Como foi fazer esse trajeto sozinha?
Eu estava com um pouco de medo de fazer o trajeto sozinha e fui colocando vários empecilhos. Primeiro, o medo de voar. Depois, de fazer um trajeto completamente diferente do que eu fiz há quatro anos. Também tinha medo de me machucar durante a caminhada, ficar sem alojamento ou pegar covid. Depois que eu entrei no avião, todos esses medos foram embora. Fazer o trajeto sozinha foi maravilhoso pra eu ver que eu sou capaz de cuidar de mim mesma, de caminhar com minhas próprias pernas. O melhor de tudo foi curtir a minha própria companhia. Acho que foi a primeira vez que eu vivenciei isso, esse sentimento do peito cheio de felicidade, de alegria e de força. Eu super incentivo as mulheres a irem. É bom demais se sentir assim empoderada, cheia de confiança. Me senti capaz de realizar qualquer coisa.
O que você aprendeu fazendo o Caminho?
Eu acho que o Caminho de Santiago é um espelho da nossa vida, só que tu consegue ver as coisas com muito mais clareza, como os valores de amor, de simplicidade da natureza, todos esses ensinamentos que às vezes, na vida real, não conseguimos perceber por causa das distrações.
Esta é a sua segunda experiência fazendo o caminho de Santiago de Compostela. O que te motivou a fazê-lo novamente?
Essa vontade de refazer a caminhada surgiu porque eu senti que precisava de um tempo para me conectar comigo mesma de novo. Estou em um momento de mudanças de trabalho e de moradia. Eu precisava focar em mim mesma e olhar pra dentro e eu sabia que caminhar ia me ajudar muito.
A experiência foi diferente da primeira vez?
Minha primeira caminhada foi há quatro anos, acompanhada. Na época estava decidindo onde morar na Europa então foi uma forma de poder conhecer pessoas e regiões da Espanha. A primeira caminhada foi pelo caminho francês, durou 32 dias e caminhamos mais de 800 quilômetros. A segunda vez eu fiz o caminho pela costa portuguesa e foram mais de 350 quilômetros em 13 dias. Como a primeira caminhada foi antes do covid, tive muitos momentos com grupos de pessoas: a gente fazia comida juntos e conversava. Eu fiz muitas amizades. Da segunda vez eu senti o distanciamento entre as pessoas, que estavam mais receosas. Também tinha menos gente fazendo o caminho, até porque o trajeto pela costa portuguesa é menos popular que o francês. O meu objetivo dessa vez era ficar comigo mesma, então nos últimos dois dias de caminhada eu nem acessei meu celular, fiquei realmente offline. As duas experiências foram maravilhosas.