Como funciona o seu trabalho como artesão?
Faço restauração de mármores e granitos, a revitalização de placas. É tudo manual. Eu pego uma peça de 70, 80, 100 anos, olho, estudo e deixo ela como tinha que ser. Se for uma imagem, arrumo os olhos, a cabeça, as mãos. Também faço restauração de fachadas, pisos, coisas que as pessoas iriam descartar e iria virar entulho na natureza.
Você é a quinta geração da família, certo?
Sim, isso vem do meu tataravô, do lado do meu pai. Tenho 49 anos de profissão. Comecei com 6 anos de idade. Minha família trabalhava com pedras de areia, fazendo barragens e tafonas, peça que desviava o leito do arroio e girava uma roda de madeira. Ela servia para moer grãos, trigo, milho e produzir alimentos. Quando não podiam trabalhar ou nas horas de folga, faziam pedras para afiar lâminas, afiar as navalhas para barbear. Eram muitos filhos que ajudavam no trabalho, mas com o passar das gerações, só fui sobrando eu. Hoje fico triste, porque quero ensinar a profissão, e ninguém quer aprender.
O que as pessoas costumam pedir para consertar?
Pedem de tudo. Piso, bancada, box de banheiro, túmulos, fachadas de igreja, estátuas, placas centenárias de uma residência. Nas últimas semanas, restaurei uma escada de mármore importada, ela estava em péssimas condições, tinha dois patamares. Eu deixei novo. Agora tem a praça de Estrela (Menna Barreto) para restaurar, estou só aguardando a confirmação. Tem placas sobre Menna Barreto lá que fiz em 86, esculpi a mão. Já fiz peças para fora do estado também. As pessoas pagam as passagens para eu viajar e fazer o serviço.
Como é a sua produção?
Eu já lapidei até cascalho. Compro algumas madeiras que iam para o fogo e transformo em luminárias, com pedras preciosas. O que não serve também é transformado em cabo de faca. Já fiz algumas. Eu gosto de fazer machadinha, cutelo e foice pequena, mas não sobra muito tempo pra isso. Faço feiras na Praça da Matriz em Estrela, no Parque dos Dick, no Calçadão e também vendo grelhas de inox, churrasqueiras e coisas do tipo para supermercados. Quando faço restauros, pego materiais que iriam fora. Só o ferro que compro. Com ele faço sanfona, gaita e violão, instrumentos para decoração.
O que mais gosta na profissão?
Eu amo o que faço, me sinto realizado quando consigo pegar uma coisa bruta, que talvez ia virar sucata e transformá-la. Eu uso um martelo de 100 gramas e no final uso uma máquina para fazer o acabamento. Tudo fica no galpão atrás da minha casa. Eu gosto de criar e às vezes passo 48h desenhando um modelo para criar alguma coisa que acho interessante.