O esporte serve como um elo para integrar e socializar as pessoas na comunidade. De Arroio do Meio vem o melhor exemplo de união. Formada em 2020, a Associação Haitiana de Futebol disputará pela primeira vez uma competição de futebol amador no Vale do Taquari.
Formada apenas por imigrantes do Haiti, a Associação mandará os jogos no campo do Esperança, na comunidade de Dona Rita. A estreia está agendada para o dia 13 de fevereiro. O adversário será conhecido na próxima segunda-feira, 10, quando ocorre a reunião decisiva do Municipal.
Na primeira fase, a equipe enfrentará Forquetense (Forqueta), Cruzeiro (Linha 32), Sete de Setembro (São Caetano) e Rui Barbosa (Rui Barbosa). Serão dois jogos em casa e dois jogos fora.
Sonho antigo
Presidente da Associação Haitiana de Futebol, Bachemy François, 29, chegou a Arroio do Meio em 2014. Veio sozinho e hoje mora com a esposa, Darline Pierre François, com quem se casou em 2018. Como já trabalhava com futebol no Haiti, ao chegar no Brasil, logo correu atrás de mais atletas para formar o time.
Ele criou a Associação em 2020 e desde então buscava a formas de participar de competições amadoras. “O momento é de extrema felicidade para nós. Ficamos muito felizes ao receber a notícia de que poderíamos jogar o Municipal e de que o Esperança nos emprestaria a sede”, enaltece.
Segundo Bachemy, a equipe tem com 44 atletas, que serão divididos entre titular e aspirante. São 32 haitianos e 12 brasileiros. “Não temos só haitianos, pois quisemos integrar também amigos do Brasil”, comenta.
Bachemy salienta que a equipe não entra a passeio e quer buscar vitórias e até brigar pelo título. Os treinamentos em Dona Rita começam no domingo que vem, 16, e a equipe pretende fazer até três amistosos antes do campeonato iniciar.
A maior dificuldade apontada pelo presidente, no entanto, é a busca por patrocínio. “Somos todos haitianos e moramos em Arroio do Meio, estamos felizes por poder participar do Municipal, mas queremos fazer bonito. Precisamos de patrocínio para comprar uniformes, bolas e demais itens. Queremos estar preparados e representar muito bem a nossa comunidade.”
Futebol como ferramenta de integração
Para Jair Lindemann, o “Jaca”, presidente da Liga Arroiomeense de Futebol Amador (Lafa), a Associação está empolgada em participar do Municipal. “Eles querem viver esse mundo que já vivemos há muito tempo.”
O presidente destaca que essa parceria é muito boa para toda a comunidade, pois servirá de integração para os imigrantes, além de movimentar uma comunidade que estava parada e em vias de ser extinta. “Isso é muito benéfico para a cidade, pois com isso vamos mostrar que eles não vivem em uma sociedade à parte e que o futebol pode servir como uma boa ferramenta para integração.”
Sobre a participação da equipe no municipal, Lindemann destaca que é uma incógnita até onde podem ir, pois será a primeira experiência no futebol amador. “Espero que seja algo muito bom, que essa iniciativa sirva de exemplo de organização e integração. Quem sabe no futuro eles não disputem também o Regional Aslivata.”
Para jogar a competição, os atletas terão que cumprir algumas regras, como morar ou trabalhar em Arroio do Meio. Na categoria aspirante, a equipe deverá inscrever dez jogadores Sub-23. Outro pedido da Lafa foi para que inscrevessem um ou dois atletas brasileiros para facilitar no diálogo durante os jogos.
“É importante abrir as portas”
Presidente do Esperança, de Dona Rita, Vianei Bersch ressalta que o acordo foi fechado por meio de amigos em comum, pois a Associação necessitava de um campo e uma sede para jogar o Municipal e a sede do Esperança estava sendo usada apenas para jogos de bocha. “É importante abrir essas portas na comunidade, pois se não fossem eles, nossa sede estaria fechada aos domingos.”
Bersch destaca que o Esperança cuidará apenas do campo e da sede, já a parte dos jogos ficará toda por conta da Associação. “É uma maneira muito boa de integrar eles na sociedade.”
Outro exemplo
Em 2015, o Campeonato Aberto de Futsal de Lajeado (Cafusal) teve uma equipe formada apenas por imigrantes: o Clube do Haiti. Segundo Vanusa de Rosso, integrante da Secretaria da Juventude, Esporte e Lazer (Sejel) na época, a equipe terminou o torneio sem vencer uma partida, mas foi exemplo de disciplina e integração. “A cada gol que eles faziam, o ginásio inteiro aplaudia e gritava. Foi uma verdadeira festa.”