“Concorrência predatória” traz instabilidade às transportadoras

Logística

“Concorrência predatória” traz instabilidade às transportadoras

Em meio ao aumento nos custos do frete, nem mesmo a nova tabela da ANTT garante equilíbrio financeiro. Empresas preferem cobrar menos do que perder clientes. Setcergs afirma que este é o pior momento em 30 anos para o setor

“Concorrência predatória” traz instabilidade às transportadoras
Crédito: Filipe Faleiro

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) reajustou a tabela do piso mínimo do frete rodoviário de cargas entre 11% a 14%. Apesar da revisão, empresas e motoristas autônomos preferem reduzir margem de lucro do que repassar o custo para os clientes.

“Há uma desunião que prejudica todo o setor”, resume o diretor de uma empresa de Lajeado, Leonício Schüssler. Sem preço de referência, há uma competição predatória, em que o serviço passa a ser comandado pela contratante. “Ocorre um leilão. O embarcador oferece um preço, se você não aceitar, vai para outro transportador.”

Como consequência, a tabela base da ANTT se torna apenas um formalismo e faz com que haja ainda mais desequilíbrio sobre o custo do serviço, aponta Schussler. Segundo o empresário, o setor enfrenta um dos piores momentos.

Para conseguir manter os processos, a empresa estabeleceu um mínimo de 4,5% de lucro para cada operação. Hoje a empresa atua em quatro estados, os três do sul mais São Paulo. São mais de mil funcionários divididos em 48 unidades. “Estamos tendo de trabalhar muito mais para ter um resultado perto do que tínhamos em 2019.”

O reajuste de 24,9% no diesel traz como efeito um aumento de no mínimo 8,7% no custo do transporte, conforme levantamento da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logística).

Conforme o Conselho Nacional de Estudos em Transporte, Custo, Tarifas e Mercado (Conet) da associação, antes mesmo do aumento definido pela Petrobras, a subida dos insumos indicava a necessidade de uma alta de 18,5% nas cargas fracionadas (quando um veículo transporta mais de um produto) e 27,6% na carga lotação (carga única que preenche todo o veículo).

No cálculo com o custo do diesel, esse percentual deveria subir para 28,9% (carga fracionada) e 38,8% (carga única).

Pior cenário em 30 anos

O vice-presidente do Setcergs e empresário do ramo, Diego Tomasi, afirma: “o momento é o mais delicado dos últimos 30 anos”. De acordo com ele, três fatores ajudam a explicar as dificuldades.

Começa pelo diesel, com o preço do litro acima dos R$ 6. Passa pelo preço dos caminhões, com uma elevação de até 70% no custo nos últimos dois anos. Por fim, o baixo preço do frete aliado a redução na demanda por transporte. “Temos uma tempestade perfeita. Só o diesel representa de 35 a 50% do custo de operação”, diz.

Quebra de paradigma

Conforme Tomasi, a tabela da ANTT fornece uma referência para o setor. “Cabe a cada empresa negociar. Inclusive há rotas em que as empresas oferecem preços acima da referência.”

Na análise dele, há uma mudança em curso dentro dos métodos aplicados pelos transportadores. Em vez de o embarcador fazer a oferta de quanto está disposto a pagar, é o prestador do serviço de logística que precisa indicar o necessário para cobrir os custos da operação, com um frete correto e com algum faturamento.

“Um dos problemas que sempre existiu é o transportador não saber o custo por quilômetro rodado e propor o frete. Não é mais o embarcador que define é quem vai transportar.” Para Tomasi, o desconhecimento dos caminhoneiros sobre aspectos ligados à gestão e custos causa o desequilíbrio no sistema.

“Muitas vezes o motorista tira o frete de outro não para boicotar, para criar uma competição predatória, mas por não saber calcular suas despesas.” Neste aspecto, a solução é evoluir em administração e gestão do negócio, diz.

“Não há mágica. O segredo é encontrar soluções criativas. Conhecer na ponta do lápis as despesas e cobrir o custo de operação.” Junto com isso, Tomasi realça a necessidade de racionalização nos deslocamentos. “Hoje, mais do que nunca, é importante ter uma carga na ida e outra na volta. Caminhão vazio é prejuízo.”


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