A estátua de Antônio Vítor Sampaio Menna Barreto, considerado o fundador de Estrela, será tema de um bate-papo na tarde deste domingo, 28, a partir das 15h, na praça que leva o seu nome. Promovida pelo Grupo de Cultura Afro Black, a atividade visa, do ponto de vista histórico, contestar a homenagem. O monumento foi inaugurado em maio de 1988.
Segundo a coordenadora do movimento, em Lajeado, Camila Marques, é preciso indagar sobre “as razões pelas quais existem, em pleno 2021, representações de indivíduos que escravizaram e prenderam outras”. “É um questionamento que queremos trazer para a comunidade, em especial quando sabemos das marcas deixadas pela escravidão. Somos frutos de uma sociedade racista, que não respeita o ser humano por causa da sua cor”, argumenta Camila.
Contexto
Uma das participantes será a doutora em ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD), da Univates, Karen Pires. “Estamos em momento que não podemos mais conviver com símbolos e monumentos que oprimem, signifiquem violência, como foi o caso do escravismo”, justifica. Assim, a intenção é problematizar o significado, a expressão da estátua.
Para Karen, a população local desconhece o panorama e é importante levantar esse tipo de discussão, difundir o conhecimento junto à comunidade a respeito do passado, seja sobre Menna Barreto ou de outros nomes envolvidos com mão de obra. “O sistema escravista na região sempre foi citado como brando e dava a ideia de que negros e senhores brancos tivessem uma relação amistosa. Com as pesquisas junto ao PPGAD, verifiquei um grande volume de documentos que mostram uma escravidão grande, uso de castigos”, conclui. O poeta lajeadense Maurício Rodrigues e o músico Gustavo Coimbra também participarão da atividade.
Prática comum na época
Autor do livro “Estrela Ontem e Hoje”, publicado há 20 anos, o historiador José Alfredo Schierholt reconhece o fato de Menna Barreto ter sido um senhor de escravos. Contudo, salienta que essa era uma característica de todos os grandes empresários, donos de terra, do século 19.
Ele possui uma ótica distinta. “Aqui, a relação entre negros e brancos foi bem diferente que em outros lugares do Brasil, como no Sudeste. Eles possuíam uma convivência pacífica”, avalia Schierholt. Para o historiador, as pessoas costumam generalizar a questão e isso pode acarretar em confusões, como nas críticas de lideranças às homenagens de personalidades da história.
Outros exemplos
Embora o movimento de Estrela seja voltado ao debate, há discussões sobre estátuas de figuras históricas que resultaram em depredação ou retirada do monumento, na região, Brasil e no exterior.
Em 2014, a Prefeitura de Taquari derrubou o monumento em referência ao ex-presidente Costa e Silva, então localizada na praça central. O motivo foi o relatório da Comissão Nacional da Verdade, que apontou o envolvimento dele na tortura, morte e desaparecimentos de pessoas durante o Regime Militar.
Nos últimos anos, manifestantes e/ou autoridades da Argentina, Colômbia e EUA replicaram a atitude, em relação aos bustos do navegador genovês Cristóvão Colombo. O argumento é de que Colombo teria sido responsável direto ou indireto pela morte de milhares de indígenas.
Em julho deste ano, a estátua de Borba Gato foi incendiada em São Paulo. Historiadores apontam que o o bandeirante capturou e escravizou indígenas e negros no século 18. Nas situações, todos os envolvidos alegaram que era uma revisão de conceitos ou “reparação histórica”.
Quem foi Menna Barreto
Membro de uma tradicional família que se difundiu nos meios político e militar desde o Brasil Império, Antônio Vítor Sampaio Menna Barreto (1825-1891) iniciou a colonização da sede do núcleo urbano de Estrela, ao erguer o sobrado no qual viveu com a família. Historiador e pesquisador de Estrela, Airton Engster dos Santos detalha: “A estátua foi feita em homenagem ao Menna pela urbanização da cidade, pela organização das ruas. Foi ele quem doou a área da praça, da igreja, do cemitério, e do antigo prédio onde hoje está a prefeitura que servia como espaço de intendência e Câmara de Vereadores. E é por esse motivo que ele foi homenageado”, destaca.