O Produto Interno Bruto (PIB) referente ao ano de 2019 foi apresentado nessa sexta-feira. No período analisado, a economia do Rio Grande do Sul teve um crescimento tímido, de 1,1%, um pouco menor do que a média nacional (ficou em 1,2%).
Quando se avalia o resultado das cidades locais entre os anos de 2018 e 2019, o avanço econômico foi seis vezes maior do que a média do RS e do país. Saiu de R$ 14,4 bilhões no primeiro ano da análise para R$ 15,6 milhões. Um avanço de 7,4%.
“Temos um indicativo de que o Vale do Taquari consegue agregar valor a produção. Enquanto a economia gaúcha e brasileira depende muito do agro, da safra de soja. Boa parte exportada sem a manufatura”, avalia o presidente da Câmara da Indústria e Comércio da região (CIC-VT), Ivandro Rosa.
De acordo com ele, o PIB é importante para medir produção, mercado e vendas dos diferentes segmentos. Por outro lado, não dá uma ideia clara sobre os municípios. “É preciso avaliar outros indicadores. Pois temos municípios com um PIB per capita pequeno, mas com formatos autossuficientes. Por exemplo, uma família com lavouras de subsistência podem ter mais qualidade de vida do que outra que mora no centro de uma grande cidade.”
No total, alcançou os R$ 482,46 bilhões. Os 38 municípios do Vale do Taquari representam 3,2% do contabilizado em 2019. Os dados foram divulgados pelo Departamento de Economia e Estatística, da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG).
Resultados por cidades
Entre as 100 maiores economias gaúchas, seis são do Vale do Taquari. Lajeado segue como a principal cidade em termos de geração de riqueza. Ocupa a 17ª posição entre 497 municípios (confira a lista completa). O pesquisador em economia do DEE, Martinho Lazzari, considera que a manufatura de alimentos e os serviços como os fatores preponderantes.
Por ser uma cidade polo, processa grande parte da produção primária regional, avalia Lazzari. A partir disso, no resultado da fatia do PIB gaúcho e a comparação com a área do Vale (igual ao município de Alegrete), ficar com pouco mais de 3% é significativo. No entanto, estudos mostram que a participação já foi maior, alcançando 4%.
Para retomar maior participação, o pesquisador ressalta a necessidade de agregar mais valor à produção. Junto com isso, há como desenvolver os serviços. “O turismo é uma opção. Mas também, a proposta de desenvolver atividades especializadas, como na área da saúde ou de tecnologia da informação.”
Junto com isso, seria necessário que os municípios menores reduzissem a dependência do setor agrícola, atraindo investimentos para indústria e serviços, realça.
Quando se avalia todo o RS, a capital atinge 17,1% do total gaúcho. Porto Alegre chegou a R$ 82,43 bilhões. Caxias do Sul teve um PIB de R$ 27,01 bilhões (5,6%).
RS no país
A participação no PIB gaúcho no país em 2019 manteve-se em 6,5%, fazendo com que o Estado permanecesse na quarta posição do ranking nacional, atrás de São Paulo (31,8%), Rio de Janeiro (10,6%) e Minas Gerais (8,8%). Após o RS, aparece o Paraná (6,3%) e de Santa Catarina (4,4%).
As informações fazem parte do Sistema de Contas Regionais 2019, que agrega novos dados, mais amplos e detalhados, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entrevista
Martinho Lazzari • Pesquisador em economia, do Departamento de Economia e Estatística
“Podemos antecipar que haverá uma queda muito grande nos municípios”
• Grupo A Hora – Tendo em vista o resultado do Estado e dos municípios. Quais foram os resultados que chamam mais atenção em 2019?
Martinho Lazzari – Crescemos abaixo do Brasil. Foi apenas 0,1%, mas mostra que o avanço do PIB foi pouco expressivo. A agropecuária não teve um bom ano, acabou puxando nossa economia para baixo da média. A lavoura de soja não teve uma colheita expressiva. De maneira geral, não foi um bom ano. Com o agro em queda, também houve reflexos sobre a indústria e sobre o comércio.
Esses são setores chaves para o PIB. Cabe ressaltar que foi um período vindo de uma crise prolongada, lá do fim de 2014 e que se manteve.
• Quando se olha para o Vale do Taquari, o resultado comparativo foi de crescimento acima do RS e do país. Quais os motivos para isso?
Lazzari – Há uma conjunção de fatores. As maiores cidades, como Lajeado, Arroio do Meio, Estrela, Encantado, Teutônia, têm uma indústria muito forte. O setor emprega bastante, aumenta a renda das famílias. Como consequência demandam serviços. Isso gera valor adicionado a partir dessa base do agronegócio, dos alimentos.
Além do segmento das proteínas, há outras indústrias de pequeno e médio porte com importante participação econômica. Por haver agregação de valor, ocorre o contrário de cidades onde a produção primária é a principal fonte de receita.
Nas regiões com lavouras de soja, por exemplo, não há valor agregado, não há giro econômico. Os caminhões são carregados com a colheita e vão para exportação. Reflete na economia geral do RS, mas sem movimentar outros setores nas cidades.
• As análises do PIB municipal têm defasagem de 2 anos. A curva temporal dos dados mais recentes não mostram o impacto da pandemia ou da seca que atingiu o estado no fim de 2019 e primeiros anos de 2020. O que se pode antecipar sobre os próximos resultados?
Lazzari – Temos uma estimativa prévia de queda em 6,8% para 2020. É a maior já registrada na história gaúcha. Será o primeiro ano em que o PIB nominal vai cair. Tudo por o evento atípico, principalmente da pandemia.
Sem dúvida, podemos antecipar que haverá uma queda muito grande nos municípios. Não podemos antecipar quais serão os mais atingidos, mas tanto a produção de grãos quanto os serviços foram os mais atingidos.
• Com relação ao período subsequente, de uma retomada em 2021 e como será 2022?
Lazzari – Os dados até agora mostram retomada econômica neste ano. Agora, percebemos acomodação. Após uma forte alta a partir do segundo semestre, há uma estabilização. Isso mostra que fomos perdendo fôlego para manter os patamares elevados. Embora haja setores produzindo bastante, os custos da inflação, dos insumos dificultam uma recuperação consistente.
O ano de 2022 será problemático. Os juros altos, a perda de poder de compra das pessoas, interferem sobre investimentos privados e sobre a produção.