Nova análise sobre o aquecimento do planeta reforça o alerta para condições meteorológicas severas. Sem atingir as metas estabelecidas pela ONU, aumentam as chances de secas, enchentes, queimadas florestais e o desequilíbrio de ecossistemas.
Especialistas apontam que os extremos neste inverno foram uma prévia do que pode ocorrer nas próximas décadas. Durante a estação mais fria do ano, o Vale do Taquari registrou neve, períodos de pouca chuva, calor de 36°C e enxurradas.
Para conscientizar e cobrar ações a fim de reduzir os danos ambientais, um grupo de ativistas fará ato neste sábado, 18, na Praça dos Dick, em Lajeado. A mobilização inicia às 16h. “Nosso objetivo é abrir um espaço e conversar sobre a emergência climática”, explica a voluntária Natália Richter.
De acordo com a ativista, relatório divulgado no mês passado mostra a necessidade de reduzir as emissões globais de gases do efeito estufa em 45% até 2030. Dessa forma, seria possível limitar o aquecimento global a 1,5°C até o fim do século.
“Se nada for feito, podemos sofrer as consequências ainda piores das que já estão acontecendo. Não há mais dúvida de que as nossas ações são causadoras das mudanças climáticas e precisamos urgentemente tomar medidas concretas para reduzir as emissões”, aponta Richter.
Em nível estadual, o movimento Fridays For Future Brasil vai aderir a greve global no dia 24 de setembro, onde jovens de vários países vão chamar a atenção de governantes. “Queremos lutar pelo nosso futuro e das próximas gerações”, alerta a ativista.
O grupo do Vale do Taquari escolheu o município gaúcho de São Sepé como local para a greve, por ser a segunda cidade do país e a primeira do RS a reconhecer em decreto a emergência climática. “Nós somos nove voluntários, queremos levar o máximo de pessoas para uma ação de grande impacto”, explica Richter.
Conforme avaliação da voluntária do Eco Pelo Clima a realidade regional é diferente, ainda há uma vasta vegetação e diferentes espécies de animais. No entanto, Richter percebe pouca abertura para falar sobre o tema e defende mais ações de educação ambiental.
Degradação da camada de ozônio
Além da preocupação com o aquecimento global, dados apresentados pela MetSul Meteorologia, com base em estudo de cientistas da União Europeia, mostram que o buraco na camada de ozônio está crescendo rapidamente. Conforme avaliação de pesquisadores, a degradação é uma das maiores, nesse período, desde 1979.
Durante a última década, com condições meteorológicas normais, o buraco no escudo natural contra os raios ultravioleta cresceu até 20 milhões de quilômetros quadrados. A principal consequência é a maior exposição a essas radiações.
Conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o RS está acima da média nacional no número de cânceres malignos de pele. A alta taxa de incidência entre os demais estados se explica pelo fato de mais de 80% da população possuir pele clara e estarem expostos ao sol sem a proteção necessária.
Estratégias insuficientes
Análise de 37 países divulgada esta semana pela Climate Action Tracker (CAT) avalia que o planeta está diante de condições extremas se não houver redução profunda de dióxido de carbono e outras emissões de gases de efeito estufa.
A organização classifica os países conforme metas, políticas públicas e ações de mitigação dos impactos climáticos. Nessa avaliação, o Brasil foi classificado de “altamente insuficiente”.
As métricas consideram as ações insuficientes para cumprir com o Acordo Climático de Paris e em vez de limitar o aquecimento em 1,5°C nas próximas décadas, as ações podem resultar em valores próximos a 3°C.
ENTREVISTA
ANDRÉ JASPER, professor da Univates
Pesquisador e conhecedor de assuntos relacionados a ciências ambientais, Jasper alerta para eventos climáticos severos com maior frequência. Destaca a importância da população mundial encontrar formas de lidar com os novos cenários.
“Todos somos responsáveis pelas mudanças climáticas”
A Hora: O que precisa ser feito para mitigar os danos ambientais?
André Jasper: O Brasil tem um plano de preservação da camada de ozônio eficiente. No entanto, demais ações para coibir incêndios e o desmatamento na Amazônia deixam a desejar em alguns aspectos. Isso é uma questão de legislação, que tem relação política e de governos. Precisamos ficar atentos neste aspecto, pois somos signatários de acordos internacionais.
Quais os impactos do aumento do buraco na camada de ozônio?
Jasper: Se previa no ano passado que teria reduzido sua influência. Essa maior abertura entre o inverno e a primavera é algo natural do processo, mas não está restrito apenas à Antártida. Há fissuras que se refletem na região sul do país. Com isso, ficamos mais expostos a radiação ultravioleta. Associado à falta de proteção, gera maior risco de câncer de pele.
De que forma o aquecimento global interfere no cotidiano?
Jasper: Teremos condições adversas em diferentes partes do mundo. A escassez hídrica no sudeste do país é um exemplo do que pode ocorrer com maior frequência. Vamos ter de pensar em formas de como lidar com essas situações. Não podemos deixar de lado a prevenção e reduzir a liberação de carbono na atmosfera.