A terceira safra consecutiva sob ameaça de fatores climáticos eleva a preocupação no campo e reacende debates sobre irrigação e armazenamento de água. O assunto está entre as demandas da Consulta Popular e também deve compor as prioridades do programa Avançar na Agricultura, do governo gaúcho, previsto para ser lançado em dezembro.
Ainda sem definir valores, o Piratini sinaliza a disponibilidade de recursos para a garantia hídrica nas propriedades. A Frente Parlamentar para a Agricultura Gaúcha, presidida pelo deputado Elton Weber (PSB), defende a destinação de, pelo menos, R$ 50 milhões.
No início da semana, parlamentares se reuniram com os secretários Artur Lemos (Casa Civil), Silvana Covatti (Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural), Cláudio Gastal (Planejamento, Governança e Gestão). Novas reuniões estão previstas para os próximos dias com o propósito de alinhar os detalhes do Avançar na Agricultura.
Em 2020, o Vale do Taquari recebeu apenas R$ 60 mil do Estado para 16 projetos de irrigação, desenvolvidos pela Emater/RS-Ascar. “Os programas já existem, faltam recursos para colocar em prática. Quando se fala em irrigação e abastecimento das propriedades temos que pensar em cifras bem maiores”, defende Weber.
Na avaliação do deputado, irrigar pequenas áreas, até 5 hectares por estabelecimento, garante maior segurança alimentar em períodos de estiagem e reduz os impactos econômicos nos pequenos municípios. “A Frente Parlamentar está há dois meses pressionando o governo sobre ações permanentes para garantir recursos hídricos nas propriedades. Isso não pode ser apenas um programa político”, reforça.
La Niña e secas
O Vale do Taquari sofreu uma das piores secas entre 2011 e 2012. Foram dez meses de pouca chuva. Como resultado, o prejuízo nas lavouras chegou a R$ 40 milhões. Naquele período, a justificativa para a pouca chuva foi devido ao fenômeno La Niña, marcado pelo esfriamento das águas do Pacífico Equatorial. Com isso, as frentes frias chegam com menos frequência ao RS.
O cenário não foi diferente em 2019 e 2020. Das 36 cidades acompanhadas pela regional da Emater de Lajeado, 26 contabilizaram perdas nos cultivos de grãos, leite e criação de gado. Várias comunidades do interior enfrentaram o racionamento de água. No aspecto econômico, a queda de receita dos agricultores interferiram no comércio, indústria e serviços.
Recursos insuficientes
Os recursos disponibilizados pelos governos nos últimos anos foram insuficientes para atender todas as áreas afetadas pela estiagem no RS. De acordo com o supervisor regional da Emater, Marcelo Brandoli, dos mais de 2 mil açudes construídos no estado, apenas 30 foram no Vale do Taquari.
“A zona Sul foi muito castigada na ocasião e a maior parte dos investimentos atendeu famílias daquela região. Agora com o Avançar na Agricultura fica a expectativa de contemplar uma parcela maior dos municípios”, avalia Brandoli.
O supervisor reitera ainda a necessidade de ampliar o debate a fim de conscientizar a comunidade sobre a importância de preservar os recursos naturais e incrementar ações para armazenar água durante todo o ano.
Em sua concepção, a tendência para os próximos anos é de períodos mais prolongados sem chuva. “Percebemos que na maior parte dos meses as precipitações ocorrem dentro da regularidade. Mas, há períodos de seca e por isso precisamos estar preparados”, reforça Brandoli.
Licenciamento e outorga
Seminário previsto para 16 de dezembro em Encantado, busca esclarecer dúvidas sobre licenciamento e outorga de fontes hídricas. O evento da Emater aborda as mudanças na legislação que torna obrigatória a identificação e o registro de poços. Em relação aos açudes ou cisternas para irrigação, a dispensa de licença ambiental vale para áreas de até 5 hectares.
Investimentos em 2020
Vale do Taquari recebeu R$ 60 mil. O recurso do Estado contemplou 16 produtores e possibilitou a abertura de 30 açudes. O total investido no RS foi de R$ 900 mil para 245 agricultores de 137 municípios.