Aumento de consumo no mercado internacional incentiva novos criadores de peru na região. O segmento ainda é pouco conhecido no Vale, mas conquista espaço e gera boas oportunidades de negócios.
A criação é dividida em duas etapas. Em granjas de Travesseiro e Fazenda Vilanova são alojadas as aves no estágio inicial. Já as unidades terminação, concentradas em Vespasiano Corrêa e Dois Lajeados alojam os perus de 30 dias, com 1,5 quilo e entregam à integradora após 130 dias com mais de 20 kg.
As estruturas são similares à criação de frangos. A diferença está na ocupação dos espaços, maior controle de temperatura e ambiente afastado de fatores que possam perturbar os perus. Na fase adulta, alterações de iluminação ou ruído podem gerar aglomeração e ocasionar a morte por pisoteamento das aves.
Outra preocupação é com o controle sanitário. Os criadores de perus não podem consorciar a atividade na mesma propriedade com frangos ou suínos. Em relação ao desenvolvimento, as condições do clima influenciam. Na fase inicial é necessário manter a temperatura em 27 graus. Quando no ciclo de terminação, a máxima ideal é até 23 graus.
O destino do peru criado no Vale do Taquari é o frigorífico da JBS em Caxias do Sul. De lá saem os cortes para mercado interno e exportação. Os principais compradores são países europeus e asiáticos. Hoje, o Brasil é o terceiro maior criador de peru, atrás apenas dos Estados Unidos e União Europeia.
18 mil perus
Faz quatro anos que o casal Moisés Gavineski, 34, e Jéssica Zanini, 30, decidiu investir na criação de perus. Eles adquiriram antiga área avícola e adaptaram o espaço para a nova atividade. “Fomos pioneiros na região e a propriedade virou ponto de visitação de outros produtores interessados”, lembram.
O desafio não foi maior pois tinham prática no segmento de frangos. Os pais atuam há mais de 30 anos na atividade e essa experiência foi fundamental no sucesso da criação de perus. O manejo não é tão diferente, embora necessite de alguns cuidados adicionais.
A granja conta com 4 aviários que alojam 18 mil perus. No comparativo com frangos, o espaço teria capacidade para 70 mil aves. Na propriedade do interior de Vespasiano Corrêa são criados apenas machos, com ciclo de até 145 dias, quando pesam em média 22 quilos.
O peru é uma ave mais sensível ao calor, por consequência o clima ameno favorece no desenvolvimento. Devido ao porte e por ser rústico, requer cuidados do criador para não ser machucado. “Na fase final de engorda é bom usar duas calças para reforçar a proteção contra as bicadas. Conforme a situação, eles avançam sobre nós”, conta Gavineski.
De acordo com o criador, o investimento na estrutura é 30% menor em relação ao aviário de frango. “É um bom negócio, recebemos em média R$ 7 por peru. Conseguimos pagar o financiamento e temos a nossa renda.”
Entre os desafios do setor, garantir a sanidade da ave, suscetível a doenças respiratórias. Para manter a umidade ideal dos aviários são usados nebulizadores. Esses equipamentos utilizam cerca de 30 mil litros de água ao dia. Além disso, o consumo das aves demanda mais 20 mil litros diários de água.

Condição sanitária favorece exportações. No último ano, mais de 40% da produção de aves foram ao mercado internacional
Condições de mercado
A produção de carne de peru esteve em alta até 2012, quando alcançou maior volume da história, mais de 440 mil toneladas. Depois deste período, houve redução até alcançar a marca de 159 mil toneladas em 2020.
De acordo com entidades do setor, o Brasil enfrentou queda de produção devido ao fechamento de plantas em Santa Catarina e Minas Gerais. Ainda no ano passado, algumas reabriram e retomaram a produção.
Além do peru de natal, o consumo de mais cortes, como a coxa e sobrecoxa, e embutidos, a exemplo do presunto, conquistam o mercado interno. Em relação ao mercado externo, a Europa paga melhor em produto agregado e leva cortes nobres. México e Canadá também aumentaram pedidos. Além do Chile, que perdeu parte da produção por conta de problemas sanitários.
Novos aviários
A boa adaptação dos perus às condições da região incentivou o produtor rural Ederson Michelon, 38, a investir mais de R$ 3 milhões na construção de 4 aviários. As obras estão na reta final e o alojamento deve iniciar ao fim de maio. A capacidade será de 26 mil perus.
Michelon é filho de suinocultor e buscou um novo segmento para desenvolver. Ele tem o apoio da esposa Tatiana Caio, 29. A terraplanagem da área iniciou há um ano, por meio de incentivo da administração municipal. A assinatura do contrato de financiamento e compra das estruturas ocorreu pouco antes da escala de preços. “Se demorasse mais alguns dias inviabilizaria o negócio.”
A influência do vizinho Moisés Gavineski foi determinante na escolha da criação de perus. “Minha ideia inicial era construir aviários climatizados do sistema dark house para frango terminação. Avaliei melhor as condições de mercado e tomei a decisão.”
A instalação das estruturas tem o apoio do governo municipal. De acordo com o secretário de Agricultura, Daniel Gavineski, 63% dos valores do setor primário são referentes as integrações. “Já existe o programa de incentivo que fornece a terraplanagem. Agora vamos desenvolver ações de apoio na reserva de água”, destaca.