A presença do mosquito em todos os bairros de Lajeado e o crescimento acentuado nos contágios por dengue confirmam o surto da doença no município. É o que afirma a coordenadora epidemiológica, Juliana Demarchi.
Conforme dados atualizados às 14h de ontem, na semana passada eram 62 casos comprovados por exame laboratorial e agora está em 113. “Ao que tudo indica, teremos um crescimento exponencial dos contágios nos próximos dias”, estima.
Essa perspectiva considera a procura por atendimento. De acordo com ela, há mais de 500 casos notificados de pessoas com suspeita da doença. Deste total, há 350 amostras em análise, seja pelo resultado do exame ou término da investigação clínica.
“São números muito significativos. Quase dobramos os casos confirmados e triplicamos as notificações”, resume. De acordo com a coordenadora epidemiológica, os locais com maior incidência são o Florestal e o Bom Pastor. Mas também há confirmações no Montanha, Conventos, São Cristóvão e Centro.
Hoje a 16ª Coordenadoria Regional de Saúde emite mais um boletim epidemiológico. O responsável pelo órgão Edegar Cerbaro diz que há um risco iminente de um surto generalizado pelo Vale do Taquari, em especial nas cidades mais urbanizadas. “A situação é muito preocupante. Pelos dados prévios, teremos um contágio exponencial nas próximas semanas.”
Já são mais de 176 contágios por dengue no Vale do Taquari. Além de Lajeado, há confirmações em Arroio do Meio (46), Colinas (15), Teutônia, Progresso e Santa Clara do Sul (1 cada).
Situação de emergência
Caso o número de contágios siga em evolução nas próximas semanas, há chance de Lajeado decretar situação de emergência devido a dengue. “Pela população e pelos casos confirmados, ainda não temos um indicador para sustentar a emergência. Mas é um assunto em debate e pode acontecer,” diz Juliana.
Diante da disseminação da doença e da presença do mosquito, a vigilância epidemiológica e ambiental mantém o monitoramento tanto dos pacientes quanto dos locais com focos do inseto. “Temos o controle em tempo real do vetor da doença. As pessoas também precisam se conscientizar, o mosquito está na nossa casa”, frisa.
Junto com isso, a equipe visita residências e orienta os moradores sobre os cuidados necessários para eliminar criadouros do Aedes Aegypti. Todos os dias, no início da manhã ou no fim da tarde, há aplicação de inseticidas nos bairros com mais casos.
Pelo acompanhamento, o município não tem nenhuma morte pela doença. Também nenhum óbito dos casos suspeitos. Do total de pacientes, há seis internados.
No RS, há um município em situação de emergência. Rodeio Bonito, na região do Médio Alto Uruguai, cidade com pouco mais de 5 mil habitantes. Pelo informativo epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde, dos mais de 300 casos confirmados, 89% são casos autóctones.
Dez agentes para uma situação inédita
Lajeado tem dez agentes ligados a vigilância ambiental e epidemiológica. O município prepara contratação emergencial para duplicar o total de servidores. “Trabalhamos para nos próximos dias ter esse reforço”, frisa Juliana.
Segundo ela, há um debate no âmbito da administração pública para efetivar o total de 20 agentes. Lajeado monitora os focos do mosquito transmissor desde 2016, quando foi confirmada a presença das larvas.
Nestes seis anos, o município enfrenta a maior alta de registros autóctones. “Nunca passamos por isso. Ano passados tivemos os primeiros casos autóctones. Mas foram isolados”, compara.
Covid-19, gripe ou dengue
Febre, dor no corpo e cansaço estão presentes nas três doenças. “Como os sintomas iniciais são muito semelhantes, o médico faz o diagnóstico diferencial, entre dengue e covid”, diz o coordenador administrativo da UPA, Alex Vaz Borba.
Em seguida, é feito o teste rápido para covid e um chamado “prova do laço”, que a critério médico é feito para indicar se é ou não dengue. Nos últimos dez dias, a média de atendimentos na UPA chega a 290 consultas por dia. Deste total, cerca de 20 são de suspeitos de dengue.
Na tarde de ontem, por volta das 17h, haviam três pacientes com o quadro sintomático da doença. Entre eles, um jovem de Conventos, que prefere não se identificar. “Nunca senti tanta fraqueza. Começou na segunda-feira, com uma febre de 40ºC. Eu delirava.”
“Achei que fosse morrer”
A proprietária de um estacionamento no centro de Lajeado, Nilve Hofstatter, contraiu a dengue em maio do ano passado. “Primeiro achei que era covid. Fiz o teste, deu negativo e eu ruim. Me sentindo muito mal. Refiz o teste, e negativo de novo. O médico estranhou. Pensou que era uma virose.”
Foram sete dias de exames, testes e consultas. “E eu só no soro. Não conseguia comer nada. Tudo doía”. Com a confirmação, após exame laboratorial, foram mais quatro dias de sintomas. “Eu não tinha forças para me virar na cama. Achei que fosse morrer.”
Com o aumento dos casos em Lajeado, Nilve faz um alerta: “só quem passou por isso sabe o que é. Nunca mais quero adoecer desse jeito. O poder público, as pessoas, precisam se organizar para matar com esse mosquito. Eu só não fui porque estava forte. Se fosse alguém debilitado, não iria resistir.”
Sintomas semelhantes
Os pacientes chegam para atendimento nos postos ou na UPA e relatam sintomas parecidos. Ministério da Saúde destaca as diferenças entre covid-19, gripe e dengue.
Covid-19
Os casos mais comuns apresentam: dores de cabeça e no peito, febre, tosse, diarreia, perda de olfato e paladar, dor de garganta, mal-estar, coriza e falta de ar.
Gripe
Febre, dores no corpo e na cabeça, tosse (maioria das vezes seca), congestão nasal, dor de garganta e coriza. Há casos em que também ocorre indisposição estomacal.
Dengue
Fadiga, febre alta de forma súbita, dores nas articulações, manchas vermelhas no corpo, dor atrás dos olhos, cansaço, náuseas, vômito, dor abdominal. Com o agravamento da doença, pacientes também apresentam confusão mental.