Novo “Batman” mostra o lado detetive do herói e também seus sérios problemas mentais

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Novo “Batman” mostra o lado detetive do herói e também seus sérios problemas mentais

Ainda que “pé no chão", novo filme abraça sem qualquer vergonha a estética das HQs e traz aos cinemas a melhor leitura do personagem

Novo “Batman” mostra o lado detetive do herói e também seus sérios problemas mentais
“Batman” é um arco de reencontro consigo mesmo, de amadurecimento, de ressignificação.

Os filmes inspirados em super-heróis são um gênero já consagrado em Hollywood. O sucesso econômico que eles produzem também gera um tipo de pasteurização em suas representações. É o “tiro certo” dos estúdios detentores destas franquias, afinal. Se olharmos no detalhe, apenas a franquia do Batman trouxe obras, para o bem ou para o mal, com um olhar mais autoral. Os filmes do herói assinados por Tim Burton ou Christopher Nolan são, na prática, a visão dos autores sobre o personagem. E se tem algo que pode ser destacado de “Batman”, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (3), é que ele é, enfim, um filme do herói, não de um autor.

É claro que o olhar de Matt Reeves, o diretor, é visto em cada detalhe do filme. Da escolha de onde a câmera deve guiar o espectador e como Robert Pattinson, o novo Batman, é apresentado na tela – por vezes como uma figura assustadora, outras como um lunático que se veste de morcego -, à forma como a trilha imponente e o design de som causam sempre uma nova reação. 

O filme é artisticamente bonito. Ele é o “pé no chão” que se tornou uma nova tradição para adaptações do homem morcego – dentro do possível, é claro -, mas abraça sem qualquer vergonha a estética das histórias em quadrinhos. Porém, tudo serve à narrativa sobre este homem extremamente perturbado que tenta através da sua incursão como vigilante tratar seus problemas. Não é um filme policial disfarçado de super-herói. É um filme do Batman.

Na trama, o Batman está no segundo ano de combate ao crime em Gotham City. Apesar de ser uma figura já temida e mítica entre os criminosos e um vigilante tolerado pelo departamento de polícia, principalmente através da figura do tenente Jim Gordon (maravilhoso na atuação de Jeffrey Wright), ele ainda está longe de ser o grande herói da cidade. Isso até o prefeito ser morto na noite de Halloween e no seu corpo um enigma ser encontrado. O destinatário? O próprio Batman.

A partir disso, novas vítimas aparecem – todas figuras políticas importantes na cidade – e novas charadas são deixadas. E o desenrolar deste fio revela mistérios nunca mostrados no cinema – e muito caros nas HQs – e uma veia há muito desejada pelos fãs: um Batman realmente detetive.

Esse enquadramento é o gatilho que nos leva para uma jornada típica do cinema noir, em que nada é o que parece e tudo que está às sombras em algum momento é revelado.  E isso vai além da investigação sobre o Charada (Paul Dano, como um vilão que une traços do serial killer Zodíaco e até de Jigsaw, de Jogos Mortais), mas, principalmente, sobre a jornada de autodescobrimento do próprio Bruce Wayne.

“Batman” é um arco de reencontro consigo mesmo, de amadurecimento, de ressignificação. Mais do que adentrar os segredos de Gotham, somos jogados para dentro da psique do próprio Batman – tanto é que pela primeira vez uma adaptação do herói ganha narrativas em off, como um claro dispositivo que nos convida a ver o mundo segundo o entendimento do protagonista. 

A jornada que começa baseada em vingança, em uma versão que é a melhor já feita para o cinema, mostra um herói falho e frágil, em sintonia com os arcos mais recentes do personagem nas HQs. O Batman de Robert Pattinson é uma pessoa com seríssimos problemas mentais. Como nas histórias assinadas por Tom King, o Batman é um suicida, que não consegue existir se Bruce Wayne for feliz.

Zoë Kravitz como Mulher Gato é um dos tantos pontos altos do filme.

Para essa jornada funcionar, Selina Kyle, a Mulher Gato (em uma atuação poderosa de Zoë Kravitz), é fundamental. Ela é a ponte que conecta o Batman com sua humanidade. Quer seja pela empatia pelos dramas de Selina, quer seja pelo latente desejo que ela desperta. E esse latente erotismo tão presente nessa particular e histórica relação é um dos tantos pontos de destaque do novo filme. 

Este é um filme emocional. Pelo terror ou pelo erótico. Ele é muito mais o sensorial do Tim Burton do que – graças a Deus – a precisão fria e casta de Christopher Nolan. E muito disso se deve à representação de Gotham. A cidade é suja e fria. Ela une elementos góticos com neón, enquanto precisa lidar com uma chuva que não dá trégua. Apesar disso, ela é uma cidade viva. E essa vida que move a jornada pessoal tanto do herói quanto do seu antagonista.

Os segredos revelados vão destruir os tótens políticos e econômicos daquele universo, mas também os pilares que sustentam as motivações de Bruce Wayne. Em vez do bilionário que se esconde atrás de um capuz para bater em pessoas pobres – uma problematização comum ao personagem e aplicada no roteiro do filme -, as verdades que vem à tona reformulam inclusive a compreensão do herói sobre sua missão.

Mais do que um projeto suicida em busca de um tipo de vingança particular, a jornada do filme é um reposicionamento geral do significado do homem morcego. Em vez do vigilante quase fascista celebrado nas representações da última década, ele se torna um raio de esperança. Mais do que caçar e bater em criminosos, sua jornada passa a ser salvar vidas – inclusive a sua própria.

Em Lajeado você pode assistir ao filme no Shopping Lajeado nos seguintes horários: 14h, 14h10, 17h20, 17h30, 20h40 e 20h50 – obviamente, este não é um filme para crianças.

Assista ao trailer:

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