“Tenho 69 anos de habilitação e nunca recebi multa no trânsito”

ABRE ASPAS

“Tenho 69 anos de habilitação e nunca recebi multa no trânsito”

Olide Conte, 89, é motorista aposentado, conquistou sua primeira habilitação em 1952, quando o documento era válido apenas no estado. Na década de 50 transportou passageiros na linha regular entre Boqueirão do Leão e Lajeado. O deslocamento era feito em 4 horas por uma estrada de terra, sinuosa e estreita. Ativo ao volante até hoje, nunca foi autuado no trânsito

“Tenho 69 anos de habilitação e nunca recebi multa no trânsito”
(Foto: Nágila Ferreira)
Vale do Taquari

Como surgiu essa vontade de ser motorista e trabalhar no transporte público?

Quando completei 20 anos fiz a habilitação, na época, muito diferente de como é hoje. O documento ficou pronto no mesmo dia e valia apenas no RS. Como não tinha emprego fixo, fiz alguns frentes para terceiros. Em 1954, comecei a trabalhar de forma oficial, como motorista de ônibus. Dirigia na linha entre Boqueirão do Leão e Lajeado, passando por Canudos do Vale e Forquetinha. Uma viagem de 4 horas se tudo ocorresse bem.

Quais as maiores dificuldades e recordações daquela época?

A estrada de terra era um verdadeiro desafio. Muitas vezes acabava atolando o ônibus e isso atrasava ainda mais a viagem. Eu saía de Boqueirão às 5h para chegar às 9h, em Lajeado. O retorno era às 16h, para chegar às 22h. Dormia pouco, mas foi gratificante. Pude ajudar muitos passageiros, com suas encomendas. As pessoas me pediam para trazer os mais diversos produtos. Eu mesmo comprava. Transportava em média 40 encomendas por dia.

Por quanto tempo foi motorista de ônibus?

Na rotina de ir dormir meia noite e levantar às 4h, fiquei oito anos. Tinha uma responsabilidade muito grande por ser o único transporte para Lajeado, não podia faltar. Em dias de muita chuva ou barro, colocava correntes nas rodas para ter como fazer a viagem. Em 1962 voltei a dirigir caminhões e em 1966 conquistei a carteira nacional de habilitação.

Depois que parou com o transporte coletivo qual foi o trabalho?

Comecei a trabalhar com a família Franciosi em 1972 no transporte de madeira. Essa região aqui foi um grande polo madeireiro. Eu saía de casa na segunda-feira e voltava para ver a família no sábado. Também fiz o transporte de carga entre cidades de Santa Catarina. Mais tarde fui motorista de transporte escolar, por oito anos.

Como conciliar a profissão e a vida em família?

Passei muito tempo ao volante, exerci a profissão que sempre gostei. Nem por isso, deixei de lado minha família. Sou pai de três filhos e entendo que consegui deixar bons exemplos. Nesse tempo todo de motorista, nunca infringi as regras de trânsito e não recebi multa. Tenho muito orgulho disso e continuo dirigindo, agora, minha Belina que é meu xodó. O segredo é não ter pressa, ser gentil e prestar muita atenção, principalmente, nos veículos ao nosso redor.

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