Com base em diversos estudos, o economista americano Richard Easterlin afirma que o aumento de renda no curto prazo traz apenas uma sensação temporária de bem-estar, ou seja, que o dinheiro não traz felicidade a médio e longo prazo. Seu livro “An Economist Lessons on Happiness – Farewall Dismal Science!” (“Lições de um economista sobre a felicidade – Adeus, ciência triste!”, numa tradução livre), entrou na lista das 16 melhores obras de economia de 2021 do “Financial Times”.
O ponto central da tese de Easterlin é a de que é possível medir a felicidade através de pesquisas de opinião e estudos demográficos, avaliando a situação macroeconômica do país ou região onde moram os entrevistados, analisando fatores pessoais como o estado civil e a idade. Argumenta que essa tarefa deveria ser promovida pelos governos, que preferem medir o aumento de renda (PIB).
O economista demonstra que nos EUA mesmo com a renda em termos reais tendo triplicado ao longo dos últimos 70 anos, os índices de felicidade se mantiveram estáveis ou em queda. Em pesquisas feitas anualmente pela ONU em países ricos, as pessoas se declaram mais felizes, mas no longo prazo o aumento de renda nestes locais não traz um aumento proporcional na sensação de felicidade para seus habitantes. Na lista liderada pela Finlândia, aparecem também Islândia, Dinamarca, Suíça e Holanda.
A comparação social é o que permite aumentar a sensação de felicidade da pessoa. Se a pessoa percebe que só ela está ganhando mais, pode no curto prazo se sentir mais realizada e satisfeita, mas, se em média a população como um todo está melhorando de vida, isso não aumenta a sua sensação de felicidade. Outro fator determinante é a expectativa do que a pessoa quer ter, isso a deixa mais ou menos feliz quando alcançado o desejo. A frase do escritor e filósofo americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882) nos mostra isso: “Querer é um gigante sempre em crescimento cujo casaco do ter nunca é grande o suficiente”.
Alguns fatores que podem influenciar as pessoas na busca pela felicidade:
No casamento e com filhos: o que aumenta a felicidade é encontrar um parceiro certo, mais do que o ato de casar. Pessoas casadas são mais felizes do que as solteiras. Divórcio e viuvez aumentam a infelicidade. Ter filhos ajuda os pais a se sentirem mais felizes, mas essa sensação não perdura por muito tempo por causa das preocupações financeiras.
Entre jovens e pessoas mais velhas: em países desenvolvidos, os estudos empíricos, demonstram que as pessoas são mais felizes quando jovens e depois dos 70 anos. As fases em que se sentem mais infelizes são em torno dos 50 e depois dos 80, com a deterioração da saúde.
Entre homens ou mulheres: as mulheres são mais felizes e elas em geral encontram mais cedo o parceiro certo, o que faz o ciclo de felicidade começar antes. As mulheres também vivem por mais tempo do que os homens.
Ganhar na loteria: a sensação de felicidade só aumenta se você ganhar muito dinheiro na loteria. A explicação é a de que somente a renda do ganhador aumentou e não a das outras pessoas.
Durante a crise sanitária mundial com a Covid-19, vimos a morte mais próxima, acompanhamos perdas de vidas e tivemos preocupações econômicas que nos exigiram adaptações repentinas. Cada vez mais protegidos do vírus, estamos voltando a respirar, uma sensação simples, mas fundamental. O Relatório da Felicidade Mundial de 2021 (World Happiness Report 2021*) concluiu que a confiança na condução das ações de combate à covid-19 foi o principal fator para aumentar a felicidade das pessoas. Mais uma evidência que confirma a teoria do criador do chamado paradoxo felicidade-renda, Easterlin: “Não é o dinheiro que traz a felicidade!”