Falta de peças afeta setor de carros usados

Economia

Falta de peças afeta setor de carros usados

Baixa oferta e escalada de preços dos automóveis zero km causam elevação dos seminovos e maior demanda em manutenção. Dependência da importação, atrelada a falta de contêineres e aumento no custo do transporte internacional, refletem na disponibilidade dos itens de reparo

Falta de peças afeta setor de carros usados
Peças que dependem de importação demoram em média quatro meses até chegarem ao reparador (FELIPE NEITZKE)

A falta global de componentes afeta a produção de novos veículos. Essa redução de oferta trava a renovação de frota e amplia o comércio de veículos usados. No último ano, o segmento de automóveis de segunda mão cresceu 18,1% no mercado nacional, comparado a 2020.

Por consequência, cresce a procura de serviços em oficinas mecânicas. Seja pela necessidade de revisões ou reparos após compra. Muitas vezes, a manutenção demanda novas peças e há dificuldade em fazer a reposição. A maior demora e escassez afeta, em especial, veículos importados.

Além da espera de até quatro meses para conseguir a peça, o preço também sofreu alterações. Em alguns casos, custa mais que o dobro comparado ao período anterior da escassez de componentes.

Quando se trata de veículo nacional, as concessionárias demoram em média duas semanas para entregar a peça. Já no mercado independente, é possível reduzir esse prazo, mas exige ampliar a lista de fornecedores e se expor a itens com qualidade dúbia.

Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) os desafios no segmento persistem e mesmo com o aumento das margens, a queda do giro prejudicou o resultado das vendas de veículos.

A entidade alerta que as dificuldades na logística e falta de insumos para as montadoras, assim como os aspectos de emprego e renda das famílias indicam um ano desafiador no setor automotivo.

Dificuldade por peças

No ramo desde 1996, o mecânico e proprietário de oficina Carlos Giovanella, atesta o cenário desafiador em busca de peças. “A dificuldade em conseguir itens de reposição se acentua desde o segundo semestre do ano passado. Até consegue, mas precisa ter bons contatos e persistência na busca”, conta.

Com a valorização dos veículos, a demanda de serviços também cresceu. “Sempre tem cliente na fila. O agendamento foi uma forma de melhor organizar essa demanda.” Giovanella acredita que a alta de preços nos automóveis novos fez o proprietário investir mais no usado.

Esse é o caso de Valdir Galli, proprietário de um Voyage, ano 2011. “Fui na oficina para uma revisão na suspensão e sistema de freio. Essa verificação preventiva evita despesas maiores e contribui na segurança”, comenta.

Diante do aumento expressivo no preço dos veículos novos, Galli descarta a troca do carro neste momento. “Não pretendo comprar outro agora, a não ser que apareça uma proposta muito boa.” Ao mesmo tempo que os automóveis usados têm maior valorização, a faixa de preço do novo disparou e está cada vez mais difícil encontrar abaixo dos R$ 60 mil.

ENTREVISTA – Marco Antônio Machado, presidente do Sincopeças-RS

“Somos dependentes da importação e os altos custos comprometem a oferta”

A Hora – O que ocorre com o setor de peças automotivas?
Machado – Existem dois canais de suprimentos, o das montadoras e o mercado independente. Nós representamos esse segundo segmento que é o das revendas para reparadores. A falta de peças já foi pior durante o pico da pandemia no ano passado. Ainda há problemas pontuais, mas acreditamos que isso vá se resolver durante o ano.

– Quais são as maiores dificuldades?
Machado – Somos dependentes da importação. Ou o mercado importa direto as peças prontas, ou as fabricantes importam partes para produção. E essa importação é difícil. Faltam contêineres e o custo do frete internacional subiu. Antes dessa situação, para acelerar o envio ao Brasil, as empresas ocupavam 50% do contêiner. Agora, saem apenas com carga cheia e isso reflete no tempo de entrega. A China tem dificuldade em fornecer componentes por restrições internas.

– Qual é a orientação para as autopeças e oficinas mecânicas?
Machado – No início da pandemia achávamos que haveria redução de demanda, mas ao contrário, teve crise na oferta. Nossa orientação no momento é que as empresas busquem novos fornecedores para atender os clientes. Sem os suprimentos o reparador não sobrevive. Na década de 40 até era possível fazer a peça na oficina. Os veículos evoluíram e isso não é mais possível. Nós acreditamos que se houver maior controle da pandemia o cenário vai mudar. Acreditamos que a circulação de pessoas é a mola propulsora da economia.

– Como a escassez de peças compromete a qualidade dos reparos?
Machado – A evolução da indústria se dá em vários aspectos. A produção de forma geral melhorou muito e há o controle do Inmetro sobre as peças importadas. Claro que, diante da falta de componentes, surgem os oportunistas que colocam no mercado itens falsificados. Assim como no segmento de roupas e calçados, também há o risco de imitações.

– E a venda de carros novos?
Machado – Além da falta de chips, há uma retração nas vendas por conta do encolhimento da economia. A pandemia impactou no emprego formal e no poder de compra. Percebemos, inclusive, uma mudança no perfil do comprador do automóvel zero. A maioria dos veículos já custam mais de R$ 100 mil e isso fez desaparecer o carro popular. O avanço nos projetos dos híbridos também faz as montadoras rever a atuação no mercado.


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