Pelas ruas de Lajeado, faça chuva ou faça sol, já é possível observar entregadores de bicicleta com a mochila vermelha do aplicativo iFood nas costas. A nova modalidade de telentrega promete maior sustentabilidade e menor impacto no trânsito. O negócio surge também como alternativa para estabelecimentos que não tenham o próprio motoboy.
Atualmente, quatro pessoas se responsabilizam pela entrega utilizando as bicicletas elétricas. Uma sala comercial é alugada pelo iFood no bairro Florestal e serve como base das operações. No espaço, além de carregar as baterias das bicicletas em tomadas especiais, os entregadores têm um sofá, geladeira e banheiro. Junto aos entregadores de bicicleta, quatro motoboys completam o time do aplicativo.
Os entregadores de bicicleta ganham em média R$ 6,00 por entrega, além de um valor fixo que varia entre R$ 15 e R$ 40 conforme o turno, mesmo que nenhuma entrega seja solicitada.
Kaíque Sieben, 18, é um dos entregadores da nova modalidade. Ele já é formado no Ensino Médio e essa não é sua primeira experiência de trabalho. Todos os dias ele chega na base por volta das 10h30min para retirar sua bicicleta. Para ele, o que mais cansa é chegar nos estabelecimentos, porque os entregadores tem um tempo máximo de cinco minutos para retirar a encomenda. Além disso, ele conta que a bateria das bicicletas acaba rápido, durando no máximo 1h40min de uso, então ele precisa voltar para a base para trocar de bicicleta ou esperar que a bateria carregue. “As bicicletas ficam bem pesadas quando acaba a bateria, e aqui é praticamente tudo morro”, conta.
Kaíque trabalha os três turnos, começando às 11h e fazendo entregas até a meia-noite. Em função do longo turno de trabalho, outra dificuldade é o almoço. “A gente só recebe quinzenalmente, então às vezes não tenho grana para almoçar. Fica difícil, mas o cara dá um jeito, traz algum lanche”, explica.
No aplicativo, as entregas de bicicleta tem um limite de raio de cinco quilômetros e os entregadores já tiveram que se deslocar até as cidades de Estrela ou Cruzeiro do Sul para realizar alguma entrega.
Apesar do esforço físico, Kaíque não acha o trabalho pesado. Comparado ao seu último trabalho em um depósito, ele garante que está valendo a pena, já que tem mais independência. “Meu compromisso é comigo mesmo. Se eu quiser ganhar dinheiro eu venho”, completa.
Fazer entregas de bicicleta é a primeira experiência de trabalho de Klebersons da Silva dos Santos Costa, 18. Em pouco mais de um mês ele já pedalou 130 quilômetros. Sua entrega mais longe foi em Cruzeiro do Sul. Para Guilherme Perez, 18, fazer entregas de bicicleta foi uma boa mudança na carreira. Ele já trabalhou em uma metalúrgica e vê no trabalho autônomo uma alternativa para ter mais liberdade, sem a figura de um chefe. “Nós somos nossos próprios patrões”, explica. Os dois não terminaram o Ensino Médio por causa da pandemia, se sentiram desmotivados com as aulas virtualizadas.
Guilherme conta que já ficou empenhado em uma entrega por causa da bateria. “Estava na Campestre subindo um morro e acabou a bateria. Aí desci e tive que empurrar a bike morro acima”, lembra. Ao fim do expediente, à meia-noite, Guilherme pega sua própria bicicleta e volta para casa, no Morro 25.
Cuidado no trânsito
De acordo com o coordenador do Departamento de Trânsito de Lajeado, Vinícius Renner, as bicicletas utilizadas pelos entregadores têm velocidade de até 25 km/h. A aceleração se dá com auxílio do pedal: a bicicleta pega velocidade e o condutor tem que pedalar, sendo auxiliado pelo motor elétrico. Entre os pontos positivos da entrega com bicicletas está a redução do trânsito e da poluição.
A utilização dessas bicicletas segue algumas regras como a obrigatoriedade do uso do capacete e a limitação de potência de 250 watts, além do respeito às normas do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Alguns cuidados são importantes para a segurança dos entregadores, como uso de acessórios e roupas que protejam áreas estratégicas do corpo como joelhos e cotovelos e também luzes de sinalização na bicicleta. Além disso, a manutenção da bicicleta precisa estar em dia, com freios, correntes e pneus em bom estado.
Em caso de furto ou roubo, as bicicletas têm rastreador e podem ser localizadas. Além disso, os entregadores tem um contrato com um seguro de R$ 15 mil reais caso tenham algum acidente no trabalho.
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a bicicleta é um veículo de propulsão humana e o ciclista deve respeitar todas as regras de trânsito, como semáforos, sinalização e circulação na mão correta de direção, além da preferência dos pedestres. Além disso, o ciclista deve sinalizar todas as vezes que você for mudar de direção. Na ausência de ciclovias, ciclofaixas ou acostamentos, a circulação de bicicletas deverá ocorrer nos bordos das pistas de rolamento.