Um em cada quatro moradores de Lajeado tem alguma restrição no CPF. A constatação é da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) junto ao banco de dados da empresa de inteligência analítica Boa Vista. Dos 60.769 cadastros ativos no município, 15.124 estão negativados no Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).
Em alta desde abril deste ano, a inadimplência no comércio local atingiu o maior índice em um ano e quatro meses e chegou a 24,9%. Desde junho de 2020, quando foi 25,8%, o percentual não era tão elevado. O perfil dos consumidores com contas vencidas segue inalterado, sendo a maioria homens (50,5%), com idade entre 30 e 34 anos (15,9%) e que recebem entre um e dois salários mínimos (54,7%).
A CDL Lajeado, conforme o presidente Aquiles Mallmann, monitora este cenário e orienta seus associados a utilizarem as ferramentas de consulta e apoio às vendas. “Repassamos esses dados aos lojistas como forma de alerta. O consumidor está empolgado para comprar, mas ao mesmo tempo o nosso dinheiro vale cada vez menos”, comenta Mallmann.
O dirigente cita também o fim de alguns benefícios sociais e redução de renda durante a pandemia como fatores para a alta do endividamento. “Mesmo que o uso de cheque e do crediário próprio tenha reduzido e, a maior parte das vendas à prazo ocorrem por cartão de crédito, o lojista precisa ficar atento”, alerta.
Essas condições preocupam o comércio diante do melhor período de vendas do ano. As projeções para o Natal são otimistas, mas as restrições de crédito podem ter impacto no valor médio de compras de cada consumidor.
Retomada econômica
No entendimento da economista Fernanda Sindelar, ao mesmo tempo em que a economia retoma o ritmo de crescimento, muitos não conseguiram reter renda suficiente para superar o pior momento da pandemia e acumulam contas.
Outros fatores que elevam o percentual da inadimplência, na opinião de Sindelar, são a perda de emprego e renda, alta da inflação e a redução de valores do auxílio do governo. “Aqueles com renda menor sentem o maior impacto da alta de alimentos, combustíveis e energia elétrica. Com isso, até as contas de serviços básicos acumularam”, observa Sindelar.
Em relação à faixa etária mais jovem dos negativados, a falta do hábito de poupar pode ter impactado na saúde financeira. “Pessoas mais experientes já têm essa preocupação em fazer sua reserva caso ocorram imprevistos”, ressalta a economista.
Na lista das principais dívidas negativadas estão o cartão de crédito, faturas de serviços básicos e limite bancário. “Estudos apontam para o empobrecimento da população, a perda de renda aliada à inflação. Pelas estimativas, ainda vamos levar de cinco a dez anos para restabelecer o potencial de renda”, projeta Sindelar.
Dados estaduais
No estado, o aumento do índice também chama a atenção, porém os 28% registrados em outubro se aproximam do patamar alcançado em dezembro de 2020, quando o percentual estava em 28,4%, porém ainda distante dos 30,6% de junho daquele ano.
O perfil dos inadimplentes em âmbito estadual, apresentam alteração na faixa etária, que agora se concentra nos 30 a 34 anos (13,4%), mas continua em maior percentual o sexo feminino (51,1%) com renda entre um e dois salários mínimos (50,9%).