O Tiktok anunciou novas medidas de segurança para proteger menores de idade na Europa e na Austrália. Para além das coreografias que viralizam com facilidade, a rede também propaga desafios que podem ser prejudicais para saúde mental e física de crianças e adolescentes. Agora, caso o usuário tente pesquisar conteúdo entendido como falso ou desafio potencialmente prejudicial, ele será direcionado para uma nova guia que incentiva a cumprir o processo de quatro etapas – pare, pense, decida, aja – antes de se envolver com desafios online.
A medida deve chegar ao Brasil em breve. O país é um dos que mais utiliza a rede no mundo, conforme pesquisa da Statista, empresa alemã especializada em dados de mercado e consumidores. Nas normas do aplicativo é garantido que os titulares de conta menores de 16 anos não podem utilizar mensagens diretas ou fazer lives. Mais do que os limites estabelecidos pela plataforma, pais e responsáveis também estipulam suas regras.
Diálogo é fundamental
O que Antonella Krahl, de 9 anos, mais gosta de assistir no TikTok são as danças, receitas e conteúdos sobre Harry Potter e Stranger Things. Em seu perfil, ela publica pequenos vídeos sobre sua rotina, dublagens e danças. No entanto, as coreografias de Antonella não são as mais populares da rede, em geral, embaladas por funks e sertanejos universitários. O que ela dança são músicas da Turma da Mônica, dedicadas ao público infantil.
Jean Carlo Souza Krahl, pai de Antonella, é analista de sistemas e especialista em Computação Forense e Perícia Digital. Segundo ele, em casa, o cuidado com o que a filha vai encontrar na rede atravessa dois planos: filtros disponibilizados pelo próprio TikTok e conversas sobre exposição e perigos da internet. “O que a Antonella tem é uma liberdade vigiada. A conta dela é cadastrada com meu e-mail, então eu tenho acesso a todas às informações. Não estipulamos tempo para ela ficar no celular, mas ela não abusa, até porque a rotina é cheia”, conta Krahl.
Para a Antonella, a atenção dos pais não é um problema. Em suas mãos o aplicativo é mais um brinquedo, que por vezes até fica desinteressante. “Eu também brinco com meus amigos na rua e gosto disso. Prefiro brincar pessoalmente”, comenta. Netflix, YouTube e Pinterst também disputam a atenção da pequena. Assim como o TikTok, todas essas redes são fiscalizadas pelos pais. “Instalamos aqui em casa um sistema familiar que barra qualquer conteúdo adulto”, ressalta Krahl.
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda o tempo máximo de duas horas de exposição a telas para crianças crianças entre 6 e 10 anos, com supervisão de um adulto responsável. A doutora em Educação e professora da Univates, Suzana Feldens Schwertner, garante que esses são cuidados fundamentais. “As crianças podem ter contato com pessoas desconhecidas, conteúdos impróprios para sua idade, a busca por curtidas e seguidores, auto distorção digital da aparência, o que pode acarretar em distorções da autoimagem e da autoestima”, destaca.

De Lajeado, João Francisco faz sucesso no TikTok falando sobre sua prótese ocular e coleciona 66 mil seguidores
Nem tudo é dancinha no TikTok
O diagnóstico mais preciso para João Francisco Hirtenkauf Munhoz, de 23 anos, é a Doença de Crohn. Há 5 anos a retina de João descolou e no ano passado ele retirou o olho esquerdo, porque não havia como reverter o caso. Tudo isso está registrado em um vídeo fixado em seu perfil no TikTok que responde algumas das perguntas mais frequentes dos seus 66 mil seguidores.
Há quatro meses ele publica vídeos sobre sua prótese ocular e, hoje, seu primeiro post soma mais de 300 mil visualizações. “O TikTok demora um pouco para começar a render visualizações, mas o primeiro que eu publiquei logo gerou um número alto”, conta. Ele sentiu falta de conteúdo brasileiro sobre o assunto e começou suas próprias produções.
O que João percebe é que muitos dos comentário partem de pessoas que também usam prótese e se identificam. Há também quem conviva com alguém que não tem um olho e tem vergonha de perguntar sobre. “Isso dói?”, “Você vê filmes em 3D?”, “você já esqueceu que estava sem prótese?” são algumas das questões respondidas nos vídeos de 15 segundos.
Para fazer a seleção do que vai para o ar, João escolhe as dúvidas que acredita que vão despertar a curiosidade de um público que ainda não lhe conhece. Essa é uma parte importante do trabalho: quanto mais pessoas assistirem o vídeo, mais o TikTok vai distribuir para os usuários. Assim, o perfil se torna cada mais conhecido, a ponto de personalidades como Pablo Vittar deixarem seu comentário.
O que a rede tem mostrado é que, independente da idade, é necessário cautela na hora de se expor às telas. Assim, ao invés de despertar a insegurança, este pode ser um ambiente inovador e de diferentes oportunidades.