Conte um pouco da sua história.
Quando tinha 20 anos, me assumi homossexualmente. Com 28, 29, comecei a fazer terapia hormonal. Sempre morei em Estrela e até pela mudança de gênero, enfrentei uma série de problemas relacionados aos empregos e convívio social. No entanto, com o tempo, passei a superá-los, com a realização dos cursos que hoje me permitem ter uma profissão. Ainda vejo muita resistência das pessoas , sobretudo, quanto ao uso do pronome “Ela”.
A quais fatores você atribui o comportamento de parte da sociedade?
A sociedade ainda é muito patriarcal e machista, em especial se pensarmos que homens e mulheres trans são tratados de forma distinta. Falta educação. O povo é ignorante, principalmente no tratamento igualitário, seja você gay, lésbica, , gordo ou magro. Nessa linha, os transgêneros estão na mira constante da intolerância. O Brasil é o país que mais os mata no mundo e isso é gravíssimo.
O que é preciso fazer para reverter o quadro?
É fundamental que as pessoas entendam o seguinte: a mudança de gênero não significa alteração do caráter. Ainda somos mal vistas, alvo de memes, sofremos piadas. Temos de impor respeito, seguirmos no levantamento das nossas bandeiras. Entendo que, desde cedo, as famílias precisam reunir as crianças e ensinar sobre igualdade. Filhos de minhas clientes me tratam com muito carinho e isso me emociona.
Você foi a primeira estrelense a mudar de nome. O que isso significa, seja de modo pessoal e para os/as demais trans?
Foi muito gratificante. Todos os documentos foram trocados, uma correria só. Hoje, colho os frutos. É legal ser tratada com o nome que você escolheu. Há quem ainda me chame pela identificação de nascimento. Porém, procuro não me abalar com esse tipo de situação. Outras trans falam que eu sou um exemplo para elas. Talvez não seja para tanto, mas procuro lutar por aquilo que eu acredito, ajudar nas necessidades. As pessoas devem oferecer aquilo que está no coração.
O que é o Dia Nacional da Visibilidade Trans?
Em 29 de janeiro de 2004, um grupo de trans foram até o Congresso e exigiram seus direitos de frequentar os lugares públicos, ter uma vida digna. Não somente se prostituir. A campanha ficou conhecida como “Travesti e Respeito” e se tornou histórica em função de sua representatividade e ineditismo. Desde então, a data é utilizada para dar visibilidade às pautas relacionadas a temas como diversidade e identidade de gênero.