Os dados referentes a geração de emprego na região têm mais um mês de resultados positivos. Em setembro, a partir do cálculo de 38 cidades, foram criados 781 postos de trabalho. Trata-se do sexto mês seguido com mais contratações do que afastamentos.
No ano, apenas março ficou no vermelho. Naquele mês, o avanço da variante de Manaus do novo coronavírus levou todo o RS para bandeira vermelha. Com mais restrições na circulação de pessoas, houve a extinção de 148 vagas com carteira assinada.
Os dados foram apresentados pelo Ministério do Trabalho e Previdência, com base nas informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Pela transmissão, feita no fim da manhã de ontem pelo Youtube, também se apresentou revisões dos meses anteriores, com ajustes sobre afastamentos por motivos como licença saúde, suspensão de contrato, avisos prévios concedidos e retirados.
No geral, de janeiro até setembro, o Vale contabiliza 5.351 postos criados. Quando se olha de agosto de 2020 até o mês passado, o saldo positivo supera os 8,7 mil novas carteiras assinadas. Para a economista Fernanda Sindelar, os resultados são uma amostra da retomada produtiva após 2020.
Entre os segmentos, os serviços e a indústria despontam como indutoras da empregabilidade. Na análise dela, é preciso olhar os números com parcimônia, pois ainda há muita instabilidade no mercado. “A maior preocupação é a inflação e os custos de produção. Com as altas dos combustíveis, não sabemos até onde a população pode suportar.”
De acordo com ela, esse quadro pode interferir sobre o Produto Interno Bruto (PIB) e mitigar a perspectiva de alcançar algo próximo dos 5% de crescimento no ano. “Estamos muito longe do que já fomos.”
Com relação ao fim do ano, Fernanda acredita que o Vale permanecerá com saldo positivo. Muito por conta das vagas temporária. Ainda assim, com o encolhimento do poder de compra, acredita em menos consumo, com uma queda no tíquete médio dos presentes.
Volume expressivo
“Não é só o saldo positivo. Temos um volume de novos empregos expressivo. Em agosto e setembro, são mais de 1,5 mil postos”, destaca o presidente da Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), Ivandro Rosa.
Dentro dos ramos econômicos, ressalta os movimentos na indústria calçadista. De acordo com Rosa, houve retorno das contratações. “Ainda não se recuperou todos os postos perdidos, mas é uma sinalização.”
De acordo com ele, há uniformidade nos dados por segmento. “A reação nos parece geral. Não se depende só da indústria, há outros setores reagindo.”
A partir disso, mesmo com o cenário macro de instabilidade, com aumento dos custos, da inflação, desvalorização do real, é preciso injetar novos salários à economia regional se manter ativa. “Muitas empresas anteciparam o salário extra. Isso faz com que o incremento de renda do fim de ano não seja tão expressivo. A lógica deste fim de ano será diferente de outras épocas.”
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Construção Civil tem falta de profissionais. Entre as funções com mais necessidade estão eletricistas, pintores e mestre de obras. (Foto: Filipe Faleiro)
Faltam trabalhadores
Diretora administrativa e financeira da Docile, Leonita dos Santos Boufet, destaca que nos últimos seis meses, a indústria de candies aumentou a produção e gerou mais postos de trabalho. “Ainda estamos com vagas abertas. Do chão de fábrica até funções com necessidade de formação técnica.”
A empresa de Lajeado inclusive passou a optar por trabalhadores de cidades vizinhas. “O segundo semestre costuma ser de crescimento da demanda. Para atender isso, temos de ser ágeis tanto nas reposições em caso de saída, quando para ampliação das equipes.” O grupo conta hoje com mil trabalhadores, contando a unidade gaúcha e a de Pernambuco.
Na avaliação dela, algumas estratégias regionais contribuem para que se tenha oferta de mão de obra. “Somos um polo de alimentos e temos de ter isso em mente para qualificar os trabalhadores. Importante que haja proximidade entre escolas, universidade e setor produtivo para termos melhores condições de crescer.”
Na Construção Civil o cenário é parecido, afirma o diretor da Privilége Engenharia e Construção, Fernando Bergesch. “Para serviços de obras, a demanda depende de cada empresa. Vai haver contratações caso se tenha contratos vigentes ou algo em curso”.
Essa característica da atividade interfere sobre prestação de serviços. Neste aspecto aparecem as faltas de alguns profissionais, como eletricistas e pintores. “No momento, não estamos contratando, mas sentimos carências na Construção Civil. Era algo já visto antes da pandemia, mas que se acentuou.”
“Custos sobem de elevador e os preços de escada”
A diretora da Docile, Leonita dos Santos Boufet, reforça a preocupação com os rumos da economia, em especial pelo desarranjo na cadeia de insumos. Da atividade dentro da fábrica, passando pela logística até a exportação. Todo o custo entre empresa e cliente multiplicaram. “Faço uma analogia: os custos sobem de elevador e os preços de escada. Estamos segurando para não repassar ao consumidor.”
Segundo Leonita, esse comportamento atípico interfere sobre o faturamento das empresas. “Essa condição interfere sobre a sustentabilidade dos negócios. Não é só na Docile, é geral. Ainda assim, temos conseguindo manter nosso volume de produção, mas reduzindo margens da empresa.”
Demanda em alta
Diretora da Gota Limpa, Camile Bertolini Di Giglio, avalia de forma parecida a situação da indústria dentro da corrente regional. “Tenho falado com muitos empresários e os comentários vão na mesma linha. Há crescimento da demanda, abertura de vagas de trabalho e níveis de produção elevados.”
Para ela, essa é uma característica regional. “O nosso Vale sofreu menos no período de restrição. Esses resultados positivos abrem oportunidades de trabalho.” Na Gota Limpa, conta Camile, o período com mais contratações foi entre março e abril. De lá para cá, a busca tem sido manter a equipe para atingir o volume necessário de produção.
Além da dificuldade em preencher as vagas abertas, tanto de nível médio quanto superior, a diretora chama atenção para a rotatividade. “Pela característica local, temos uma variedade de empresas, médias e grandes. Isso faz com que os funcionários busquem outras organizações.”
Tal cenário faz com que a empresa opte por mão de obra de outras cidades. “Contratamos trabalhadores com nível superior da Região Metropolitana.”