Nos 38 municípios da região, nenhuma estrada federal ou estadual registrou pontos de concentração de caminhoneiros. As mais próximas foram em Nova Santa Rita, na BR-386, e na RSC-453, em Venâncio Aires.
Em grupos de mensagens entre motoristas, há indicativo de que os próximos dias terão novos pontos de concentração. A adesão aos atos nas estradas depende do movimento em todo o país. Caso ganhe corpo, a tendência é que impacte também na região.
Entre semelhanças e diferenças com a greve que parou o país em 2018, empresários e motoristas autônomos da região têm visões diferentes dos atos iniciados nesse 7 de setembro. Nas mobilizações do passado, havia um cenário de dificuldade nos transportes, com elevação nos custos de operação. Ponto em comum com hoje.
Por outro lado, os atos tinham grande apoio das entidades representativas, como federações, sindicatos, empresas e motoristas autônomos. Um quadro distinto na comparação atual. Os protestos de agora são considerados como “mobilizações sem dono”.
“O temor é que isso ganhe cada vez mais força. Acho que vai ser pior do que em 2018”, avalia o diretor de uma transportadora de Lajeado, Leonício Schussler. Com atuação em todo o país, a transportadora tem veículos parados em diversos pontos.
“Ontem (terça-feira) tivemos alguns registros de barreiras, o pior em Joinville. Agora a situação piorou. Temos caminhões parados em Santa Maria, Pelotas, Porto Alegre, Caxias, Cruz Alta. Não sabemos como isso vai ficar nos próximos dias”, ressalta Schussler.
Ainda que a informação oficial das polícias rodoviárias seja de que não há bloqueios, de que os manifestantes convidam os caminhoneiros a participar dos atos, dentro da empresa de Schussler, a orientação é para evitar confronto. “Entre ter o para-brisa quebrado, ou o motorista ferido, preferimos parar o caminhão.”
A tarde de ontem foi de tensão. Alguns bloqueios tiveram ocorrências de apedrejamentos para quem não obedecia a ordem de parada. Os pontos mais problemáticos foram na divisa entre o estado de São Paulo e o Paraná. Pelo levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram registrados bloqueios em seis estados.
Parar os carros também
No ato em Venâncio Aires, próximo da divisa com Mato Leitão, os manifestantes paravam apenas caminhões. Na conversa, os motoristas eram convidados a parar por alguns minutos. Neste tempo, líderes informavam sobre as reivindicações do grupo, concentradas no pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e a implementação do voto impresso auditável.
Com o possível fortalecimento dos atos, o caminhoneiro, Roberto Silva, diz que os manifestantes se organizam para ampliar os protestos e começar hoje a parar todos os veículos nas rodovias. A partir disso, ampliar as reivindicações, em especial contra o preço do diesel.
Na análise dele, o problema está na carga tributária estadual. Segundo Silva, o ICMS gaúcho é o responsável pelo alto preço do combustível.
A alíquota atual vigora desde 2016, quando foi implementada pelo ex-governador José Ivo Sartori. A lei estipula um percentual de 30% de recolhimento do ICMS. O modelo tributário foi prorrogado, a partir de proposta do atua governador, Eduardo Leite, aprovada pela assembleia legislativa no fim do ano passado.
Apoio ao presidente
O caminhoneiro de Estrela, Kiko Kalsing, tem contato com manifestantes de vários pontos do país e afirma: “90% dos caminhoneiros apoiam o presidente Bolsonaro.” De acordo com Kalsing, há motoristas autônomos da região parados, em casa, no aguardo dos próximos passos da mobilização. Neste momento, diz, não há previsão de bloqueio na região.
“Não vejo chance de 2018 se repetir”
Presidente de uma cooperativa de Logística de Arroio do Meio, Adelar Steffler, minimiza os riscos de uma greve dos transportes aos moldes do que aconteceu em 2018. Ainda que seja necessário acompanhar os desdobramentos. “Agora temos de ver o que acontece.”
De maneira geral, dentro da cooperativa, afirma que os dois dias de mobilização trouxe pouca interferência sobre os transportes. Na análise dele, como se trata de atos pontuais, sem apelo de representações, há pouco campo para avançar. “Não vejo chance de 2018 se repetir. O que estamos vendo é uma manifestação popular pela crise política. Não é pontual dos transportes.”
Associação repudia bloqueios
A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC) lançou uma nota oficial na tarde de quarta-feira. A entidade manifesta repúdio às paralisações organizadas por caminhoneiros autônomos com bloqueio do tráfego.
No texto, a associação afirma que “trata-se de movimento de natureza política e dissociado até mesmo das bandeiras e reivindicações da própria categoria, tanto que não tem o apoio da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos.”
A NTC argumenta que o fechamento das estradas poderá causar transtornos à atividade de transporte, com graves consequências para o abastecimento de produção e comércio, atingindo a população.
“Esperamos que as autoridades do Governo Federal e dos Governos Estaduais adotem as providências indispensáveis para assegurar às empresas de transporte rodoviário de cargas o pleno exercício do seu direito de ir e vir e de livre circulação nas rodovias em todo o território nacional, como pressuposto indeclinável para o cumprimento da atividade essencial de transporte”, diz a nota.