A crescente procura da comunidade nos últimos meses fez a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas de Lajeado voltar ao patamar pré-pandemia. Em setembro, 7,4 mil acolhimentos foram registrados, maior número num só mês desde 2019. Paralelo a isso, aumentam as queixas da população, sobretudo quanto ao tempo de espera por atendimento.
A UPA tem uma capacidade mensal de 6,7 mil atendimentos, devido ao seu porte, conforme classificação do Ministério da Saúde. Segundo a coordenadora administrativa, Úrsula Jacobs, existem conversas com a Secretaria Municipal de Saúde para que se busque uma alternativa, com o proposito de desafogar a unidade localizada no bairro Moinhos d’ Água.
“Isso resulta em um tempo maior de espera dos pacientes”, admite Úrsula. Lembra que a população, com o avanço da vacinação contra a covid-19, se sente mais corajosa a procurar a UPA, mesmo para situações que não são consideradas urgentes. “Em 2019 já trabalhávamos com mais de 7 mil atendimentos por mês e agora retornamos a essa realidade pré-pandemia”.
De janeiro até setembro, foram quase 56,9 mil atendimentos, com 29,9 mil pacientes diferentes, segundo levantamento da gestão da unidade. O número se aproxima de 2020, quando ocorreram 57,3 mil atendimentos.
Uma possibilidade levantada é aumentar o horário de funcionamento dos postos de saúde de Lajeado para desafogar a UPA. Hoje, as unidades fecham às 16h30min. O vereador Jones da Silva, o Vavá (MDB) sugere que uma unidade fique aberta até a noite. Já o secretário municipal de Saúde, Cláudio Klein, considera ideal o atendimento até as 18h.
Classificação de risco
Para classificar os atendimentos, a UPA utiliza o Protocolo de Manchester, sistema adotado pela maioria dos serviços de emergência do país. Conforme Alex Borba, é inviável atender a população por ordem de chegada, como muitos defendem.
“O paciente que chega na UPA pode ser classificado em cinco cores: azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. No azul, que é o não urgente, o paciente pode esperar até quatro horas, mas trabalhamos para que não chegue no tempo limite”, explica Borba. Já no vermelho, a última classificação, a ambulância já entra direto na sala de emergência, com atendimento imediato ao paciente.
Mais da metade dos atendimentos – de 50 a 60% – recebem a classificação verde. Ou seja, são situações pouco urgentes. “E a classificação azul fica entre 15 e 20%. São casos que poderiam ser resolvidos em uma unidade básica de saúde”, comenta Úrsula.
Os horários de maior pico variam. Segundo Borba, a faixa das 16h às 19h é uma das mais movimentadas. “É quando as pessoas começam a voltar do trabalho, crianças saem das escolas ou creches e os postos de saúde já estão fechados. A UPA se torna o local único de atendimento”, frisa.
Dificuldades na pandemia
Assim como hospitais, postos e outros serviços de saúde, a UPA também enfrentou períodos conturbados com a pandemia de covid-19. Dois momentos são lembrados por Borba: os primeiros dias de restrições, em março do ano passado, e a alta nas contaminações, internações hospitalares e óbitos, entre março e abril deste ano.
“No início, não tínhamos conhecimento do que era esse vírus, e como seriam os meses seguintes. Foi um pavor”, recorda. Já no período mais crítico, a UPA aumentou seu número leitos. “Nossa estrutura de oxigênio foi duplicada. Foram semanas bem movimentadas”.
Houve uma queda no número de atendimentos no meses de março e abril, o que interrompeu a curva ascendente a partir de julho do ano passado. Contudo, os menores números de 2021 não chegam perto de maio de 2020, que teve 2.669 atendimentos, o número mensal mais baixo desde que a Univates assumiu a gestão da UPA, em 2019.
Cerca de 10% dos pacientes atendidos na UPA, conforme Úrsula, são de outras cidades. “Como Lajeado é cercada por rodovias, atendemos pessoas até de outros estados”, salienta.
“Braço da UPA”
Na sessão da câmara de vereadores de amanhã, Jones da Silva (MDB) abordará sugestões para melhorar o atendimento na UPA. Ele diz receber reclamações diárias, mas que, por coerência, não busca apenas “bater” na gestão da unidade. “Não adianta só cobrar. Temos que propor soluções. E desde que a UPA foi inaugurada, não recebeu investimentos, não teve ampliações”, salienta.
Para o parlamentar, uma possibilidade seria utilizar uma das unidades básicas de saúde como “braço” da UPA. “Poderia funcionar das 18h às 22h, que é um horário onde aumenta muito a demanda. Sem dúvidas, facilitaria o trabalho deles. Os profissionais estão sobrecarregados”, aponta. Também considera necessário um espaço maior para as pessoas que aguardam atendimento.
O secretário de Saúde, Cláudio Klein, diz que a discussão sobre o funcionamento dos postos de saúde é pertinente. “Temos a intenção de adotar o sistema de macrorregiões, e a ideia é que as unidades funcionem das 8h às 18h, sem fechar ao meio dia. O posto deve funcionar com a estrutura da cidade”, acredita.
Dois pontos, contudo, precisam ser observados. Uma delas, segundo Klein, é a estrutura dos postos. “Há situações que não são para os postos atenderem. Posto não tem laboratório, não tem raio X, nem medicamentos para resolver”, frisa. Outra questão diz respeito ao entendimento da população sobre qual serviço procurar. “Ela precisa aprender a usar os serviços de forma adequada”.
Qualificação
A UPA de Lajeado está entre as 30 unidade de todo o país selecionada pelo Ministério da Saúde para participar de um programa de qualificação na parte cardiológica. Segundo Alex Borba, a iniciativa é feita em parceria com o Hospital do Coração (HCor). “Iniciamos neste mês. Em novembro, o pessoal do hospital fará uma visita presencial”, revela.
Números da UPA
A UPA de Lajeado é uma unidade de porte 2 e nível 5, segundo classificação do Ministério da Saúde.
Sua capacidade de atendimento mensal é de 6.750 pessoas. Em setembro, entretanto, foram 7.422 acolhimentos, voltando ao patamar pré-pandemia.
Deste total, cerca de 10% são pacientes de fora de Lajeado. A maior demanda é de atendimentos na classificação de risco verde (pouco urgentes), que fica em torno de 50% a 60% ao mês.
Em uma pesquisa de satisfação recente 90% das pessoas entrevistadas buscam a UPA como primeira alternativa de atendimento. E 89% atribuem nota superior a 8.
Quase 8 anos de atendimentos
A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) abriu suas portas em Lajeado no dia 11 de março de 2014, tida como um importante apoio aos postos de saúde e Hospital Bruno Born. Num primeiro momento, a projeção era de até 300 consultas por dia. A inauguração, na época, ocorreu com as obras ainda inacabadas. Município pleitava, na ocasião, uma rótula ou trevo adequado para acesso à estrutura, que fica às margens da ERS-413.