Ele teve papel importante na criação de uma das primeiras cooperativas médicas do estado. Idealizador da Fundação para Reabilitação das Deformidades Crânio-Faciais (Fundef), coordenou a antiga Delegacia Regional de Saúde (atual 16ª CRS) e foi vice-presidente da antiga Fates (atual Fuvates). Com trajetória respeitável de mais de meio século na medicina, Wilson Dewes se tornou uma referência no que faz.
Diretor técnico da clínica que leva o seu nome, Dewes segue na ativa. Na edição de “O Meu Negócio” dessa segunda-feira, 28, o médico relembrou momentos marcantes de sua atuação profissional, durante conversa de uma hora com o apresentador Rogério Wink. Também falou das origens familiares.
Dewes nasceu em Travesseiro. Começou a trabalhar ainda na adolescência, como office boy de um banco em Encantado. “Uma das coisas que meu pai fazia era nos incentivar a ter responsabilidade cedo. E fez com que fossemos estudar fora, pois não havia outra possibilidade de progredir na vida”, recorda.
Foi em Encantado, aliás, que surgiu o primeiro incentivo a entrar na Medicina. “Tinha um médico alemão que, quando entrava em casa, parecia que era Deus. Naquela época não tinha remédios, antibióticos. Receitava chás. Mas era um modelo de gente”. Dewes se mudou para Porto Alegre, onde se preparou para o vestibular. Foi aprovado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), para onde iria depois.
Já no primeiro ano de graduação, foi convidado a morar e trabalhar dentro de um hospital. Ganhava casa e comida e teve a oportunidade de aprender e se entrosar com a equipe médica. “Eu abraçava tudo. Depois de seis anos morando num hospital, fiquei um médico prático. E no sexto ano cumpri estágio, onde fui designado para atuar num hospital militar”.
ENTREVISTA – “Lajeado tem de tudo. Viver aqui é um privilégio”
Qual sua maior inspiração na medicina?
Wilson Dewes – Tive um professor que se chamava Reinaldo Coser. Ele, como era médico contratado pelo Exército para atender o pessoal do Hospital Militar, me treinou quando estive lá. Considero ele um gênio mundial, que morreu cedo, com 49 anos. Com os ensinamentos dele, me tornei otorrino e desenvolvi técnicas da rinoplastia que me deram status em Lajeado. Fui o primeiro otorrino brasileiro a fazer cursos e trazer autoridades mundiais para nos ensinar.
Você teve presença forte na criação da Unimed VTRP. Como foi esta atuação?
Dewes – Me formei em 1963 e passei a atuar em Encantado. Quando o anestesista de Lajeado faleceu, me pediram para vir para cá. No início, era uma vez por semana, mas logo vim em definitivo. Aí me enturmei nas questões do hospital e o dr. Nilson May me convidou para ser o vice-presidente da Sociedade de Medicina do Alto Taquari. Comecei a estudar sobre planos de saúde. Quando vimos uma revista que trazia o exemplo de Santos, convenci os médicos daqui a fundarmos uma cooperativa médica. Fui o primeiro vice, depois presidi a Unimed e inauguramos o prédio no Centro.
E de onde surgiu a ideia de abrir uma clínica?
Dewes – Como otorrino, conjuguei a parte funcional com a estética. Me dei conta que, no país, poucos faziam isso. Estudei muito e logo virei referência. Passei um período nos Estados Unidos e, quando voltei, surgiu a ideia de abrir a clínica, pela facilidade e agilidade para atender pacientes. Comecei a oferecer estágios a outros colegas, que vinham para Lajeado e ficavam um, dois, até três meses. Logo senti necessidade de um espaço para receber palestras e criei o auditório. Promovemos workshops, fizemos eventos que reuniram autoridades mundiais em rinoplastia.
Como a Clínica Dewes está organizada hoje?
Dewes – Temos um segredo que é deixar que cada um assuma a sua responsabilidade. Não sou fiscal, e nunca tive que reclamar por algo que não estivesse bem. Tenho dez funcionários e cada um sabe bem de suas obrigações. Recentemente passamos por reforma por exigências da Anvisa. Ficou praticamente um hospital. Tudo para dar conforto a quem trabalhar, dar segurança aos pacientes e retribuir a confiança da sociedade.
E a criação da Fundef?
Dewes – Costumo dizer que ela é um milagre. A Fundef surgiu porque, a cada 600 crianças nascidas no Brasil, uma nascia com deformidade na boa. O tratamento da fissura palatina é algo muito complexo e que exige algo grande. Tive o estímulo de um cirurgião de Porto Alegre. Aí resolvi organizar um grupo de colegas, de diferentes áreas. Tivemos um grande apoio do Hospital Bruno Born. Criamos a fundação para que tivesse uma identidade própria. A Fundef colocou Lajeado em evidência
no mundo.
O que é ser Cidadão Lajeadense para você?
Dewes – Quando morava em Encantado, Lajeado já era o centro da região. Quando vim para cá, comecei a entender porque era uma das melhores cidades do estado. Está na beira de um rio, tem uma rede ferroviária próxima e uma característica peculiar, que é a colonização. Tem uma tradição do trabalho. E não é nem tão distante, nem tão próxima de Porto Alegre a ponto de ser uma cidade dormitório. Lajeado tem tudo. Viver aqui é um privilégio.
Você é um amante da música clássica. É verdade que toca piano?
Dewes – Uma das coisas que lamento é não ter desenvolvido isso. No colégio em que estudava, só as meninas podiam. Esperei até os 16 anos para tocar pela primeira vez. Quando criei o auditório na clínica, colocamos um piano e convidei grandes pianistas. E esse é um desafio que lanço para a Univates. Com aquele teatro fantástico que tem lá, por que não colocam um piano de cauda? Por que não promovem um concerto mensal, que leve o povo para dentro?