A ideia de que criativo e produtivo estão apenas para quem faz o novo me coloca em ponto de discordância. Daniela Arrais, jornalista, escreve sobre o assunto que me faz compartilhar a afirmativa acima, bem como a que segue: “tendemos a não nos apercebermos da manutenção e do cuidado como elementos igualmente produtivos.” E, por quê?
Múltiplas crises concomitantes têm sido a perspectiva mais atual da complexidade que está sendo viver. Não quero falar de pandemia, nem de preços, como também não dos protestos, das paralisações e de tudo mais que acontece. Descaso? Não é. Todos assuntos relevantes. No entanto, fomos perdendo algumas habilidades, vivendo quase que ininterruptamente os likes, misturando desabafos com consumos frenéticos de memes para lidar com toda nossa frustração.
Desaprendemos a descansar, sequestrados pelos acontecimentos que se apresentam na palma de nossas mãos, em telas touch’s, com narrativas efervescentes de emoção, a exemplo do que acontece nesse momento no país, com chamadas anunciando “vai faltar comida, a gasolina está acabando, fora Bolsonaro, fora STF…”
Temos nos descuidado dos nossos, de nós, das nossas coisas e de importantes circunstâncias do nosso entorno social porque estamos cansados e, por consequência, impossibilitados de reflexões lúcidas. Alguém nos disse que só é produtivo quem cria. Essa verdade não é absoluta. Não nos damos conta de que a sustentabilidade das coisas e, portanto, das criações está na manutenção, a exemplo da falta de mão de obra qualificada, realidade presente no Vale hoje.
Não cuidamos das nossas escolas! Da educação! Quantas eram e quantas são, por exemplo, as instituições escolares com formação técnica de nível médio no Vale? A manutenção destas iniciativas certamente teria sido produtiva. E, para além, com cuidado e manutenção teriam se reinventado, dentro de uma perspectiva criativa sustentável.
Fica o alerta: num Vale com grandes e exitosas iniciativas, inovar é importante. Contudo, manter e cuidar é condição de longevidade.