O dia amanhecia em Cruzeiro do Sul e Guilherme Webber (20) reclamava consigo próprio por ter dormido tão pouco. Em uma hora ele teria que ir trabalhar, mas não era este o motivo que atrapalhou seu sono. A programação do sábado a tarde é que o deixava ansioso. Afinal, esta seria sua primeira vez no Beira-Rio para ver um jogo do Internacional. E logo num Gre-Nal.
“Há um ano falo sobre meu primeiro jogo no estádio ser em um Gre-Nal. A ideia nasceu um pouco antes da pandemia. Pensei se ia ou não, mas por ser Gre-Nal a decisão foi lógica. O site ainda deu problema, só consegui comprar na segunda leva e quando o ingresso chegou na minha mão foi uma emoção”, conta.
Guilherme fez parte da excursão colorada, que saiu do Posto Faleiro, em Lajeado, no dia 6 de novembro, acompanhada pela reportagem do Grupo A Hora, em direção ao Gre-Nal 434. A saída da cidade aconteceu às 15h, mas essa jornada iniciou bem antes.
A exemplo de Gabriel, que não conseguiu dormir direito e saiu de sua cidade por volta do meio-dia, a organização para a partida já acontecia há alguns dias. Segundo Carine Ellis, cônsul do Inter em Lajeado, ainda no dia 2 (terça-feira), já havia sido dada a largada para a realização do processo de reunião dos nomes dos sócios para conferência do clube e abertura de lista de confirmações para o ônibus.
“No dia do jogo, já começamos a nos organizar uma hora antes da saída da excursão, que sempre procuramos marcar com três ou quatro horas de antecedência para termos uma viagem tranquila e tempo de segurança para algum imprevisto. Ao chegar no Beira Rio, auxiliamos quem precisa de ajuda com entrada e deixamos marcado um ponto de encontro para retorno”, explica.
Além de Lajeado, os colorados de Marques de Souza, Travesseiro e Estrela sempre estão presentes nas excursões. De acordo com Carine, também é comum a presença de torcedores de Arroio do Meio, Teutônia, Fazenda Vilanova e Canudos do Vale. O grupo também faz parceria com membros das torcidas organizadas Nação Independente e Camisa 12, o movimento das Gurias do Inter do Vale do Taquari, entre outros.
Neste dia, a excursão contou com a participação de Gerson Solforoso (43), integrante da Camisa 12, que apontou a boa relação entre os grupos colorados na região e ressaltou que a missão de todos é ajudar na construção da grandeza do Inter. Segundo o torcedor, a relação não é tão contínua devido a episódios ocorridos.
“Muitas vezes viemos juntos com o Consulado, mas um componente não tinha muito respeito com as meninas do grupo. Somos do interior, não somos arruaceiros. Quando vamos para capital acabamos nos comportando como a maioria. Uma vez, acabou acontecendo essa situação, que deixou as meninas ofendidas. Por isso, para evitar problemas, optamos por ir por conta”, explicou.
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Para começar a festa
Mais do que poder voltar a assistir o Inter no Beira-Rio, o Gre-Nal deixou todos ainda mais empolgados. Afinal, era uma chance de colaborar com a campanha negativa que o Grêmio faz e que pode resultar no rebaixamento do clube. Prova disso é que alguns torcedores aceitaram fazer aquela jornada pela primeira vez para não perder essa oportunidade.
É o caso de Gabriel Gatti, estudante de 16 anos, aluno do 1° ano do Ensino Médio e morador de Cruzeiro do Sul. O jovem acordou às 7h da manhã, saiu de casa às 10h, almoçou em Lajeado e esperou até às 15h. O motivo? Alcançar a tão esperada vitória. “ Vamos pegar o Grêmio. Vamos descer eles para a B”, afirma.
“Hoje é vitória e fazer o Grêmio ir para a Série B”, reforçou Gabriel, desta vez o Rodrigues (19), também de Cruzeiro do Sul. Frequentador do Beira-Rio com amigos e familiares, era também sua primeira vez com a excursão. “Estamos nos programando a semana inteira para isso. Não tenho tanto o hábito de me misturar com outras cidades, mas hoje é um dia especial”, explica.
Na excursão, o amor ao Inter é compartilhado entre amigos e também casais. Eder Arrugueti (20) e Mariana Lopes de Mello (19), estavam ansiosos para voltar ao Beira-Rio juntos. Afinal, a primeira vez que dividiram a arquibancada foi no Gre-Nal 423, disputado pela semifinal da primeira fase do Campeonato Gaúcho de 2020, que o Inter perdeu por 1 a 0. “Vamos ver se ela não é pé-frio”, brinca Eder.
A presença de Mariana não é à toa. A frequência feminina cresce a cada dia no estádio e nas excursões. Para Alenia Baialardi (38), especialista em RH na cidade de Estrela, ir aos jogos é um compromisso de família. Ao lado do marido, Francis Canterelli (41), e da filha, Maria Eduarda, de dez anos e que os acompanha desde os cinco, ela nunca deixa de ir ao Beira-Rio aos finais de semana.
“Hoje as mulheres têm um lugar bem legal no estádio. Muitas vão sozinhas. Se eu não fosse com o marido, iria sozinha. Tenho amizades com as gurias do Vale. A mulher participa muito. E tomara que isso só aumente”, comenta.
A próxima partida que os torcedores do Inter vão acompanhar já tem data para acontecer: o próximo sábado (13), às 19h, contra o Athletico-PR.