“Criar mentiras é um quebra-cabeças”

ABRE ASPAS

“Criar mentiras é um quebra-cabeças”

Para Sergio Lorenzon, 74, mentira é coisa séria. Ele já participou de 16 das 18 edições do Festival da Mentira de Nova Bréscia. Em 14 ocasiões, foi finalista e venceu a competição, pela segunda vez no sábado passado. Lorenzon tem até um sócio para ajudá-lo a inventar as histórias.

“Criar mentiras é um quebra-cabeças”
(FOTO: Deise Delazeri Scartezini/Jornal Nova Bréscia)
Vale do Taquari

Quando começou a participar dos festivais da mentira?

Eu participo sempre dos festivais. Eu só não participei de duas edições. Eu morava no interior, ainda em 1982, quando fizeram o primeiro festival, fiquei sabendo no dia seguinte tinha ocorrido. Eu fiquei 14 vezes entre os 10 finalistas. Duas vezes campeão, duas vezes vice, duas vezes terceiro e duas vezes quinto.

Como foi a história vencedora nesta edição?

Eu sou o churrasqueiro de Nova Bréscia e fui contratado para servir o novo morador de Encantado. Um magrão com 37 metros de altura. Trabalho só a noite porque durante o dia ele tá com agenda cheia, com obras, e visitações. Ele é vaidoso, tão trabalhando na roupa dele. Para encurtar o caminho, peguei um atalho nas matas entre Nova Bréscia e Encantado, e um dia me deparei com o assassino Lázaro. Ele estava armado, mas com meu espeto consegui rebater todas as balas. No rala e enrola, ele roubou meu salário R$ 4,5 mil. Para comemorar que saí com vida do duelo, fiz uma fogueira muito alta, teve gente que achou que eram os satélites do Elon Musk.

Você mistura a mentira com notícias e fatos marcantes?

Eu sempre faço isso. A melhor mentira é a que você faz com os fatos mais recentes. Não adianta você contar com coisas que o povo não consegue associar. O povo também se identifica. A melhor mentira é em cima de fatos. Mas, com coisas impossíveis, como uma estátua comer churrasco.

Como foi a primeira vez que você participou?

A primeira vez eu fui atacado pelo nervosismo. Mas eu sempre fui desinibido pela conversa. Não foram os bancos de escola que me deram conhecimento, foi o mundo. Pessoas que gostam de dialogar com pessoas acabam aprendendo. Todos os candidatos que fazem parte, muitos poucos estão sozinhos. Sempre tem alguém que ajuda com uma coisa, ou com outra.

Ao longo dos anos, aprimorou as histórias?

A gente pega uma prática maior. Além da história, eu não tenho estudo. Meu sócio desde 2006, ele tem formação e estudo. Ele é mais técnico. Mas o principal ponto, para mim, é apresentação. É o quinto festival que nós estamos associados. Eu sempre fazia sozinho, mas aumentou muito a qualidade das histórias.

Você é um mentiroso premiado. Quando é a hora de contar a verdade?

Toda hora, no dia a dia. Quando somos bons cidadãos, em qualquer roda de amigos somos honestos. O meu costume é sempre ser muito sincero, nunca gostei de enganação. Não gosto nem de ouvir cascata. Quando escuto, eu despisto e pronto. Gosto da mentira, só mesmo para concorrer. Não é uma coisa feia, é muito educativa. É uma festa. Criar mentiras é um quebra-cabeças. Uma coisa impossível é mais difícil de criar do que os fatos possíveis.

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