Uma portaria da Secretaria de Educação (Seduc/RS) que modifica a matriz curricular do ensino gaúcho a partir de 2022 provoca polêmica.
A publicação saiu no Diário Oficial. Pelo texto, fica decidido que os três últimos anos do Ensino Fundamental e primeiro do Médio, seria um período semanal. A disciplina, por sua vez, foi eliminada do segundo ano do EM e já não constava no terceiro. A mudança será gradativa.
Conforme a diretora do 8°Núcleo do Cpers/Sindicato, Eloede Conzatti, houve duas conversas com o Conselho Estadual de Educação no ano passado, sem encaminhamentos.
“A implantação do currículo é muito preocupante, foi feita sem discussão com os professores e não leva em conta as diferentes realidades de cada estudante. Teria de ser mais trabalhada. Desse jeito, vai causar problemas às escolas”, analisa a professora.
Preocupação
Além da própria Educação Física, Eloede cita a retirada, ao longo do Ensino Médio, de carga horária da língua espanhola, considerada importante do ponto de vista cultural pela proximidade do estado com Uruguai e Argentina.
Também são citadas a Biologia, Filosofia, Sociologia, Química e Física, cobradas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e em vestibulares.
Outra apreensão é com a possível exoneração de profissionais, pois alguns são contratados. Há dúvidas também sobre o que será e quem vai ensinar disciplinas como Projeto de Vida e as eletivas. “Temos grande responsabilidade nessa discussão. Queremos igualdade no conhecimento”, conclui Eloede. As conversas devem retomadas com maior ênfase em fevereiro, a fim de buscar um denominador comum.
Reação das entidades
O Conselho Regional de Educação Física do Rio Grande do Sul (CREF/RS) repudiou a decisão. Para a entidade, o movimento vai na contramão de estudos científicos que atestam os benefícios da Educação Física na promoção da saúde e cidadania.
O órgão reforçou que vai acionar “todos os meios necessários” para tentar reverter a decisão. Para a Federação Gaúcha de Voleibol, a ação demonstra um retrocesso do Estado e veta a saúde, inclusão e segurança que a disciplina proporciona para a sociedade.
Repercussão
O professor da disciplina, Emerson Fernandes, ressalta: por mais que se saiba da importância da atividade física para o corpo e a mente, é preciso questionar o que é feito dentro das escolas. “Existe planejamento, fiscalização? Não basta emitir nota. O conselho deveria defender um programa em que as crianças e adolescentes aprendam, se movimentem, evoluam.”
Ele avalia que seria importante a união com faculdades para estruturar a área e evitar mais perda de espaço.
Outro educador da área, Carlos Ignácio Bosse, criticou a medida. “É uma incoerência muito grande, pois vejo a disciplina como formador do ser em todos os aspectos. O impacto maior ainda se dá também em relação a pandemia onde o cuidado com a saúde vem em primeiro lugar”, pontua. Por isso, a retirada não deveria sequer ter sido cogitada, finaliza.
Contatada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Educação não respondeu às solicitações até o fechamento desta edição.