Além de atenção e carinho, investimento

Mercado PET

Além de atenção e carinho, investimento

Nos últimos anos, a relação entre tutores e animais de estimação mudou, e a região vê surgir novos serviços de hospedagem, alimentação e estética voltados para pets

Além de atenção e carinho, investimento
Além de hospedar animais de estimação, Rudinho Bombassaro também treina cães. Crédito: Bibiana Faleiro
Vale do Taquari

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Eles ficam em hotéis e possuem cuidadores. Tem acesso a piscinas adaptadas, áreas de lazer, e são tratados, por muitos, como membros da família. Nos últimos anos, a relação entre animais de estimação e seus tutores mudou e, hoje, o setor pet apresenta um leque de oportunidades de serviços e negócios. Na região, o movimento também é percebido no aumento de estabelecimentos adeptos ao conceito pet friendly e espaços próprios para receber os animais.

O termo, em tradução livre, significa “amigável aos pets”, e é utilizado para descrever lugares e eventos que aceitam bichos de estimação. No Vale do Taquari, o Shopping Lajeado é um deles.
A adesão foi feita em 2019, quando a instituição percebeu o aumento no número de clientes que já visitavam o espaço com os pets. Depois disso, foi inaugurada uma loja da Apama e uma área de petshop.

De acordo com a profissional de marketing, Amanda Hepp, o acesso é liberado em todos os corredores do primeiro andar. Já na praça de alimentação, apenas cães-guias podem acessar.
Nos elevadores e escadas rolantes é indicado que o animal seja levado no colo para evitar acidentes ou lesões. O acesso das lojas fica a critério de cada operação, mas, em Lajeado, todas são pet friendly.

O local também oferece um carrinho especial para o transporte de animais como gatos, coelhos, aves ou cães de pequeno porte. Mas também há algumas regras e o tutor deve recolher os dejetos do pet, enquanto a limpeza do local é feita pela instituição. “Com mais lugares aderindo ao pet friendly, a circulação de pets no shopping cresceu nos últimos anos”, destaca Amanda. Entre os visitantes, estão os cães Luke e Belca.

Cães blogueiros

Natural de Estrela, Tais Greskoviak é tutora dos animais que, desde maio, possuem a página no Instagram @luke_belca. A ideia era postar fotos e vídeos do dia a dia dos cães, de forma amadora. Mas os conteúdos ganharam o gosto do público e, hoje, os pets já possuem mais de 7 mil seguidores nas redes sociais.“Com esse vídeo, muitas pessoas me chamaram para elogiar o Luke, que é um husky siberiano. Elas não conheciam essa raça e ficaram apaixonadas”, conta Tais.

Tais criou uma página no Instagram que já possui mais de 7 mil seguidores. (Arquivo Pessoal)

Onde ela vai, os cachorros a acompanham. Por isso, lugares que aceitam animais são sempre os preferidos. Durante os passeios, Tais também toma alguns cuidados. Leva papel, sacolas, água e, antes de entrar em um ambiente fechado, procura deixá-los na rua para que façam as necessidades.

Para ela, os animais são também parte da família. “Eu não me considero uma dona de cachorro, me considero uma mãe porque eu daria minha vida por eles”, destaca.

Mercado em potencial

Junto a essa mudança cultural, cresceu também a oferta de serviços e produtos para os animais. Conforme levantamento do Sebrae, o chamado mercado pet aumenta de forma exponencial no Brasil, e reflete uma tendência global.

Mesmo em meio a pandemia, o segmento cresceu 13,5% em 2020, em comparação com 2019 e deve alcançar 20% de elevação em 2021. Esta relação cada vez mais afetuosa entre tutores e pets criou um leque de produtos e serviços que vão desde alimentos e brinquedos, a roupas, banho, tosa, passeios e hotéis.

Veterinária formada, Glaucia atua desde 2014 com “pet sitter”, também conhecido como “pet home care”, com cuidados dos animais na casa dela ou de clientes. Os mais comuns são cães e gatos. Mas, ao longo dos anos, ela também já cuidou de cavalos, galinhas, gansos, hamster, rato, pássaros e de uma tartaruga.

“Essa ideia surgiu porque nós deixamos muito de viajar por não ter quem cuidasse dos nossos bichinhos, e pensamos que mais pessoas pudessem estar com essa dificuldade também”, conta. Nos primeiros dois anos, não foi fácil a aceitação. Pioneira na região, hoje já existem outras pessoas que exercem a profissão.

O serviço requer confiança. Ela conta que em uma ocasião, a tutora deu a chave errada do

Shopping Lajeado oferece carrinhos para tutores levarem seus pets, Crédito: Divulgação

apertamento e, para cuidar do pet, ela teve que pedir a ajuda dos vizinhos e de um chaveiro.

Um hotel para pets

Também na procura por um local onde deixar os pets durante as viagens, o casal Michele Henrich e Lucas Rodrigues, criou um hotel em Conventos, chamado Pet House. Hoje, o espaço atende cães de pequeno e médio porte, com serviço de hotel, creche, banho e tosa, adestramento e pet sitter, uma espécie de babá. Os hóspedes ficam soltos no pátio anexo à residência do casal.

“Decidimos criar uma proposta diferente. Buscamos treinamentos e montamos um local onde os animais ficam soltos e convivem com a natureza e com a nossa família”, destaca Rodrigues.
O casal também acredita que, apesar de muitas pessoas verem os pets como membros da família, muitos locais ainda não tem estrutura para que o animal participe dos passeios.

Assim, para que possam viajar e trabalhar com tranquilidade, muitos tutores procuram o hotel. A época de maior demanda é no Natal e Ano-Novo. Também em Lajeado, outro local que recebe animais de estimação é o Espaço Pet, administrado por Rudinho Bombassaro, especialista em psicologia canina.

Entrevista

“Esse comportamento nosso de humanizá-los não é saudável”

Especialista em psicologia canina, Rudinho Bombassaro começou sua história com cães no início dos anos 2000. Depois de ir aos Estados Unidos para estudar com um dos maiores comportamentalistas animais do mundo, Cesar Millan, voltou ao Vale do Taquari para ensinar a prática.

Hoje, ele percebe um aumento na procura dos serviços, e vê cada vez mais pets como membros das famílias. Mas ressalta a importância de não tratá-los como seres humanos.

Você também trabalha com a reabilitação dos cães. Como é esse serviço?

Trabalhamos com dois serviços de comportamento de cães. Eu trabalho com equilíbrio e obediência, e reabilitação. O primeiro é voltado para cães jovens que tenham uma idade de até três anos. Sempre digo que de zero a oito meses ele é uma criança, depois até o 3º ano é um adolescente.

É uma idade muito bacana porque o cão nessa fase não tem vícios, manias ou traumas mais profundos. A parte de reabilitação é voltada para cães mais velhos, que tenham cinco ou seis anos que já chegam na fase adulta com traumas. Cães imperativos, agressivos, com fixações, fobias ou agressividade em zona vermelha, que já mataram outras espécies ou já morderam o dono.

Qual é a diferença entre o adestramento e a psicologia canina?

Eu costumo dizer que eu não adestro cães, a gente equilibra cães e treina pessoas. No adestramento, a gente ensina uma palavra em cima da ação que ele vai fazer. Na psicologia canina é possível moldar o comportamento do cão do ponto de vista dele.

Esse comportamento nosso de humanizá-los não é saudável, porque torna o animal totalmente dependente do tutor. Fisicamente não vamos estar alterando nada, mas mentalmente pode causar um sério desequilíbrio de comportamento. Hoje temos um grande número de cães e gatos vindo para o serviço e não são animais que antes ficavam na corrente, mas vistos como membros da família.

Quais são os cuidados que os tutores devem ter ao levar os pets a espaços públicos?

As pessoas têm que ter confiança, porque se for de porte grande, os outros cães e crianças podem se assustar, principalmente quando o animal não é sociável. Se o tutor não tem uma ligação com o cão e larga ele em um parque, ele pode também não voltar. Nestes casos, é aconselhável levá-los em guias de passeio. É importante levá-los para caminhar para gastarem energia e deixá-los feliz no resto do dia.

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