O relatório da produção agrícola divulgado na semana passada expôs as perdas do Vale do Taquari e do estado por conta da estiagem de 2019/2020. O cenário desafiador agora se confirma nas regiões centro-oeste e sudeste do país. A crise hídrica eleva o risco de apagão e deve refletir nos preços de alimentos e da matéria-prima de diferentes setores.
Uma das preocupações é com o aumento no preço de derivados da cana-de-açúcar. O álcool está entre os produtos que já apresentam alta e deve impactar no valor dos combustíveis de modo geral, principalmente na gasolina.
O empresário de Lajeado, Tomaz Pereira Lopes, possui filial na cidade paulista de Franca e acompanha o cenário de perto. Ele atua no ramo de corte a laser em calçados e está preocupado com os reflexos dos fenômenos climáticos.
“A saca de açúcar antes cotada a R$ 50 agora é vendida por R$ 180. Sem a disponibilidade de produção local, vai encarecer os processos logísticos e elevar preços da matéria-prima em diferentes segmentos”, avalia Lopes.
No final de semana enquanto visitava a filial em São Paulo, o empresário presenciou focos de queimada e redemoinhos em lavouras, resultado das condições extremamente secas da atmosfera. “No domingo à tarde uma tempestade de areia atingiu aquela região. Nosso gerente local enviou imagens desse fenômeno, foi algo inacreditável”, relata.
Por conta da estiagem, a safra de cana-de-açúcar deve ser 10%, comparado ao ano passado, aponta estudo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A expectativa é que sejam colhidos 592 milhões de toneladas, cerca de 62 milhões de toneladas a menos em relação à safra 2020/21.
Outras culturas, como é o caso de hortifrutigranjeiros estão com a produção prejudicada e elevam o preço no mercado. Uma parte desses produtos tem como destino o consumidor gaúcho.
Oportunidades ao Vale
Na avaliação do presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT), Ivandro Rosa, a crise hídrica em outras regiões do país pode ser vista como oportunidade à região. Ele cita os projetos das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), se prontas, poderiam contribuir com energia elétrica no sistema interligado.
“A própria eclusa de Bom Retiro do Sul, com potencial ocioso, poderia gerar energia e renda ao Vale. Sabemos dos desafios, mas são questões que precisamos ficar atentos e resolver”, comenta Rosa.
O presidente da CIC-VT cita o avanço da região em produzir energia a partir do sistema fotovoltaico, mas reconhece a dificuldade de avançar na correta destinação de dejetos nas atividades da suinocultura. “É outra fonte para diminuir a pressão sobre o sistema nacional, mas requer investimentos mais expressivos”, avalia.
Tempestade de poeira
De acordo com a MetSul Meteorologia, São Paulo e Minas Gerais testemunharam um fenômeno denominado ‘haboob’. Esse tipo de tempestade de poeira ou areia se forma a partir de uma tempestade comum de chuva e vento.
Durante os temporais tradicionais, o ar frio desce para o solo e se espalha radialmente no que é conhecido como downdraft ou movimento descendente de uma nuvem de temporal. Era o caso do interior de São Paulo na tarde de domingo com muitas nuvens de desenvolvimento vertical na região que geraram ventania com o forte calor que se registrava.
Quando este processo ocorre em uma região árida ou semiárida, o vento pode levantar poeira, formando uma enorme nuvem de poeira.