A correta destinação dos dejetos de suínos evita danos ambientais. O que parece simples permanece como um desafios para evitar a contaminação do solo e do manancial hídrico. Neste sentido, entidades se mobilizam em busca de soluções sustentáveis.
Mesmo com maior rigor na fiscalização e engajamento do setor, ainda são corriqueiros os casos de destinação clandestina. Dados do Batalhão Ambiental da Brigada Militar (1° BABM) revelam que são em média cinco denúncias por mês. Esse levantamento considera os 38 municípios de abrangência da unidade de Estrela.
O quantitativo de manejo inadequado pode ser ainda maior. “Nem todas as situações são informadas às autoridades policiais”, alerta o comandante Adilson da Silva Brum. Segundo ele, a suinocultura é considerada como de alto impacto ambiental e o aumento de produção torna necessário medidas de destino adequado.
Esse debate em torno da sustentabilidade também foi retomado por conta da limitação de plantel. A região, que já se destaca no segmento, com cerca de 1,9 milhão de suínos, quer abrir margem de expansão.
Em busca de alternativas, líderes do Vale do Taquari foram ao Paraná conhecer os processos para transformar material orgânico, específico dos dejetos suínos, em fontes de energia limpa. Um dos exemplos é o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), em Foz do Iguaçu (PR).
Entidades engajadas
“Não conseguimos quantificar financeiramente os benefícios ambientais ao converter os dejetos em energia”, comenta o presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Luciano Moresco.
O líder regional ressalta a importância de transformar o passivo ambiental em ativo econômico, revertendo aspectos negativos em algo positivo. “Antes de ser viável, é inevitável. Não podemos mais tratar da forma como está. Alguma mudança precisa ocorrer”, observa o presidente do Codevat.
As iniciativas visitadas servem de inspiração para projetos no Vale. Conforme Moresco, será imprescindível o envolvimento da iniciativa privada. “Conhecemos uma das usinas que transforma os dejetos de 40 mil suínos em energia para abastecer 4 mil consumidores. A implantação custou cerca de R$ 7 milhões e o prazo do retorno econômico é estimado em cinco anos.”
O próximo passo das entidades será a elaboração de um estudo e contratar empresa para um plano de negócios. A própria CIBiogás tem expertise nesta área e vai contribuir na construção de modelos sustentáveis. “A tecnologia já existe, precisamos adaptar para nossa realidade”, acrescenta Moresco.
A participação de empresas para implantar uma usina de biogás também é defendida pelo coordenador regional do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), Marcos Hinrichsen. “O ideal é ter investidores que vão receber pela energia gerada. Isso resolve também o problema dos produtores”, cita.
Considerado desafiador, o projeto dependerá muito de uma análise logística. “Nossa realidade é parecida com a produção de suínos no Paraná. Precisamos encontrar a melhor forma de desenvolver esse potencial na área da energia”, observa Hinrichsen.
Aspectos ambientais
Pela análise do engenheiro ambiental Odorico Konrad, a retomada do debate sobre a correta destinação de resíduos da criação de suínos é um tema importante para o Vale do Taquari. “É um assunto que falamos há pelo menos 20 anos. Ainda assim, tem um impacto negativo no solo, córregos, arroios e rios”, aponta Konrad.
Conforme o engenheiro, o Tecnovates (Univates) possui um dos três laboratórios especializados em biogás e pode ser parceira nestas iniciativas. “Esse movimento dos líderes da região me parece uma articulação estruturada e engajada para pôr em prática o projeto de energia”, avalia.
Encantado é um dos municípios que busca soluções nesta área. De acordo com o prefeito Jonas Calvi, a Secretaria de Agricultura e o departamento técnico buscam tecnologia e processos para agregar na produção de suínos. “Observamos enorme potencial para gerar energia elétrica e veicular, além de resolver um problema ambiental”, pontua Calvi.