da água ocorre de forma mais rápida, com isso, prejudicou a formação das pinhas.

Na avaliação de Mallmann o problema é cíclico. “Percebemos essa variação de produtividade em média a cada três anos. Isso também ocorre no clima, temos períodos de excesso de chuva e outros com estiagem severa”, observa.

Para ampliar a resistência e tornar o pinheiro produtivo em menos tempo, pesquisadores da Embrapa sugerem o enxerto. A técnica consiste em extrair partes de plantas mais produtivas e anexar em exemplares de menor desempenho.

Pinhão no Vale: 48 toneladas é a estimativa de colheita; R$ 12 preço médio por quilo; 40% de quebra na produtividade

Sob risco de extinção

A extração fora dos critérios legais e falta de investimentos no cultivo reduziu de forma expressiva a área ocupada com pinheiros. A colheita do pinhão fora de época também é um fator que compromete a árvore.
Embora seja uma planta rústica, a quebra de galhos e uso de ferramentas para derrubar pinhas levam ao estresse e afetam o desenvolvimento. “A maior exploração do pinhão ocasiona a falta de matéria-prima para perpetuação da espécie”, avalia Mallmann.

Há tratativas para reverter este cenário, com a certificação ambiental de agroflorestas, o que permite conciliar outras espécies em um ambiente de produção. Além disso, organizações buscam a conscientização dos produtores para evitar a eliminação de plantas novas.

Alternativa de renda

Embora a extração de pinhão não seja a principal atividade de famílias no Vale do Taquari, a prática permite dinheiro extra durante três meses. É dessa forma que o produtor rural Gilmar Back, 49, de Boqueirão do Leão, complementa o orçamento familiar.

Mesmo com menor disponibilidade, pretende colher pelo menos 200 quilos de pinhão. O volume se equipara ao ano passado, mas fica abaixo de outras safras quando chegou a comercializar 400 quilos. “A venda é feita de forma direta por R$ 7 o quilo.”

Em Lajeado, às margens da rodovia ERS-130, o autônomo Fernando Ricardo Watte aposta no pinhão como principal produto da época. Na tenda, também oferece vinho, lenha e batata. “O movimento varia muito, mas em média vendo 50 quilos por semana. O pacote de quilo custa R$ 12.”

Dicas

• Conserve em ambientes frios e, de preferência, acondicionado em embalagem vedada;
• Na geladeira, o prazo de validade é de dois a três meses;
• No congelador, o produto pode ser consumido em até seis meses.

Curiosidades

• A araucária é nativa da região sul do país e começa a produzir frutos a partir de 10 anos;
• Cada araucária gera de 60 a cem pinhas;
• Para produzir, são necessárias as araucárias masculinas, responsáveis pelo pólen, e femininas, que geram as pinhas;
• Uma pinha tem, em média, 200 pinhões e pesa cerca de três quilos.


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