Paciência e informação para enfrentar

Doença de Alzheimer

Paciência e informação para enfrentar

Celebrado nesta semana, Dia Mundial do Alzheimer traz o alerta para a doença caracterizada pela perda de memória e confusões cognitivas. O papel da família é fundamental e é preciso generosidade para o tratamento

Paciência e informação para enfrentar
Vale do Taquari

A filha C.F. (que não quis se identificar) era adolescente quando o pai adoeceu. Ainda sem entender sobre o diagnóstico, viu o então gerente de uma empresa de Porto Alegre se confundir com coisas simples, esquecer nomes e se perder em caminhos que eram de rotina. Aos 56 anos, ele apresentou os primeiros sinais da doença neurodegenerativa conhecida como Alzheimer.

No início, os sintomas se confundiam com outras doenças como o Transtorno Obsessivo Compulsivo, devido a repetições de movimentos e pensamentos. Mas, com o tempo, passou a ter comportamentos diferentes dos que era habituado. Esquecia de coisas simples e de outras que deixavam a família em alerta.

“Durante os 14 anos convivendo com a doença, desde o diagnóstico até o seu falecimento, foram muitas mudanças, inicialmente ele esquecia o que havia feito no dia anterior, saia de carro e voltava para casa a pé, ou ia ao mercado para comprar certo alimento e voltava com outro”, lembra a filha.
A mudança de humor foi outro sintoma. “Sempre foi um homem tranquilo, mas percebemos que os esquecimentos deixavam ele bravo”, descreve ela.

Nos momentos em que tinha lapsos de memória, o pai confundia as pessoas com quem conversava. Algumas vezes lembrava dos fatos, mas esquecia no momento seguinte.
Com a evolução da doença, a filha conta que ele passou a confundir o nome dos familiares, e repetia de forma sistemática as frases que ouvia na televisão. Dentro de casa, costumava contar os passos que dava e passou a ter dificuldades para caminhar.

Em um episódio, quando estava na praia com a família, se perdeu no caminho. “Ainda conseguia atender o celular, mas não sabia dizer onde estava. Ficamos muito preocupados, porque ele estava habituado a fazer caminhadas matinais. Até este dia que foi e não soube voltar”, lembra a filha. O pai retornou no final daquela tarde, trazido por um vendedor de picolé.

No início foi difícil, mas com o diagnóstico a família passou a entender melhor a doença e o paciente. “A demência é uma doença triste, porque temos o familiar vivo, mas não o temos presente. Mesmo existindo a ausência da memória e, por vezes, a ausência da fala, nunca deixe de falar para eles que o amam e tudo que tiver vontade, porque eles seguem sentido e escutando, mesmo não conseguindo se expressar”, ressalta a filha.

Do diagnóstico ao tratamento

Cerca de um milhão de brasileiros sofrem de demência hoje, e a maioria está relacionada à doença de Alzheimer. Dados de um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pela Universidade de Queensland, da Austrália, mostram que, há 30 anos, eram 500 mil pessoas com a doença. Daqui a 30 anos, serão 4 milhões.

O médico neurologista do Hospital Bruno Born (HBB), Francisco Cosme Costa, explica que o mal de Alzheimer é um tipo de demência que provoca perda da capacidade de formar novas memórias, perda das funções executivas, ou seja, o planejamento e execução de tarefas, deficiências de linguagem e alterações comportamentais.

Segundo o profissional, a origem do Alzheimer está no acúmulo de proteínas anormais no cérebro, chamadas beta amilóide, que geram desconexões e destruição dos neurônios. Entre os fatores de risco, estão a predisposição genética, hipertensão arterial mal controlada, colesterol alto e diabete.
A maioria dos casos da doença ocorre em pacientes com mais de 65 anos, podendo chegar a 50% de acometimento após os 90 anos de idade. Existem casos em idade precoce, mas são mais raros.

“O tratamento consiste em medicações que controlam os sintomas, tentando compensar os prejuízos impostos pela doença. O objetivo desses tratamentos é deixar a velocidade de progressão dos sintomas mais lenta. Mas ainda não existe um tratamento que reverta o Alzheimer”, destaca o neurologista.

Em junho de 2021, foi lançada nos EUA uma medicação chamada “Aducanumabe” que tenta “limpar” as proteínas beta amilóide do cérebro. “O seu lançamento, no entanto, foi muito controverso, pois não havia dados consistentes de eficácia. Por enquanto não há previsão de chegar no Brasil e, mesmo nos EUA, o uso só é aprovado para as fases muito iniciais do Alzheimer”, ressalta Costa.

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