Boas ações devem ser divulgadas?

Opinião

Elisabete Barreto Müller

Elisabete Barreto Müller

Professora universitária e delegada aposentada

Boas ações devem ser divulgadas?

Vale do Taquari

Participo de uma entidade que recebe muitas doações. Às vezes, junto aos donativos, encontramos roupas sujas, rasgadas, sapatos imprestáveis e alimentos vencidos. Daí, pergunto o que se passa com quem faz esse tipo de doação: tem pressa, desatenção? Quer se livrar de um problema em casa? Aliviar sua culpa consumista? Ou quiçá não veja quem ganha como merecedor de respeito?

Ando indignada com isso e faço alarido: quer doar? Arruma antes, costura, cola, verifica a data de validade dos alimentos.

Por outro lado, principalmente no final do ano, vejo campanhas lindas de pessoas que se dedicam a arrecadar as mais variadas doações para os necessitados. Parece que o período de Natal faz brotar bons sentimentos e as pessoas demonstram mais preocupação com quem está em vulnerabilidade social.

Também vejo muita divulgação na imprensa e nas redes sociais sobre tais ações.

Quanto a isso reflito sobre duas frases que li recentemente. Uma é anônima e diz que a bondade compartilhada estimula mais pessoas a fazerem o bem. A outra é atribuída a Martin Luther King e, em síntese, fala que a filantropia é louvável, mas que o filantropo não deve se esquecer que ela só é necessária onde há injustiça econômica.

Aí, vem uma indagação: será que é preciso mesmo divulgar as boas ações?

Se nosso coração é puro e acreditamos que bondade gera mais bondade, que com isso faremos uma grande corrente de solidariedade, divulguemos. O que vale é nossa intenção altruísta!

Porém, recomendaria que, ao mesmo tempo, refletíssemos sobre a justiça social citada por Luther King. O que nos leva a fazer campanhas de doações? Será que estamos lembrando dos vulneráveis durante o restante do ano? Fazemos algo para que tenham condições de trabalhar, estudar, para que consigam pagar por seus alimentos, roupas, moradia?

Talvez você esteja pensando agora: isso não está ao meu alcance, faço o que posso. Todavia, com certeza, é possível mais! Podemos refletir, ajudar entidades que buscam a inserção social e, além disso, cobrar dos detentores do poder mudanças necessárias para que todos tenham vida digna. E que tal só eleger quem tem tal preocupação?

Algo que os filantropos devem também evitar são as fotos em que aparecem os vulneráveis. Afinal, como a gente se sentiria precisando de doação e tendo um registro disso?

Agora, se as nossas campanhas são, na verdade, um meio para promoção pessoal, para conseguir eleitores, clientes, seguidores, para administrar nossa culpa, ou doamos coisas estragadas, estaríamos mesmo fazendo boas ações?
Pensemos nisso e tenhamos um Feliz Natal!

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