A sociedade digital e o desafio da informalidade

Thaís Fidelis Alves Bruch

A sociedade digital e o desafio da informalidade

A sociedade digital e o desafio da informalidade

A sociedade atual enfrenta inúmeros desafios, um deles de enorme grandeza: a revolução tecnológica. Este fenômeno social é classificado pela doutrina moderna como a “Quarta Revolução Industrial”. Trata-se de uma ruptura histórica da pós-modernidade, com a transformação da sociedade industrial clássica, que é caracterizada pela produção e a distribuição de riquezas, em sociedade de risco, na qual a produção dos riscos domina a lógica da produção de bens.

O ser humano sempre fora atraído pelo novo, e dessa característica decorreu, em certa medida, a evolução da sociedade. Igualmente, não se nega que os impulsos desencadeados pelo saber científico facilitaram o desenvolvimento de diversas atividades, diminuindo sofrimento, curando doenças, otimizando trabalhos complexos e insalubres e, até mesmo, adiando a morte. Pois bem, e o que se tem de diferente nessa quadra histórica?

Tem-se a imposição de velocidade e de ritmo nunca antes vistos. De fato, a sociedade foi “invadida” por um tsunami de dados, de perspectivas e de projetos, com a recorrente construção de tecnologias.

Sem qualquer menoscabo às características benéficas do avanço tecnológico, não se pode descurar dos riscos e efeitos negativos que seu emprego inadequado (a concentração de informações e dinheiro nas mãos de poucos) dele podem emergir. Destaque-se a chamada “economia informal”.

Ao contrário do que propalam defensores da gig economy (economia de “bicos”) e os novos ultraliberais, incluindo-se aqui as plataformas de transporte (uber, ifood etc), os estudos de autoria da Organização Internacional do Trabalho e do Banco Mundial revelam que a informalidade é uma imensa sombra que paira sobre os países em desenvolvimento e as economias emergentes.

A informalidade atrasa a recuperação econômica e impede o desenvolvimento inclusivo, sendo um obstáculo para angariar recursos fiscais para apoiar e fomentar a atividade econômica. Ela pode até servir de apoio transitório, mas a prosperidade social está vinculada ao reingresso no mercado formal. Somente com este tem-se uma rede de proteção social.

E não será através da uberização, que é utilizada para se referir a uma nova espécie de exploração do trabalho, totalmente informal, que se atingirá uma sociedade próspera e com acessibilidade a níveis mínimos para um trabalho decente e digno. Ao revés, esse sistema apenas agrava a desigualdade na distribuição da renda e nos remete à precariedade. Puro retrocesso nas relações de trabalho e humanas. Essa informalidade “moderninha” não recolhe impostos, não retribui o valor do trabalho a contento, não garante uma limitação de horas de trabalho, sem falar em quaisquer direitos nos momentos cruciais da nossa vida: a doença e a velhice.

Se há custos para se manter uma sociedade mais justa e solidária, também o haverá para não a manter. Qual será a nossa escolha? Espero, sinceramente, que não seja: “está bom se a informalidade for para os outros”.

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