Quatro estratégias estão no centro do combate contra o transmissor da dengue. Tudo começa pela identificação dos focos do aedes aegytpi. Em seguida, as larvas vão para o laboratório. Com a confirmação, um raio de 150 metros do ponto de proliferação passa a ser monitorado. Na sequência, são feitas as visitas às residências. Por fim, parte-se para a aplicação de inseticida.
Entre junho e julho do ano passado, servidores das vigilâncias epidemiológicas conheciam a realidade de infestação e já alertavam para o risco de surto da doença. Algo que se confirma nestes primeiros três meses de 2022.
Conforme o boletim semanal da dengue na região da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), são 414 casos da doença confirmados. Deste total, 396 são autóctones (95,6% de transmissão interna). Existe ainda 482 casos suspeitos.
Na comparação com a sexta-feira passada, o crescimento no número de casos supera os 110%. Também aumentou o número de cidades com pessoas infectadas. Eram nove e agora a doença está presente em 13.
O coordenador da 16ª CRS, Edegar Cerbaro, destaca essa informação quanto a presença do mosquito. Para ele, os setores públicos, as secretarias de saúde e as vigilâncias precisam adotar estratégias pontuais para tentar controlar a proliferação.
Em outra ponta, frisa a necessidade de conscientização das comunidades. “Essa é uma luta de todos. A responsabilidade precisa ser dividida.” De acordo com a Coordenadoria de Saúde, os casos de dengue são notificados em todos os meses do ano, com aumento durante a sazonalidade da doença, entre os meses de novembro a maio.
Pelo acompanhamento da Fundação Getúlio Vargas e da Fiocruz, os três estados do sul estão entre as principais áreas de atenção. Tanto que o Ministério da Saúde aponta para um grande risco do país enfrentar uma epidemia de dengue neste ano.
Total de casos é maior
A tabulação dos dados da 16ª CRS e da própria Secretaria Estadual de Saúde é feita pelos relatórios municipais. Há um atraso nesse processo, pois os laudos laboratoriais chegam primeiro às cidades para depois serem informados ao Estado (confira no infográfico ao lado).
Tanto que na apuração direta com as cidades, o cálculo apresenta mais contaminações do que o boletim semanal da coordenadoria. A reportagem contatou todas as cidades que estão no mapa da dengue na região. Pela apuração paralela, feita até as 16h dessa sexta-feira, são 526 pacientes diagnosticados com a doença, 112 a mais do que o informado pela 16ªCRS.
Linha de frente contra o mosquito
Nesta semana, a reportagem acompanhou o trabalho da vigilância epidemiológica de Lajeado nas quatro estratégias de combate ao transmissor da dengue.
Aplicação de inseticida
Duas horas antes do sol nascer e quando ele começa a se pôr. Esses são os horários recomendados para aplicação de inseticida nos bairros com maior número de infecções, pois também são as condições mais propícias para reduzir o risco de intoxicação de animais domésticos e da população.
Nesta quarta-feira, o local escolhido foi as imediações do presídio estadual de Lajeado. No trabalho estava a agente de endemias Jamily Cereza. “Sabíamos que haveria contaminações desde o ano passado. Mas o grau de contágio é muito preocupante. Agora que a covid-19 perde força, estamos diante de outra doença.”
Há poucas garantias de efetividade nesta aplicação. Há uma estimativa de que o composto químico mate no máximo 20% dos mosquitos adultos, sem qualquer efeito sobre as larvas do inseto. “A aplicação é mais um dos trabalhos. Mas todos eles precisam também do comprometimento da sociedade. Evitar a propagação do mosquito é uma responsabilidade de todos”, frisa Jamily.
Identificação das larvas
A agente de endemia que atua no laboratório, Francieli da Rosa, analisa as coletas feitas nos bairros e residências de Lajeado. Pelo microscópio, analisa cada larva. Em um tubo, são até dez. Em média, a servidora consegue analisar até 100 tubos em uma hora. “Tudo depende de como são as larvas. Se forem mais escuras, precisam de mais cuidado para a vistoria.”
Neste primeiro teste, se identifica a espécie do mosquito. No entanto, não é possível saber se existe ou na a presença do vírus da dengue. Para detalhar essa informação, o ovo do inseto deve ser enviado para um laboratório especializado. “A presença do vetor serve de alerta. Se trata do primeiro passo para confirmação da presença da dengue.”
Quando o aedes aegypti é identificado, o morador da residência recebe um ofício sobre a presença da larva na residência. A partir disto ele tem um prazo de dez dias para terminar com os focos. Caso isso não ocorra até a segunda visita, autoridades policiais e epidemiológicas retornam e o morador pode ser autuado.
Nestes primeiros três meses, a Secretaria da Saúde, pela Vigilância Ambiental, notificou 338 residências de Lajeado com confirmação de presença de de larvas do vetor da dengue.
De porta em porta
Lajeado tem dez agentes de endemias. Os servidores se dividem para visitar os 27 bairros do município. Neste momento, priorizam os pontos onde há mais focos e contaminações. De casa em casa, a agente de controle de endemias Julianne Farias conversa e orienta a população.
As visitas são divididas por quarteirões. “Existem quadras menores, onde conseguimos contato com muitos moradores. Em outros, não achamos ninguém em casa.”
Quando algum agente é direcionado para as visitas, precisa tabular cada visita e transmitir à vigilância. Quando o morador não é encontrado, os agentes indicam uma pendência e precisarão voltar em outra oportunidade.
Caso o morador recuse a entrada na casa, a informação também integra a planilha. Se rejeitar três vezes, a vigilância informa a polícia e a vistoria ocorre com ou sem a permissão do morador. “Se trata de uma questão de saúde pública”, ressalta Julianne.
Quando a casa está abandonada e apresenta alguma suspeita de que possa haver criadouro de mosquitos, começa a procura pelo dono do imóvel. “É obrigação do proprietário cuidar do pátio e da residência.”
Atendimento ao público
Por telefone ou presencial, a coordenadora do setor de Vigilância Ambiental, Catiana Lanius, é uma das que atende o público. De acordo com ela, todos os dias chegam suspeitas de focos do mosquito. Esse trabalho conta com o apoio dos agentes comunitários de saúde.
Os contatos de possíveis criadouros, diz Catiana, por vezes são em locais com vegetação alta, córregos e arroios. “Esses locais não são criadouros do Aedes aegypti. A larva se prolifera em água parada, de preferência limpa”, esclarece.
Conhecimento científico:
• A dengue é uma doença febril aguda transmitida
por mosquito com mais incidência no mundo;
• Comum em países tropicais e subtropicais, onde as condições
ambientais favorecem a proliferação do aedes aegytpi e albopictus;
• Hoje são conhecidos quatro sorotipos. A imunidade
é permanente para o mesmo tipo de vírus;
• Porém, a imunidade cruzadas (para outras derivações)
é temporária por dois a três meses;
• Período de incubação no organismo varia de quatro a dez dias;
• A larva do mosquito pode sobreviver no solo por até um ano e meio;
Sintomas e gravidade
• Na maioria dos casos, a primeira manifestação é a febre alta
(39º a 40ºC), acompanhada de dor de cabeça, nas articulações,
nos músculos, dor atrás dos olhos, falta de apetite, náuseas
e vômitos estão entre os sintomas mais comuns;
• Observa-se também aumento e sensibilidade do
fígado após alguns dias de febre;
• A maioria dos pacientes começam a se recuperar da
infecção de 7 a 10 dias após o início dos sintomas;
• Fatores de risco individuais determinam a gravidade. Idade, etinicidade
e comorbidades (asma, diabetes, anemia) são alguns destes;
• A dengue grave também é observada em crianças e em bebês;
• Sangramento de mucosa ou outras hemorragias;
• Não há transmissão da mulher grávida para o feto, mas a infecção
por dengue pode levar a mãe a abortar ou ter um parto prematuro
• Gestantes estão mais suscetíveis a desenvolver o quadro grave da doença;