O desafio de qualificar a produção de suínos no Vale do Taquari e reivindicar melhores condições aos produtores, fez surgir na década de 50, uma das mais importantes associações do setor. A união de 48 criadores deu início, em Estrela, a um novo ciclo com rebanhos selecionados para produzir menos gordura e mais carne, e assim, atender as novas exigências do mercado.
Ao criar a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) o grupo uniu esforços para melhorar a genética dos animais e selecionar as melhores raças. Neste sentido, com o apoio do governo, na década de 60 foram importados animais da Argentina, Estados Unidos e de países da Europa.
Entre as funções da ABCS, se estabeleceu o registro genealógico e o incentivo de exposições especializadas para seleção dos melhores suínos através de inspeção e provas zootécnicas. Isso fez as granjas instaladas no RS iniciarem a distribuição de reprodutores a outras regiões do país.
Mesmo com o escritório principal transferido para Brasília (DF) a unidade em Estrela mantém o registro de raças puras e a história da suinocultura. Na semana passada, o prédio construído em 1966 recebeu a primeira grande reforma. O objetivo é modernizar processos e preservar o pioneirismo da região no segmento de suínos.
Hoje, Estrela está entre os 20 maiores produtores do RS com um plantel de 90 mil suínos, mais de 90 produtores, o que corresponde a 35% do agronegócio no município. A sede da ABCS reinaugurada fica ao lado do escritório da Associação de Criadores de Suínos do RS (Acsurs) criada em 1972.
Reinauguração da sede
Estrela sustenta uma das bases essenciais para a cadeia produtiva, o Setor de Registro Genealógico de Suínos (SRGS), responsável por atestar a procedência de criação genética, identifica os animais, comprova sua composição racial e desempenho reprodutivo, além de garantir o cumprimento das inspeções sanitárias obrigatórias.
A reinauguração do espaço na semana passada contou com a presença de autoridades locais e do setor. O atual presidente da ABCS, Marcelo Lopes, recebeu os líderes de afiliadas, entre eles Valdecir Folador, da Associação dos Criadores de Suínos do RS (Acsurs). O prefeito de Estrela, Elmar Schneider, e o secretário de Agricultura, Douglas Sulzbach, também prestigiaram.
Durante a cerimônia, Lopes fez o resgate histórico e enalteceu o trabalho dos líderes da região. “Estamos na casa do suinocultor brasileiro. Toda a história do setor passa por aqui”, reforçou.
A obra para modernizar as estruturas iniciou no começo deste ano. Esta foi a primeira modificação do espaço desde 1966, quando a prefeitura de Estrela cedeu o local para o uso da ABCS. “Para nós que acompanhamos a obra de perto, etapa por etapa, ver o prédio todo remodelado é muito gratificante”, explica a assistente administrativa Karla Reckziegel.
ENTREVISTA
“O Vale tem um núcleo muito forte na suinocultura”
José Adão Braun • ex-presidente da ABCS
• A Hora – Como iniciou sua história na Associação Brasileira de Criadores de Suínos?
José Adão Braun – Quando me formei no colégio fiz a inscrição no processo seletivo ao cargo de secretário da entidade. Fui aprovado e comecei a aprimorar meu trabalho na área. Jamais imaginava que anos depois chegaria a função de presidente. Ao todo foram 23 anos de serviço à ABCS, participei de muitas etapas importantes no setor da suinocultura.
• Qual foi a importância da entidade no desenvolvimento da produção de suínos no Vale?
Braun – A região tem um núcleo muito forte de suinocultores e sempre afirmo que há um período antes da ABCS e o posterior. Com a entidades conseguimos lutar por direitos e enfrentar políticas de governo em desacordo com o produtor local, além de melhorar a qualidade do rebanho através da tecnologia. O maior orgulho é ver que tudo isso começou em Estrela e se preserva este importante espaço que agora passou por reforma.
• A suinocultura passou por diversas etapas de transformação nas últimas décadas. Como foi esse trabalho e quais as conquistas?
Braun – A nossa associação surgiu pois o mercado estava em busca de novos produtos. A gordura animal já não era mais um bom negócio. A banha que por muitas décadas foi importante moeda de troca, já não tinha mais seu valor. O governo também passou a importar o produto, o que tornou inviável a criação dos suínos. Para driblar este cenário, se buscou na genética, raças próprias para carne. Nesse aspecto a ABCS foi pioneira e inclusive, implantou em Estrela a primeira central de inseminação artificial.
• Hoje, quais são os maiores desafios da suinocultura?
Braun – Enfrentamos dificuldades em contornar a alta nos custos de produção. A alimentação dos animais entra nesta lista do que mais encareceu. Os insumos para produzir milho, por exemplo, mais que dobraram de preço em comparação à safra passada. Além disso, há uma grande preocupação com as condições do tempo, que frustraram as últimas colheitas. Nossa articulação é por ações dos governos para amenizar essas situações.