Esse não é o primeiro conflito que presenciamos no mundo e, infelizmente, não me parece que será o último. Aliás, enquanto acompanhamos a guerra na Ucrânia, são quase 30 conflitos armados acontecendo em diversos países ao redor do planeta. No momento em que escrevo esse artigo, são sete dias de conflito na Ucrânia e que toma conta dos noticiários, das discussões e das análises sob diversas perspectivas. Assume relevância por inúmeros motivos, principalmente por se tratar de um conflito que remonta as divisões territoriais e ideológicas que se constituíram ao longo da nossa história.
As alegações da Rússia são de que a história da Ucrânia é a história da Rússia, que a Ucrânia não é e não deve se aproximar da Europa Ocidental e, menos ainda, se associar aos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A Rússia fala em promover uma operação militar especial para desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia. Já a Ucrânia fala em genocídio, em ataques à sua população e indica o total interesse em aproximar-se dos países do ocidente. Legitimamente ela tem esse direito!
A Rússia possui um exército cinco vezes maior que o da Ucrânia e está tomando cidades ucranianas. Os países vinculados à Otan indicam que não irão combater em território de países não vinculados à organização, mas que irão repassar armas para os militares ucranianos. Fundamentalmente essa é uma guerra de narrativas e cada um conta a sua história, nas condições que melhor lhes cabem nesse momento. Me pergunto se há ganhadores e acredito profundamente que não há. Somos todos perdedores. “Somos” inclui todos nós!
Primeiro, quem perde são todos os civis e militares que perderemos para sempre. Ou seja, as milhares de vidas que se vão em uma guerra que nem sequer temos clareza sobre seus objetivos e resultados. Segundo, quem perde é a população ucraniana. Pessoas que de um dia para o outro tiveram que juntar tudo que coubesse em uma mochila e saíram de suas casas para algum lugar, sem saber qual lugar é esse. Terceiro, quem perde é o território ucraniano, destruído nesse conflito e que precisará de muito tempo para retomar sua dinâmica social e econômica.
Quarto, quem perde é a Rússia, que com todas as sanções econômicas, o isolamento da imensa maioria dos países e a construção de uma narrativa de russofobia, já precisou aumentar taxas de juros e criar mecanismos de contenção de recursos financeiros em seu território. A moeda russa desvalorizou significativamente, muitos parceiros internacionais já não querem mais negociar com empresas russas, ou seja, uma perda de confiança que está colocando em suspensão a economia russa.
Quinto, economicamente todos perdemos. O aumento dos preços do petróleo, os custos de produtos agrícolas, principalmente milho e trigo, os preços das matérias primas e prioritariamente dos fertilizantes, são algumas das consequências que chegarão nas mesas de cada um de nós. Ou seja, direta e indiretamente, influenciarão nos produtos que produzimos e compramos. Em suma, o mundo globalizado tem muitas vantagens, mas também a dependência desse mundo globalizado demonstra suas fragilidades em momentos como o que estamos vivendo. Uma guerra na qual todos perdem e que os envolvidos precisam ceder para evitarmos mais perdas de vidas e consequências sociais e econômicas graves para o mundo todo.