Desde quando o artesanato faz parte da sua vida?
Desde criança. Me lembro quando eu tinha uns 15 anos, eu e minha mãe fazendo crochê. Era aquela ideia, de preparar o enxoval. Antigamente, a menina aprendia artesanato para estar preparada para o casamento. Era algo do meu cotidiano por causa da mãe. Mais tarde, já adulta, casada, se tornou uma atividade para passar o tempo. Como um hobbie.
Depois disso, comecei aprender novas técnicas, como o pet work. Como os resultados estavam ficando bonitos, acabou se tornando uma forma também de conseguir uma renda extra.
O que representa ter hoje essa atividade como parte do cotidiano?
Muito. Sinto prazer em ver as pessoas gostarem do meu trabalho. Eu me satisfaço também fazendo as peças. Quanto mais produzo, mais quero fazer. Pensar que aquilo vai encher os olhos de alguém, é um sentimento tão incrível. Junto com isso, há essa importância financeira.
Além disso, há o convívio. As amizades que fazemos, tanto de outros artesão quanto dos clientes. Ter essa proximidade é algo muito bom.
A renda do artesanato é suficiente para se manter?
Não. Acho que ninguém consegue viver só do artesanato. É um complemento.
Dos 15 anos, quando fazia enxoval com a mãe, até hoje, o que as peças levam da tua personalidade? O que aprendeu neste caminho?
Aprendi muito. Seja de novas técnicas, de como aplicar as ideias, até no próprio convívio com os outros. O artesanato me dá uma possibilidade de fazer algo único, algo exclusivo. Dentro do nosso grupo mesmo, nos aproximamos muito para trocar experiências. E o legal nisso é ver que cada integrante tem o seu jeito de fazer. Tem os seus traços pessoais naquilo. Eu, por exemplo, nunca faço nenhuma peça idêntica a outra.
Há um paradoxo no que se refere ao artesanato. Por um lado, percebe-se uma redução no número de jovens interessados nisso. Em outro, as peças se tornam objetos “cult”, ligados a movimentos de fortalecimento da arte. Como avalia isso?
As meninas não fazem mais enxoval para casamentos (risos). Isso que fez parte da minha infância mudou e dá uma ideia de como, sim, há uma perda de interesse dos mais jovens. Só que, há outras técnicas voltando, como os bordados. Acho que vai retornando aos poucos. Acredito que precisamos valorizar o artesanato. Aqui no sul é diferente. Há quase que um preconceito. Pois quando se vai ao Nordeste, vemos que aquilo faz parte da cultura local. Aqui ficamos um pouco escondidas.