“O que o câncer me ensinou é que Deus nos prepara para as batalhas. Por essa razão o diagnóstico só veio no momento que tinha que vir”. Essa é a principal lição de Maida Arlete Ullrich, 46. A lajeadense tinha 38 anos quando fez a primeira mamografia. Ela costumava fazer o autoexame com frequência, e percebeu um pequeno caroço acima do seio direito.
Na época, o resultado deu negativo para o câncer de mama, mas o cansaço, as dores e disfunções no organismo indicavam que algo estava errado. Dois anos depois, entre a rotina como faxineira em 10 a 12 casas, tirou um tempo para consultar uma mastologista, e, no início de 2017, descobriu o câncer.
As economias de Maida e do marido serviram para pagar os exames que podiam. A família tinha pressa, e pouco dinheiro sobrando. “O câncer te deixa sem chão, mas quando tu tem uma rede de apoio, ajuda muito. Eu tenho seis irmãos, cada um pegou sua reserva e passou pra mim. Isso foi uma razão para lutar”, conta.
A cirurgia foi marcada para 3 de março daquele ano e, depois de passar por seis quimioterapias vermelhas, de perder os cabelos e a mama direita, ela vinha se recuperando. Até maio de 2019, quando precisou passar por outra cirurgia, desta vez, para a retirada do útero devido a uma endometriose avançada. Para pagar o procedimento, algumas amigas se juntaram para vender rifas e promover um chá beneficente. “Essa rede de apoio que se cria é muito bonita, e me sinto privilegiada por ter tantos amigos”, destaca Maida.
Durante o tratamento do câncer feito por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), na ala oncológica do Hospital Bruno Born (HBB), Maida conheceu a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Lajeado e, mais tarde, se tornou voluntária para retribuir o apoio que recebeu da entidade.
Uma liga para o bem
Assim como Maida, outros pacientes oncológicos também foram auxiliados pela Liga Feminina de Combate ao Câncer que, hoje, também atende homens.
A entidade foi criada em 27 de novembro de 2005 pelo Lyons Club, que encontrou voluntária Maria Antonieta Lenz, a disposição para constituir a associação civil sem fins lucrativos de prevenção e promoção à saúde. Ao lado dela, estava a família e amigos.
Municípios vizinhos como Encantado e Estrela já possuíam suas Ligas, e esse foi outro fator de incentivo. Além da crescente preocupação com o aumento do número de doentes oncológicos com dificuldades financeiras para acessar o tratamento.
De acordo com uma das voluntárias da entidade, Graça H. Vilanova, nos primeiros tempos, a instituição era voltada à organização burocrática, a divulgação dos direitos dos pacientes oncológicos e a busca de associados para ter condições de assistir aos doentes.
“Naquele momento, muitas dificuldades foram surgindo e atividades foram criadas para cobrir as necessidades dos doentes e buscar o respeito ao paciente carente”, destaca Maria da Graça. A partir de 2011, a demanda se intensificou, porque o HBB se tornou um centro de atendimento oncológico regional.
Nos 16 anos de atuação da entidade, as voluntárias, que passaram por um câncer ou se solidarizaram com a causa passaram a oferecer suplementos alimentares, cestas básicas, exames hospitalares de urgência, rodas de conversa com apoio aos pacientes carentes, além de trabalhar com a prevenção da doença.
Por muitos anos, outra atividade da Liga foi a entrega de bolachas com mensagens positivas aos pacientes da oncologia do HBB. A atual presidente íris Scherer é uma das voluntárias à frente do projeto que deve retornar no início deste mês.
Além disso, a entidade também oferece próteses capilares e mamárias, lenços e medicamentos. Para manter os serviços, a Liga conta com a doação e com o trabalho das voluntárias com a venda de sombrinhas, camisetas e artesanato. O sebo e bazar também auxilia na arrecadação financeira. De acordo com a vice-presidente, Marione Hoppe, a cada sebo, são vendidos mais de 250 livros.
Da prevenção ao tratamento
De acordo com o médico oncologista clínico do Centro Regional de Oncologia (Cron), Renato Cramer, o câncer de mama pode ser percebido em fases iniciais, na maioria dos casos por meio de sintomas como um nódulo na mama, axilas e pescoço, pele avermelhada na região, alteração no bico do seio, e presença de um líquido anormal nos mamilos.
Os sintomas podem ser percebidos com o autoexame, mas outros procedimentos também são importantes, como a mamografia, ecografia mamária e ressonância magnética de mamas, em especial para mulheres acima de 40 anos.
“Todas as mulheres, independente da idade, devem ser estimuladas a conhecer seu corpo. A maioria dos cânceres de mama é descoberta pelas próprias mulheres”, ressalta o especialista.
O médico ainda destaca que 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a adoção de hábitos saudáveis. Entre eles, a prática de exercícios físicos, evitar o consumo de bebidas alcóolicas e não fumar. Amamentar o bebê pelo maior tempo possível também é um fator de proteção contra o câncer de mama.
De acordo com o estágio do câncer, o tratamento pode incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica (terapia alvo). “Quando a doença é diagnosticada no início, o tratamento tem maior potencial curativo e geralmente necessita de tratamento cirúrgico que pode ser conservador, quando a mama é preservada, ou radical, quando toda a mama é retirada”, destaca o médico.
Entre os fatores de risco, está a predisposição genética, mas nem sempre o câncer tem relação com hereditariedade. A doença, no entanto, não tem somente uma causa. Cerca de quatro em cada cinco casos ocorrem após os 50 anos. Outros fatores que aumentam o risco da doença são a obesidade e sobrepeso, sedentarismo, tabagismo, etilismo, e exposição à radiação.
No caso de a doença já possuir metástases, quando o câncer se espalhou para outros órgãos, o tratamento busca prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida. O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença.