Escassez de vidro desafia agroindústrias

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Escassez de vidro desafia agroindústrias

Baixa disponibilidade de embalagens afeta ritmo de produção e compromete oferta de alimentos no mercado

Escassez de vidro desafia agroindústrias
Agroindústria de Lajeado usa vidro verde para suprir falta da embalagem tradicional. Foto: Felipe Neitzke
Vale do Taquari

A falta de insumos para produção de embalagens limita e desafia o setor de alimentos. Nas agroindústrias a maior dificuldade está relacionada à escassez do vidro para conservas. Neste cenário, os empreendimentos se adaptam e buscam alternativas a fim de garantir a entrega dos produtos.

Uma das opções foi implementar o vidro verde, com maior disponibilidade nas distribuidoras. “Apesar de romper o padrão, essa embalagem não interfere na qualidade do produto”, explica o proprietário da agroindústria Codorni, João Bogorni. Ele atua faz dez anos no segmento de ovos de codorna em conserva, e essa é a primeira vez que tem dificuldades no envase.

A agroindústria localizada em Lajeado produzia em média 50 mil conversas por mês. Agora a produção está limitada a 28 mil unidades. A falta de vidro reflete também no ritmo da empresa. “Reduzimos um dia de trabalho na semana e as granjas também otimizaram seus processos para evitar perdas”, observa Bogorni.

Essa escassez de vidro ocorre há pelo menos seis meses e ainda não há uma previsão de quando vai normalizar. No caso da Codorni, o estoque de embalagens acabou faz três meses e está restrito à disponibilidade do fornecedor.

“É um problema que afeta todos, não é uma exclusividade nossa, mas diversos setores enfrentam a falta de componentes nos processos produtivos”, comenta Bogorni. A preocupação agora é com a alta demanda para o período de verão, melhor momento de vendas. Para evitar perdas será necessário que a disponibilidade das embalagens normalize até novembro.

Conservas Janaína, de Mato Leitão, inicia importação de embalagens. Foto: Divulgação

Custo de produção

Além da falta de insumos, as agroindústrias são desafiadas pelo aumento nos custos de produção. “O preço do papelão subiu 80%, a tampa metálica mais 40% e o vidro cerca de 35%. Não temos como repassar todo esse custo ao consumidor e por isso cada vez esmagamos nossa margem”, diz Bogorni.

Como alternativa para a falta de vidro e reduzir custos, aponta para o processo de reciclagem e reaproveitamento de material, no entanto, hoje ainda faltam investidores para oferecer o serviço. “No nosso caso ainda é mais barato comprar o vidro novo ao invés de recolher e encaminhar para o processo de higienização. Precisamos avançar neste aspecto”, sugere o proprietário da Codorni.

Origem do problema

As razões para a escassez de embalagens são diversas, é o que apontam os proprietários de agroindústrias. “É um conjunto de acontecimentos. Durante a pandemia, as indústrias reduziram o quadro de funcionários e a capacidade de produção, isso está refletindo agora. Além do que, faltam alguns insumos dos processos de fabricação”, destaca o sócio da Conservas Janaína, Alexandre Schmitt.

A agroindústria de Mato Leitão produz conservas de pepino e ovos de codorna. O empreendimento completa 28 anos e nunca passou por situação parecida. Nos últimos 90 dias também tiveram de vender seus produtos no vidro verde para garantir a entrega nos mercados.

Conforme Schmitt, a demanda se manteve e até aumentou e as indústrias de embalagem priorizaram itens de maior rentabilidade. “As grandes empresas cervejeiras acabaram absorvendo a maior parte dos vidros, além da necessidade também para ampolas de vacinas, uma necessidade mundial.”
Para driblar as dificuldades do mercado interno, Schmitt está em negociações para importar as embalagens. “No período de safra do pepino, a partir de novembro, nossa demanda é de 10 mil vidros por dia”, revela.

Há também uma preocupação com os produtores, diante das incertezas sobre a disponibilidade de embalagens, há receio de perdas. No caso do pepino, é um alimento altamente perecível que precisa ser processado em até quatro dias após a colheita.

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