Data que dá nome a uma rua de Lajeado, o 17 de dezembro de 1894 foi marcado por um conflito histórico, quando os federalistas invadiram o município para tomar a então vila que se formava no lugar. O episódio ocorreu durante a Revolução Federalista, que se estendeu entre 1893 e 1895, e teve figuras importantes do lado republicano que se tornaram heróis.
Motivados pelo interesse em fazer com que o Rio Grande do Sul se libertasse das mãos de Júlio de Castilhos, então presidente do estado, e na busca por um governo descentralizado, o plano dos federalistas era invadir a vila na véspera do dia 17. Era um domingo, e a população participava de corridas de cavalo no então chamado Passo do Lajeado, nas proximidades da atual ponte entre o município e Estrela.
De acordo com a pesquisa do historiador José Alfredo Schierholt, naquele dia, uma mulher pobre e andarilha, Maria José Rodrigues, apelidada de Canjiquinha, foi presa pelos sentinelas federalistas, também chamados de maragatos, no Arroio Forqueta, onde muitos revolucionários se concentravam, vindos da região alta do Vale do Taquari.
“Consideram-na inofensiva. E ela, fazendo-se de boba, foi solta, retornou de imediato à vila de Lajeado, e contou o que estava acontecendo”, relata Schierholt.
Os republicanos haviam concordado em não entregar a vila sem lutar e se postaram no prédio de Antônio Fialho de Vargas, conhecido como “o sobrado” na parte mais alta do lugar. Também estavam entrincheirados na praça e na Igreja Santo Inácio e, no centro, soldados conhecidos como “bahianos” estavam preparados para receber o inimigo.
A invasão
No dia seguinte, a invasão se deu por três lados: um grupo pelo antigo cemitério católico; outro chegou pelo Engenho e pela rua Júlio de Castilhos; e o terceiro pelo bairro Moinhos.
A vila estava sendo guarnecida por 85 homens armados, sendo 42 civis. Com a vinda de mais 22 combatentes da Brigada Militar e voluntários de Estrela, a luta terminou após 3 horas de combate cerrado.
O evento virou nome de uma rua no Bairro Hidráulica por meio de um decreto de 6 de novembro de 1957. Ela faz parte da Rua Bento Rosa até a Avenida Paraíba. No início, era apenas um trilho por onde se comunicavam os primeiros habitantes do chamado Morro dos Negros. De acordo com Schierholt, em 1911, o trilho foi alargado para servir de rua.
Uma carta traduzida
O historiador Wolfgang Hans Collischonn também narra o 17 de dezembro de 1894 no livro “Os maragatos do Vale do Taquari”, em que traduziu histórias do alemão Michael Schauren sob o título “Wahre Freundschaft” (Amizade verdadeira) e “Aus Grossvaters Zeiten” (Nos tempos de meu avô). Os textos estavam arquivados nos almanaques da Igreja Católica.
Na carta, o acontecimento é descrito: “Os maragatos atiravam com tal fúria em direção dos defensores do sobrado que parecia que todos os maus espíritos se soltaram do inferno”. Ao fim do conflito, entre as vítimas, estava o empresário Emil Carrard, atingido por um tiro nas costas e no estômago.
Um mistério envolve a morte de Carrard que foi encontrado sem o relógio. Outra curiosidade é ele ter sido baleado nas costas enquanto lutava com o rosto voltado ao inimigo. Adolf Marder também morreu na batalha e supõe-se que uma mesma bala tenha matado os dois.
Fim do conflito
Diante das forças republicanas, os federalistas não conseguiram apoderar-se de Lajeado, que também teve Santos Filho como membro da resistência. A carta conta que assim que clareou o dia, uma banda tocou o hino nacional e em seguida estouraram alguns foguetes. “Parecia que surgia vida na cidade e quando a música começou, via-se maragatos fugindo em todas as direções, pois pressentiam coisas nada boas para eles”, foi relatado.
A Emil Carrard, foi erguido um túmulo de mármore no antigo cemitério local, que ainda existe, com a descrição em alemão traduzida por Collischonn: “Aqui descansa em Deus o nosso querido pai e filho Emil Carrard, nasc 26.8.1869 – morto no combate em defesa de Lajeado em 17.12.1894”.