Pelas mãos da comunidade de Daltro Filho, em Imigrante, nasceu um espetáculo conhecido por todo o RS. Na primeira edição, em 2006, a ideia era atrair visitantes para o turismo religioso e, com a interpretação de atores voluntários, surgiu o primeiro espetáculo da Paixão de Cristo no município. Este ano, a peça, que conta a história da Via Sacra, volta a atrair visitantes na 16ª edição.
O cenário é o Convento Franciscano São Boaventura e as apresentações serão nesta sexta-feira e no sábado. A Orquestra Jovem e a Orquestra Municipal de Imigrante abrem a programação às 19h15min, com entrada gratuita. O teatro é às 20h e, em caso de chuva, será transferido para o outro fim de semana.
Das arquibancadas ou em cadeiras de praia, entre 3 e 4 mil pessoas costumam assistir ao espetáculo dirigido por Pablo Capalonga, à frente do projeto há quatro anos. Com a pandemia, 2020 não teve apresentação, e a peça retornou em 2021, de forma virtual.
“Nestas últimas edições, tanto a dramaturgia quanto a direção são minhas e me envolvo de forma plena. Durante este período simplesmente mergulho no projeto”, destaca o diretor. Ele conta que, muitas vezes, acorda durante a noite, lembra de algo importante sobre o espetáculo e escreve para não esquecer.
Este ano, foram dois meses e meio de preparação. Os ensaios foram no próprio convento e na área externa, onde o palco é montado. Segundo Capalonga, as cenas são criadas de forma separada e, mais tarde, agrupadas para compor o roteiro. Depois, o espetáculo é gravado em estúdio, para que o som não seja um problema no dia da apresentação.
Todo ano, o diretor procura inovar. Assim, um novo espetáculo pode ser esperado pela comunidade a cada edição. Desta vez, a peça não segue uma linha cronológica, mas caminha de trás para frente, e com cenas intercaladas.
Muitos personagens bíblicos que tiveram contato com Jesus também são incluídos na história. “Todos esses cenários de Jesus nos momentos derradeiros são focados na empatia e humanidade que ele tinha com as pessoas, e acaba se tornando um momento menos doloroso e mais esperançoso”, acredita Capalonga.
Seis vezes como Jesus
Os atores são pessoas da comunidade que se prepararam em anos anteriores com oficinas de teatro. Por isso, experiência não falta para os agricultores, professores, empresários, bancários ou cozinheiros que doam seu tempo para atuar.
No elenco, entre mais de 70 pessoas, está o cervejeiro Alex Possamai, 32, conhecido por interpretar Jesus. Ele participa do espetáculo desde a 3ª edição. No início, fez papéis como Lázaro e mercadores. Até que, em 2015, foi convidado para ser o protagonista da encenação.
Esta é a 6ª vez que interpreta Jesus, o ator que esteve mais vezes à frente do papel no espetáculo. “É sempre uma responsabilidade muito grande. Mas ter o apoio do grupo e da comunidade me faz perceber que estou no caminho certo, e isso é muito importante”, conta.
Todos os anos, a preparação dele já começa muito antes do espetáculo, já que precisa deixar o cabelo e a barba crescer para a interpretação. “A gente nunca sabe quem vai ser o diretor, todo ano é uma surpresa. Nunca tenho a certeza se no próximo ano vou interpretar novamente, mas já vou preparado”, ressalta.

Paula, que participa do evento desde a primeira edição, agora conta com a companhia do marido para subir ao palco. Neste ano, ela vai interpretar Maria Madalena.
Desde a 1ª edição
É difícil encontrar um personagem da Paixão de Cristo que Paula Fassini Frozza, 30, ainda não tenha interpretado. Ela participa do espetáculo desde a primeira edição e só não atuou no último ano. Nesse tempo, já deu vida a Maria, mãe de Jesus, a uma samaritana, Verônica e até mesmo uma das Odaliscas que trabalhava para Pilatos. Agora, ela interpretará Maria Madalena.
Paula encara as apresentações de Páscoa na comunidade como uma oportunidade de fazer aquilo que ama desde os tempos de escola. Além do mais, essa não é uma peça qualquer: o palco, ao livre, é maior do que um teatro convencional, o que permite que a plateia também participe em maior número.
A comunidade toda se mobiliza para o espetáculo. Conforme Paula, é comum encontrar famílias no elenco. É o que acontece com ela e o marido, Rodrigo Basegio Andrade, que participa do evento há dois anos. “No início ele ia só me acompanhar. Hoje, assim como eu, também adora se apresentar”, afirma.
Por trás das coxias
Quem não vai aos palcos ajuda com a maquiagem ou na organização. “A gente tem um rodízio entre os atores, mas dentro da comunidade não existe essa diferenciação. Tratamos todos iguais, com o mesmo carinho e a mesma importância no espetáculo”, destaca Paula. É assim que os ensaios se tornam um encontro.
Cada apresentação é única, mas com um sentimento em comum: o nervosismo do elenco nas vésperas da apresentação. “Como é ao ar livre, ficamos um pouco ansiosas, torcendo para que dê tudo certo e para que o tempo colabore. É muito gratificante, vale a pena todo trabalho voluntário e dedicação que a gente tem para o momento de apresentação”, completa Paula.
Pelo Vale
Em Encantado, a comunidade Santo Agostinho também organiza o seu espetáculo. A apresentação ocorre na sexta-feira, dia 15, depois da Procissão da Luz, que parte da Igreja Matriz, às 19h. O espetáculo está programado para iniciar às 20h, na Comunidade Santo Agostinho. Assim como em Imigrante, todos os atores são membros da comunidade.
O Cenário da Lagoa, aos fundos da Igreja São Vedelino, é o local escolhido para o tradicional espetáculo da Paixão de Cristo, em Arroio do Meio. O evento ocorre dia 15, e começa com a apresentação da orquestra da cidade, às 19h. A encenação começa às 20h. O evento é dirigido por Paulo Roberto Haas, responsável pelo Departamento Municipal da Cultura.
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