A consolidação dos dados coletados pelos painéis do programa Campo Futuro aponta que as margens de lucro obtidos pelos produtores na safra 2020/2021 foram históricas, mas não devem ser mantidas para a próxima.
O levantamento é da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com a Federação da Agricultura do Estado do RS (Farsul) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O trabalho consiste na análise das informações obtidas a partir da realidade produtiva apresentada pelos produtores. O economista da Farsul, Ruy Silveira Neto, integra a equipe técnica do estudo. “Percebemos que os custos aumentaram bem mais que a inflação oficial do país. Porém, a trajetória do aumento de preços e a recuperação da produtividade frente à seca do ano passado fez com que a receita bruta fosse alta e as margens fossem bem largas para safra 2020/2021”.
Para Neto, os custos seguem a trajetória de aumento, enquanto os preços já apresentam uma tendência de estabilidade. “Isso pode ocasionar, no futuro, que o custo comece a convergir para perto da receita e as margens fiquem cada vez mais estreitas até a próxima safra”, avalia.
No caso da soja, principal commoditie no estado, as sementes registraram um aumento de 38%. Conforme Ruy Silveira Neto, isso aconteceu porque os valores de sementes estão relacionados com a taxa cambial.
A lavoura de soja, no total, ficou 13% mais cara na relação entre as duas safras recentes. Porém, os custos seguem acelerando. Se na última, para cobrir todos os custos, o saco da soja deveria ser comercializado por, no mínimo R$ 67, atualmente esse valor saltou para R$ 85.
A safra de milho recuperou a perda da produtividade na comparação com 2019/2020, mas ainda está distante do potencial. “Mesmo não tendo uma produtividade excepcional, é a cultura que melhor responde em relação à margem bruta”, comenta Ruy Silveira.
A principal razão está na alta de 72% no preço do grão. Entretanto, os custos de produção mantêm o movimento de elevação. Desse modo, o valor mínimo do saco para cobrir os custos que era de R$ 34,87 na última safra, teria que passar para R$ 44,47 atualmente.
“Quando tem preço o produtor se estimula”
O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, participou nesta semana do programa A Hora Bom Dia, para falar sobre o incentivo para a segunda safra dos produtores, tendo em vista o desafio dos grãos para a economia
Mesmo sendo o segundo maior produtor de grãos do país, o RS tem seis milhões de hectares plantados na primeira safra, no entanto, parte desse espaço fica desocupado após a colheita, sendo apenas 1,9 hectare ocupado.
Com déficit de sete toneladas para abastecimento da avicultura e suinocultura, se estuda o estímulo ao agricultor para a produção de grãos também na segunda safra. As tecnologias da Embrapa também são levadas ao agricultor como forma de incentivo para incrementar a produção. O presidente acredita que esse avanço no inverno ainda não tenha acontecido por falta de preço. “Quando tem preço o produtor se estimula”, pontua.
Pereira acredita que com os bons resultados do trigo neste ano o produtor deve ter expandido sua área em 20%. Caso isso seja colocado em prática, a expectativa é que ocorra um incremento de R$ 12 bilhões para a segunda safra.
ALTA NOS CUSTOS
38% preço das sementes
20% operação mecânica
14% juros de capital de giro
13% custo operacional
44% administração da propriedade
53% transporte
Fonte: Farsul