A gasolina sobe 7% e o diesel 9%. Afirma a Petrobras por meio de nota. Os novos preços às refinarias valem a partir de hoje. Na região, conforme a Associação Nacional do Petróleo (ANP), o litro da gasolina custa, em média, R$ 6,50, em pesquisa feita entre o dia 15 a 22 de outubro.
Com a nova tabulação, estima-se que a média fique entre R$ 6,60 até R$ 6,80. Como se trata de um mercado com livre concorrência, a variação para o consumidor final depende das estratégias de cada empreendedor.
No ano, com isso, a gasolina nas refinarias acumula alta de 73% e o diesel 65,3%. Esses constantes aumentos trazem reflexo sobre toda a economia, em especial no custo de vida à população, ressalta o economista e consultor, Eloni Salvi.
“O petróleo está em toda a cadeia produtiva. Da indústria ao supermercado. Sem dúvida que incide de uma forma diferente, mas esse desajuste nos preços dos combustíveis trará mais perda de renda às pessoas.”
Com o reajuste de hoje, a gasolina da Petrobras para venda aos postos passa de R$ 2,98 para R$ 3,19 por litro. Pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), nos últimos 12 meses, a gasolina ficou 39,6% mais cara aos consumidores. Já o diesel, alcança 33,05% de aumento.
Desde o início deste ano, foram ao menos dez altas no preço do diesel. Para a gasolina, houve 11 elevações no preço e quatro reduções.
Trabalho inviável
Essa situação fica ainda mais evidente quando se avalia o impacto para quem usa o veículo como meio de sustento. É o caso do motorista por aplicativo de Lajeado, Hugo Renato Schulte. “Está terrível. O aplicativo aumentou o repasse, mas não compensa frente ao preço da gasolina. Estou pensando em largar”, diz.
Reduzir despesas e escolher as corridas. Essas são algumas mudanças provocadas pelas constantes altas. “Dependendo da distância, não vale a pena aceitar. Hoje tenho de filtrar onde está o passageiro e para onde ele vai. Se o local de desembarque tem alguém para a volta. Se não tiver, o motorista sai no prejuízo.”
Conforme Schulte, se fala muito do aumento dos preços dos combustíveis. “Ninguém fala que pagávamos R$ 120 para trocar o óleo e agora está R$ 300. Também a necessidade de trocar os pneus a cada 25 mil quilômetros. Tudo para manter o veículo ficou mais caro e não recebemos mais por isso.”
Na planilha do motorista profissional, o combustível representa 45% do custo para os mais de 200 quilômetros percorridos por dia. Com mais a manutenção, o faturamento diminui. “Neste ano o ganho encolheu muito. Já trabalhei como motorista de caminhão. Vou atualizar as habilitações e retornar para a estrada. No transporte individual não dá mais.”
Alta demanda e limite para compra
A Petrobras afirmou em nota que “o alinhamento de preços ao mercado internacional se mostra especialmente relevante no momento , com a demanda atípica recebida para o mês de novembro”.
Esse movimento vem uma semana após a estatal anunciar “cortes unilaterais” em novembro para pedidos. Inclusive a Associação das Distribuidoras de Combustíveis (Brasilcom) alertou para o risco de desabastecimento com a queda de mais da metade do volume solicitado à compra por parte das redes de postos.
A justificativa é quanto às importações, inviáveis devido a diferença nos preços domésticos e externos. Na comparação com o praticado no mundo, a defasagem no preço seria de 14% para a gasolina e 18% para o diesel.
O risco de desabastecimento foi levado à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A reguladora descarta esse perigo de faltar combustíveis. Ainda assim, o assunto é acompanhado pelos técnicos da agência.
Sem “solução mágica”
A desregulação no mercado dos combustíveis tem fatores internos e externos, analisa o presidente da Sulpetro, João Carlos Dal’Áqua. Passa pela desvalorização do real, aumento no barril do petróleo (cotação passou dos 85 dólares nesta semana) e a quebra na safra da cana-de-açúcar no país, usada na composição da gasolina.
“Não existe solução mágica. Nem o presidente, nem os governadores, podem instituir uma medida única e baixar o preço”, diz. De acordo com ele, há sinalizações políticas que interferem sobre o mercado. “Quando se fala em ultrapassar o teto de gastos, é um sinal de preocupação para os investidores.”
Como uma solução paliativa, a Sulpetro sugere dois movimentos: a redução temporária do uso de álcool anidro na gasolina e a suspensão temporária por três meses da correção a cada 15 dias do ICMS.
“São duas alternativas. Elas não resolvem no longo prazo, mas podem diminuir o custo neste momento”, diz o presidente Dal’Áqua. De acordo com ele, a quebra na safra da cana fez com que o álcool ficasse mais caro do que o combustível fóssil.
Com relação aos ajustes do ICMS, congelar o valor de pauta, feito a cada 15 dias, por dois ou três meses daria estabilidade ao sistema. “Os governos estaduais tem auferido a inflação o imposto. Essa alta no custo de vida não era esperada. Ainda que haja aumento na arrecadação, isso é temporário, pois logo ali na frente vai ter queda de consumo”, destaca Dal’Áqua.