Peregrino cruza cinco estados até o Chuí

para pagar promessa

Peregrino cruza cinco estados até o Chuí

De Cuiabá à fronteira com o Uruguai, mato-grossense enfrenta caminhada de 3 mil quilômetros, cumprindo juramento feito em 2013 e renovado durante a pandemia. Aventura tem pausa em Teutônia e segue rumo ao litoral

Peregrino cruza cinco estados até o Chuí
Peregrino chegou à região na terça-feira e segue caminho de mais de três mil quilômetros até a fronteira com o Uruguai. (Foto: Jhon Tedeschi)
Brasil

Mais de três mil quilômetros de estrada para pagar uma promessa. Esse é o desafio que o cuiabano Lindomar Araújo enfrenta desde o dia 9 de outubro, quando saiu em peregrinação do Mato Grosso com destino ao Chuí, no extremo sul gaúcho. Na terça-feira, 30, ele chegou ao Vale do Taquari, onde fica até a próxima semana.

A história de Araújo começa em 2013. Na época, um integrante da família sofria por um problema de saúde. Durante a caminhada, ele prefere não detalhar esses episódios. “Não quero que essa pessoa se sinta culpada por eu pagar essa promessa.” Durante a pandemia, após outras situações de doença com parentes e amigos, ele aumentou o objetivo final e definiu sua chegada no ponto mais ao sul do Brasil até 2022.

O peregrino se organizou de modo a concluir o trajeto em três meses. O começo foi de bicicleta, com o auxílio da esposa, que o acompanhou nos primeiros cinco dias, por cerca de 600 quilômetros, até São Gabriel do Oeste, no Mato Grosso do Sul. Desde então, Araújo segue sua caminhada.

Para a viagem, o aventureiro conta com uma mochila cargueira, que ele carrega em uma espécie de carrinho de feira. Em Soledade, um dos pneus ficou danificado e a mochila com mais de 40 quilos foi para as costas do peregrino durante um dia inteiro de caminhada. “Um primo meu buscou ela em Marques de Souza e levou até Teutônia”, lembra.

O primo citado, Jairo Luiz Miguel, chama Araújo de “o pagador de promessas” e se diz muito orgulhoso. É na casa dele que o peregrino ficará hospedado nos próximos dias. “Poucos teriam condições e capacidade de fazer o que ele está fazendo.”

Força mental na estrada

O cansaço físico é presença constante. Em alguns dias, ele relata ter feito 55 quilômetros, embora a média seja de 40 quilômetros por dia. “Depois dos 30 quilômetros o corpo começa a sentir, mas eu já sabia que seria assim e vim preparado mentalmente”, relata.

Araújo valoriza a reflexão que o tempo na estrada proporciona e a possibilidade de repensar atitudes, sobre o que é certo e errado. “É inegável que, na maioria do tempo, principalmente à tarde, há uma briga com duas vozes na cabeça: uma que diz, ‘pra que você está fazendo isso, que loucura é isso aí?’, e a outra te incentivando. Eu tento bloquear aquela negativa e ouvir só a positiva, porque essa vai fazer eu deslanchar.”

A saudade da família aperta em vários momentos. Mas algumas situações na estrada devolvem a energia e o ânimo para o caminhante, como pessoas que dão uma palavra de apoio, entregam uma garrafa de água, entre outras coisas.

Passagens marcantes

Alguns fatos ao longo da caminhada ficarão para sempre na lembrança de Araújo. Uma parada para arrumar os tênis definiu um encontro improvável. “Um senhor, do outro lado da rua, me chamou para almoçar com a família. Ele veio conversar comigo, gostou da história e me convidou para a casa dele.”

Na BR-386, o aventureiro conheceu um andarilho conhecido como Polaco, que anda pela rodovia há mais de 20 anos, de ponta a ponta. “Ele me deu muitos conselhos, sobre a rodovia e os cuidados que eu precisava ter. São histórias bacanas que a gente leva para o resto da vida, com pessoas que tem pouco, mas te dão tudo que elas têm.”

Objetivo para a chegada no Chuí

A meta de Araújo é chegar no extremo sul gaúcho na primeira semana de janeiro, já que no dia 10 do mesmo mês ele retoma o trabalho na segurança pública da capital mato-grossense. E o retorno que deve ser de ônibus não incomoda. “Para quem fez três mil quilômetros a pé, fazer dois dias de ônibus vai ser uma maravilha.”

E ele leva para a estrada uma mensagem, que serve como ensinamento. “Não desista dos seus sonhos. Agradeça mais pelo que você tem e reclame menos pelo que você não tem.”

 

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