Rodovia esquecida, região prejudicada: o dilema da ERS-332

PLANO DE CONCESSÕES

Rodovia esquecida, região prejudicada: o dilema da ERS-332

Em meio ao pedido de inclusão da ERS-332, líderes da parte alta reforçam importância de investimentos. Em meio à insatisfação da comunidade, governo Leite promete enviar até R$ 10 milhões para melhorias da estrada

Rodovia esquecida, região prejudicada: o dilema da ERS-332
Entre 2020 e 21, Estado destinou R$ 11 milhões à rodovia. Na sexta-feira, haverá novo anúncio de investimentos pelo Avançar II . Crédito: Henrique Pedersini
Vale do Taquari

Falta de sinalização, buracos e com o mato invadindo a pista. Essa é a condição enfrentada por motoristas que trafegam pela ERS-332. A principal via de transporte na parte alta do Vale, passando por municípios como Arvorezinha, Ilópolis, Doutor Ricardo, Muçum e Encantado, foi tema de debate da rádio A Hora.

Durante quase duas horas, líderes empresariais e autoridades políticas relataram os prejuízos econômicos, os riscos à segurança e criticaram a ausência de investimentos públicos estaduais ao longo dos anos.

O Programa Frente e Verso de ontem foi ao vivo de Doutor Ricardo, direto do Restaurante Biolchi. Teve participação do prefeito do município, Álvaro Giacobbo, do empresário, Leandro Pittol, do presidente da Associação dos Produtores de Erva-Mate do Alto Taquari, Clóvis Roman e do prefeito de Vespasiano Corrêa, Tiago Michelon.

Com o término dos estudos técnicos para os novos pedágios, a ausência da 332 no pacote de investimentos trouxe reação por parte da comunidade da região alta. Tanto que os prefeitos do Grupo dos 18 municípios da parte alta se posicionam de forma crítica ao modelo previsto pelo RS e cobram a previsão de obras no contrato de concessão.

As estradas contempladas pelo estudo de viabilidade técnica e econômica da Secretaria Extraordinária de Parcerias do RS são as ERSs 128, 129, 130 e 453. Os trechos regionais fazem parte do bloco 2, com mais de 414 quilômetros, partindo de Erechim até Venâncio Aires.

O Estado pretende lançar o edital entre março e abril. Pelo cronograma, ao lançar a concorrência em abril, seriam necessários mais 120 dias para as empresas analisarem a proposta. Desse modo, o leilão seria entre julho e agosto, com assinatura do contrato em novembro.

“Pagamos a conta e ficamos de fora”

Município de perfil agrícola, com destaque na produção de queijo, nozes e erva-mate, pães e móveis, Doutor Ricardo depende da 332 para escoamento das produções.

De acordo com o prefeito Giacobbo, deixar a parte alta de fora dos investimentos da concessão é inadmissível. “Vamos pagar quase R$ 10 de pedágio e não estamos nos investimentos. Já na região baixa ficaram as obras. Pagamos a conta e ficamos de fora.”

Custo logístico

O empresário Leandro Pittol, frisa as carências, riscos e prejuízos à comunidade local por trafegar em uma via precária. “O impacto econômico atinge todas as empresas e municípios. A região alta tem uma grande diversidade de produtos e precisamos que a estrada esteja em boas condições.”

A empresa de Pittol atua na venda de nozes e de mudas. De acordo com ele, 40% da produção vai para São Paulo. Pelo formato do negócio, a escolha da logística é um dos desafios aos empreendedores, diz.

“O lucro hoje está comprometido, pois a despesa é muito alta. Quando usamos veículo próprio para escoar a produção e temos rodovia em condição é uma coisa. Agora, do jeito que está a 332 é inviável. Pagar uma transportadora é melhor do que correr risco.” Ainda assim, há dificuldade em conseguir fechar contratos com as terceirizadas. “Quando contratamos um transporte, nos perguntam: como está a trafegabilidade para chegar em Anta Gorda?”

O presidente da Associação dos Produtores de Erva-Mate do Alto Taquari, Clovis Roberto Roman, reforça os pedidos para melhorias nas estradas. “A região alta é o maior polo ervateiro do Estado. Então, precisa ter uma rodovia trafegável”.

De acordo com ele, 60% da produção de erva-mate gaúcha está concentrada no alto Vale do Taquari. “A 332 é a principal via para escoamento. Seja em direção à Encantado, ou para a Serra do Botucaraí.”

Representação

A não inclusão da ERS-332 e a continuidade da praça de pedágio em Encantado causaram mal-estar entre os prefeitos da parte alta e do centro da região. Inclusive houve ameaça de saída em massa da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat).

Para o prefeito de Vespasiano Corrêa, Tiago Michelon, há uma sensação de que falta representatividade política para os municípios da microrregião de Encantado. Na avaliação dele, a Amvat precisa ouvir as reivindicações dos prefeitos sem defender um ou outro associado.

“Não podemos ser unidos só quando a ideia é propositiva. Também precisamos ficar unidos quando temos posições contrárias.”
A partir disso, Michelon é taxativo: “enquanto G-17 estamos fechados. Queremos ter representação, ser ouvidos e considerados para uma decisão conjunta. Do contrário, vamos andar pelas nossas pernas.”

Ligação do governo

O secretário estadual de Parcerias, Leonardo Busatto, afirmou que ao longo dos mais de 12 meses de construção do plano para o Vale do Taquari não houve solicitação formal para incluir a ERS-332 no pacote de investimentos.

De acordo com ele, fazer um estudo técnico para avaliar a viabilidade da rodovia atrasaria o processo e poderia representar a não publicação do edital.

Após o debate, a equipe do secretário de Transportes, Juvir Costella, contatou o prefeito de Doutor Ricardo, Álvaro Giacobbo, e o convidou para o lançamento do Programa Avançar II nesta sexta-feira. “Sabemos da importância da rodovia e da necessidade de melhorias. Já investimentos R$ 11 milhões entre 2020 e 21. Agora faremos mais um aporte”, diz o secretário Costella. O volume de recursos ainda não foi definido, mas pode chegar a R$ 10 milhões, informa.

Estudo feito na metade de 2020 apontava a necessidade de R$ 30 milhões para dotar a rodovia de estrutura para garantir condições de tráfego. A estimativa de fluxo diário na 332 se aproxima dos 3 mil veículos.

RAIO-X DA ERS-332

Reportagem percorreu os mais de 95 quilômetros entre Encantado e Arvorezinha. Principais problemas verificados são: buracos na pista, falta de sinalização, acostamento e roçadas

  • Em Encantado, um dos limites da ERS-332, placas estão caídas e há um ponto crítico de trânsito no entroncamento com a ERS-129, no local conhecido como Trevo do Peteba.
  • Em Doutor Ricardo foram constatadas diversas tentativas de ultrapassagens em locais proibidos no “Morro da Guabirova”, onde há dificuldade de visualização e muitas curvas não sinalizadas.
  • No trevo de Anta Gorda não há sinalização para orientar os motoristas. O asfalto estava sendo recapeado neste trecho. Há vários acessos para localidades, propriedades privadas e empresas, a grande maioria sem entrada adequada ou indicação por placas.
  • Próximo ao acesso para Ilópolis, agricultores relataram que os acidentes no trecho são frequentes. De acordo com Welington Pícoli, 22 anos, melhores condições na via são uma demanda urgente. “Semana passada mesmo teve um acidente com morte perto de onde a gente passa todos os dias”, declara.
  • Junto ao trevo de acesso a Arvorezinha, um dos estabelecimentos instalados é a “Borracharia do Trevo”. Os proprietários atendem 24h por dia, inclusive com serviço de socorro na rodovia. Conforme Mônica Dos Santos, 36 anos, casos de pneus furados ocorrem quase todos os dias.
  • No acesso ao Perau de Janeiro (Arvorezinha), são percebidas marcas de freadas na rodovia. O local ainda tem mato em meio à pista. Caminhões transportam cargas de erva-mate maiores
    que a capacidade dos veículos.

Galeria

Em Encantado, um dos limites da ERS-332, placas estão caídas e há um ponto crítico de trânsito no entroncamento com a ERS-129, no local conhecido como Trevo do Peteba. Em Doutor Ricardo foram constatadas diversas tentativas de ultrapassagens em locais proibidos no “Morro da Guabirova”, onde há dificuldade de visualização e muitas curvas não sinalizadas. No trevo de Anta Gorda não há sinalização para orientar os motoristas. O asfalto estava sendo recapeado neste trecho. Há vários acessos para localidades, propriedades privadas e empresas, a grande maioria sem entrada adequada ou indicação por placas. Próximo ao acesso para Ilópolis, agricultores relataram que os acidentes no trecho são frequentes. De acordo com Welington Pícoli, 22 anos, melhores condições na via são uma demanda urgente. “Semana passada mesmo teve um acidente com morte perto de onde a gente passa todos os dias”, declara. Junto ao trevo de acesso a Arvorezinha, um dos estabelecimentos instalados é a “Borracharia do Trevo”. Os proprietários atendem 24h por dia, inclusive com serviço de socorro na rodovia. Conforme Mônica Dos Santos, 36 anos, casos de pneus furados ocorrem quase todos os dias. No acesso ao Perau de Janeiro (Arvorezinha), são percebidas marcas de freadas na rodovia. O local ainda tem mato em meio à pista. Caminhões transportam cargas de erva-mate maiores 
que a capacidade dos veículos.

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