Uma árvore milenar de tronco largo e muitas ramificações. Sagrado para os povos africanos, o Baobá é símbolo da vida e será plantado no Jardim Botânico de Lajeado neste sábado, às 15h, para marcar o mês da consciência negra no município. A iniciativa é da prefeitura com o apoio do Centro de Cultura Afro-Brasileira de Lajeado e outras entidades e se estenderá até o dia 20, com exposições artísticas, palestras, oficinas, dança e música.
Babalorixá Nando do Candomblé fará o plantio do Baobá ao lado de outros adeptos do Candomblé, religião em que a árvore é simbólica. O ato será em homenagem às comemorações do ano cinquentenário do 20 de Novembro no estado, Dia da Consciência Negra, que homenageia Zumbi dos Palmares, o líder do Quilombo de Palmares, morto neste dia, em 1695.
“A árvore simboliza a vida na África porque na época da seca, ela armazena muita água e tem lugares em que as pessoas fazem furos no tronco para coletá-la”, destaca o babalorixá. A planta também serve de sombra, e é debaixo dela que as crianças estudam em muitas escolas do país. Além de fazer parte da culinária africana.
É uma árvore que leva centenas de anos para se desenvolver e pode viver até 6 mil anos. “A gente não vai estar aqui para vê-la, mas ela vai levar o recado, que é o importante. Vai estar lá para combater o preconceito que infelizmente ainda existe e que está encravado na nossa sociedade. As pessoas têm que ter consciência e esse é um ato muito bonito que estamos fazendo em homenagem à essa luta”, ressalta Nando.
Uma planta que se adapta ao calor, no inverno, o Baobá exige cuidado e será coberto por uma estufa para garantir que sobreviva ao clima da região. A responsável pela Casa de Cultura Ana Paula Vieira Labres conta que encomendou a árvore por meio do Jardim Exótico e que todas as sementes do Baobá são transportadas da África.
Luta pela representação
Entre os objetivos do mês da consciência negra, está acabar com o preconceito e colocar os negros à vista da sociedade. “Queremos que as pessoas nos vejam não como um povo que foi escravizado, mas como pessoas que podem ter os mesmos direitos de todas as etnias”, destaca a presidente do Centro de Cultura Afro-Brasileira de Lajeado, Sílvia Adriana Estanislau Lima.
Durante a programação do mês, ela fará horas do conto, com títulos de autores e histórias de pessoas negras. Entre eles, está o livro “Flávia e o bolo do chocolate”, de Míriam Leitão. “É importante termos essas obras para as crianças negras também se sentirem representadas”, destaca Sílvia.
Natural de São Paulo, ela veio ao estado com a família e diz ter percebido o quanto a cultura do Rio Grande do Sul é forte com a descendência italiana e alemã. Os negros, no entanto, também foram figuras importantes para a história dos municípios, e nem sempre são lembrados.
E é justamente esse o objetivo do Centro, colocá-los em evidência por meio da arte, das danças, da música e da religião. Também integrante do grupo, Lisiane dos Santos é professora de dança e, durante as atividades, busca resgatar essa ancestralidade do povo negro e compartilhar informações sobre a cultura com movimentos, objetos e pinturas no rosto.